Manifestação contra a pobreza em Luanda durou até à meia-noite

Brigadeiro Mata Frakuz (centro), um dos dinamizadores da manifestação, levado pela polícia. Após breve detenção, regressou ao local.

Polícia deteve e libertou manifestantes que regressaram prontamente ao centro da capital. Conhecidos músicos entre os manifestantes

A manifestação em directo

Uma manifestação contra a pobreza, quarta-feira, em Luanda, organizada pelo Movimento Revolucionário de Intervenção Social (MRIS), foi dispersada pela polícia que surgiu em força apoiada por helicópteros, mas a manifestação prosseguiu depois da detenção temporária dos líderes da iniciativa.

Num jogo do gato e do rato, as autoridades conduziram os detidos para diferentes esquadras onde, antes que estes pudessem ter terminado o processo de identificação, representantes do MPLA acorreram sugerindo a sua imediata libertação.

A detenção do presidente do MRIS, Luís Bernardo "Matéria Orgânica", deu-se na terça-feira à noite, na sua residência, alegadamente por ameaça e porte ilegal de arma de fogo. Mas, no local da manifestação, na Praça da Independência, em Luanda, foram presas outras figuras populares, casos do Brigadeiro Mata Frakuz (Ikonoklasta ou Luati) e outros elementos do movimento, como Jang.

Nfuka Muzemba da JURA (Juventude da UNITA) recebe ordens da polícia para abandonar o local da manifestação

A ordem inicial de dispersar dada pela polícia foi acompanhada da apresentação de uma carta do Governo Provincial de Luanda, com data de 19 de Maio, e da qual os organizadores não tinham prévio conhecimento, a desautorizar a iniciativa.

À hora prevista para o início da manifestação, 13h00 horas de Luanda, estavam concentradas na Praça de Independência mais de uma centena de pessoas, algumas empunhando cartazes com palavras de ordem contra a "Pobreza Extrema" em Angola.

A polícia interveio quando algumas dezenas de manifestantes se concentraram na praça afirmando que o governo provincial tinha dado ordens proibindo o ajuntamento.
A recusa dos manifestantes em abandonar o local levou a confrontos com a polícia que procedeu à detenção de várias pessoas e o seu envio para diversas esquadras.

Elsa Luvualu foi detida durante a manifestação de 25 de Maio e após ser libertada, pouco depois, regressou à manifestação.

Um dos organizadores da manifestação “Carbono” Casimiro disse á Voz da América que “a lei está do nosso lado” porque o governo provincial tem que informar os signatários da notificação da manifestação das razões porque esta não se pode realizar.
Isso não foi feito apesar da notificação ter sido entregue há bastante tempo, disse ele.
“Carbono” Casimiro acrescentou que as pessoas detidas na manifestação não foram maltratadas nas esquadras da polícia onde ficou claro que a intenção das autoridades era “queimar tempo e dispersar os manifestantes”. Ouça as declarações de "Carbono Casimiro"

Carbono Casimiro fala



Justino Pinto de Andrade, presidente do Bloco Democrático foi entrevistado pela Voz da America no local da manifestação e disse que esta era um indicio claro que "as pessoas começam a perder o medo".

Pinto de Andrade fala

A UNITA criticou já a actuação violenta da polícia angolana contra os manifestantes. A posição do principal da oposição foi expressa por Alcides Sakala, porta-voz da UNITA, apoiando os manifestantes e adiantando que o seu partido irá formalizar um protesto no Parlamento, criticando o excessivo uso da força por parte da polícia enviada para o local.

Alcides Sakala fala

O secretário de Estado angolano para os Direitos Humanos, Bento Bembe, estava em Cabinda quando se pronunciou sobre a manifestação de Luanda. Bembe diz que o seu governo não proíbe manifestações, mas sublinha que, por vezes, o povo excede-se.

Bento Bembe fala