O anúncio da saída de cena da vida política activa do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, continua a suscitar debates e várias interpretações em vários círculos da sociedade angolana.
Analistas avançam que a saída da vida polítia activa de dos Santos poderá resultar num colapso político no seio do MPLA, a julgar pela falta de preparação dos seus para um processo de transição.
Para Agostinho Sikato, Coordenador do Centro de Debates Académicos, o anúncio coloca três cenários difíceis de serem exercitados que têm que ver com a realização de dois congressos em simultâneo pelo MPLA e a realização de um ajuste político, que para já no actual cenário não se aconselha.
“Se o MPLA o exigir a continuar como líder ele terá a prerrogativa de mesmo não querendo trabalhar ninguém o pode apontar o dedo. O segundo risco é que o MPLA terá de realizar dois congressos em simultâneo, um em Agosto e outro que terá de aconter, quer queira, quer não, em 2018 porque o seu líder terá de abandonar a vida política”.
Quanto ao terceiro cenário, “vamos encontrar aqui um precendente que será necessário fazer um ajuste político. O cenário político nos diz que não é correcto nem sensato fazer um ajuste político”, disse.
Joaquim Nafoya, militante da UNITA, entende que a intenção do Presidente angolano ao manifestar a ideia de deixar a vida política activa é estratégica e visa desviar as atenções sobre a situação económica do território nacional.
Para o analista o actual modelo económico, político e socail do país “ruiu”, tendo desarticulado os vários sistemas sociais de Angola, o que faz com tudo corra a desfavor do titular do poder executivo do Estado angolano.
“O modelo político ruiu, hoje nom eai este governador, não dá certo amanhã nomeia outro, troca os governantes comos e fosse um “biquini”.
Nafoya julga que José Eduardo dos Santos está a passar por uma situação delicada já que parte dos seus supostos parceiros estrangeiros estão a contas com a justiça nos seus respectivos países, tal é o caso de Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, o empresário chinês Sam Pa, o antigo líder do BES Portugal, Ricardo Salgado, o publicitário brasileiro Sérgio Santana entre outros.
“Todos aqueles amigos com que o Presidente José Eduardo dos Santos lida, têm problemas nos seus respetivos países”, disse.
Ao longo dos seus 37 anos de liderança de Angola e do MPLA José Eduardo dos Santos está a viver agora o seu pior mandato desde 2012, já que, a medida que o tempo passa o presidente do partido dos camaradas vai perdendo cada vez mais a confiança dos seus militantes.
Agostinho Sikato refere que Eduardo dos Santos fez uma leitura perfeita desta situação, daí o seu anúncio, que para já, diferente dos contextos anteriores já não terá margens para um possível recuo na sua decisão.
“A verdade que vai ser patente aqui é uma: é que ao contrário das vezes anteriores já não vai ser possível voltar já não vai possível dizer que não poderei abandonar a vida política activa”, diz o analista para quem a realidade actual demonstra que a sociedade tem um despertar diferente, se comparado com o panorama em 2003 a quando do primeiro anúncio de retirada da vida política feito por dos Santos.
Em relação aos possíveis substitutos na Presidência da República e do MPLA Joaquim Nafoya descarta a possibilidade ser Manuel Vicente, vice-presidente da República, e aventa por isso, a hipótese da aposta ser feita José Filomeno dos Santos, filho de Eduardo dos Santos, actualmente a exercer as funções de Presidente do Conselho de Administração do Fundo Soberano de Angola.
“O filho neste ongresso vai passar para Comité Central. O filho é uma aposta muito forte, porque ele cometeu muitas atrocidades económicas e sociais”.
Embora tenha anunciado a sua retirada da vida política activa, na reunião realizada a 11 de Março, o Comité Central do MPLA indicou José Eduardo dos Santos como candidato único a sua própria sucessão ao Congresso que terá lugar em Agosto deste ano.
Mesmo que José Eduardo dos Santos decida abandonar a liderança do seu partido, os estatutos do MPLA atribuem a responsabilidade de indicação do líder aos participantes do Congresso. A ser indicado pelos camaradas no conclave Eduardos Santos deverá manter-se no cargo por mais tempo.
Porém, ao se concretizar a sua saída, Joaquim Nafoya julga que a gestão económica do país estará sob a responsabilidade dos seus filhos que actualmente “controlam as empresas estratégias do país”.
“O Presidente não tem razão para falar sobre a falência e a gestão danosa das empresas públicas quando ele próprio é que nomeia os presidentes dos conselhos de administração e neste momento não temos informação que algum deles está detido ou a contas com a justiça”, disse o político para mais adiante referir que “a partir do discurso do colapso das empresas públicas, José Eduardo dos Santos, está a preparar Manuel Vicente a favor do seu filho".
"O Presidente poderá partir deixando a direcção do país e a gestão económica nos filhos”, concluiu.
"A saída de dos Santos estará a animar aqueles cuja intenção nunca manifestada seja liderar o país". Por esta razão, Agostinho Sikato salienta que por esta altura haja quem esteja “a esfregar as mãos de contente”, já que o campo da candidatura e liderança tanto do país como do MPLA fica aberto para todos.
Em face deste cenário sensível, o académico faz um apelo para a necessidade de um “cuidado especial” com os militares de modo a se evitar uma revolta nesta classe onde alegadamente reside o poder em Angola. Para tal, o analista entende que se deve garantir uma transição pacífica.