O anúncio do Presidente angolano José Eduardo dos Santos que tenciona abandonar a vida pública em 2018 indica que “a sucessão dinástica já começou” e que "uma nova fraude eleitoral está a ser preparada".
Essas afirmações foram feitas nesta sexta-feira, 11, no programa da VOA Angola Fala Só pelo analista e professor universitário Nélson Pestana Bonavena e a jurista Lisdália Castilho, respectivament.
“Eu vejo o futuro imediato com bastante apreensão porque isto poderá ser o início de mais eleições fraudulentas”, disse a jurista, adiantando estar "muito apreensiva", já que durante a sua "longa permanência no poder tem manifestado uma desobediência absoluta aos órgãos de soberania”.
Por seu lado, Nélson Bonavena, que também participou no programa, fez notar que o Presidente anunciou que tenciona abandonar a vida pública em 2018 quando o seu mandato termina em 2017, enquanto, ao abrigo da lei, um novo Presidente deve ser empossado até 15 de Outubro de 2017.
"Isto indica claramente que o Presidente está certo da vitória nas eleições de 2017", disse o analista, que acrescenta: "partindo do princípio que ele tem o monopólio da fraude não está em causa o resultado (das eleições de 2017)".
Para o também professor universitário, a grande pergunta "é quem vai ser o segundo da lista, quem vai ser vice-presidente em 2017 e que será, portanto o próximo Presidente”, lançou Bonavena no debate, antes de afirmar "não ser este um mistério porque é intenção do Presidente colocar um dos seus filhos como vice-presidente para o suceder.
Nesta linha de pensamento, asseverou aquele académco, "a sucessão dinástica não é uma especulação, é o resultado de uma análise da economia política”.
Para ele, a sucessão dinástica já está a acontecer, é uma sucessão silenciosa” e, nesse sentido, continua, o Presidente iniciou a nomeação de novos dirigentes do aparelho de Estado e das principais empresas, precisamente com quadros que são “da geração do seu próprio filho”.
Nélson Bonavena adiantou que o José Eduardo dos Santos anunciou que o próximo congresso vai renovar a direcção do partido em 45 por cento e que são esses novos dirigentes que vão estar no Comité Central e "vão colocar o filho em segundo lugar” nas listas eleitorais.
Num debate animado com ouvintes e outros que acompanhavam o programa transmitido através do Facebook, Lisdália Castilho destacou que o anúncio do Presidente deve já ter colocado os círculos poder “numa roda viva”, mas lembrou que, no passado, todos que se apresentaram como eventuais sucessores de José Eduardo dos Santos foram afastados.
Nese momento, "deve haver grande agitação” nos círculos do poder, completou Bonavena, para quem “todos querem certamente chegar ao Comité Central e ser o segundo da lista”.
“Mas na minha convicção devem tirar o cavalinho da chuva porque o segundo da lista está escolhido há muito tempo”, sentenciou o professor.
A concluir, Nélson Bonavena adverte que vai haver muita movimentação no seio do partido no poder, "mas o próximo congresso vai consolidar esta manobra de sucessão dinástica com a entrada de 45 por cento de novos “yes men”.