O ministro do Interior da Líbia, Abdel Fatah Younes, demitiu-se e exortou o exército a juntar-se ao povo na revolução e apoiar as suas «exigências legítimas». Ao mesmo tempo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas divulgava uma declaração em que exigiu o fim imdiato da violência.
O Conselho, "condena a violência e o uso da força contra civis, deplora a repressão de manifestações pacíficas, e lamenta profundamente a morte de centenas de civis". Apesar de a linguagem ser dura pelos padrões diplomáticos, a declaração do Conselho não tem a força de uma resolução formal.
A secretária de estado, Hillary Clinton, manifestou "alarme" face à situação na Líbia, e descreveu o que se passa como "um banho de sangue inaceitável". No entanto, tal como o Conselho de Segurança da ONU, não anunciou medidas concretas.
Na sua declaração, o ministro do Interior, Abdel Fatah Younes anunciou que "abandono todas as minhas funções para responder à revolução de 17 de Fevereiro baseado na minha total convicção e na legitimidade das suas exigências. Peço ao exército líbio para servir o povo e apoiar a revolução de 17 de Fevereiro".
Esta declaração foi divulgada pela televisão al-Jazeera, horas depois de um discuyrso em que o Coronel Muammar Kadhafi recusou demitir-se, disse que a Líbia é uma criação sua e morrerá, por ela, como um mártir e ameaçou esmagar os revoltosos.
Ele considera-se como "um guia" e como tal e segundo as suas próprias palavras, "está acima da função de presidente". Sublinha Kadhafi que ele não ocupa o cargo de presidente para que dele se demita, e passo a citar: “Kadhafi é chefe da revolução, o sinónimo de sacrifício até ao fim da vida. É o meu país e o dos meus pais ancestrais.”
Kadhafi ameaça os manifestantes com pena de morte, e descreve-os como "ratos de esgoto ao serviço dos estrangeiros", "drogados", "carochas", "islamitas" e "cobardes que aplaudem os Estados Unidos". Exorta os seus apoiantes a saírem à rua para travar os protestos.
Apesar dos insultos, Kadhafi prometeu reformas políticas como a revisão da constituição, da sociedade civil e da justiça, mas não deixou claro o alcance dessas reformas, nem se haverá um diálogo exterior à elite do regime para determinar o que será mudado.
Quanto à situação no país, ele contínua mobilizado apesar da repressão militar. A televisão líbia mostra entretanto imagens de multidões pro-governamentais, continuando a ignorar os manifestantes anti-governamentais e a chacina dos últimos dois dias.
Testemunhas em Tripoli descreveram a situação hoje na capital como calma mas tensa, com falta de alimentos e tiros esporádicos.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se esta manhã para debater a situação na Líbia, onde na véspera as forças de segurança se tinham engajado numa luta sem mercê para proteger o regime. A reunião, em Nova Iorque, deverá prosseguir durante a tarde e noite.
As notícias que chegam ao exterior indicam que foram recrutados mercenários do Chade e do Uganda para reprimir os manifestantes. De acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, cerca de três centenas de pessoas foram mortas vítimas da repressão militar entre domingo e segunda-feira em Tripoli.
A televisão líbia indica que as forças de segurança estão a atacar os refúgios dos que chamam de sabotadores. A mesma fonte citou o filho do Coronel Kadhafi, Saif al-Islam como tendo dito que os aviões militares só atacaram as reservas de munições na cidade - o que foi desmentido por relatos de testemunhas.
Hoje os países da União Europeia prosseguiam as operações de repatriamento dos seus cidadãos no território líbio. Várias empresas e companhias petrolíferas anunciaram a suspensão de suas actividades por recearem a escalada da violência.
Milhares de líbios e de cidadãos dos países vizinhos como a Tunísia e o Egipto estão a atravessar a fronteira para o exterior do país, em busca de refúgio.
Vários diplomatas líbios anunciaram a sua demissão em solidariedade com o povo. Depois do embaixador na Índia, o exemplo foi seguido pelos embaixadores líbios aqui em Washington, Paris e na UNESCO. Ontem o ministro da justiça Moustapha Abdel Jalil tinha-se demitido em protesto a repressão militar.
No mundo árabe vários grupos extremistas entre os quais o palestiniano o grupo palestiniano Hamas, que dirige desde 2006 a Faixa de Gaza, criticou a decisão de Muammar Kadhafi em reprimir os seus opositores.
Uma outra crítica sonante é a do clérigo muçulmano Sheik Yusuf Qaradawi emitiu um decreto religioso exortando ao assassínio de Muammar Kadhafi.
Qaradawi, Presidente da Associação Internacional dos Académicos Islâmicos, e apresentador do programa "A Sharia e a Vida", na televisão al-Jazeera, disse que o dirigente líbio "quer aniquilar o seu próprio povo" e exortou a "matarem-no e aliviarem o povo deste fardo".