A administração americana exigiu ao governo paquistanês explicações sobre o refúgio de Bin Laden durante seis anos numa cidade militarmente guarnecida do Paquistão.
A iniciativa do governo americano procura responder as criticas sobre o papel do Paquistão na partilha de informações secretas, isso numa altura que aumentam as exigencias mesmo em Islamabad para a apresentação de provas visuais da morte do líder da al-Qaida.
A Casa Branca aproveita o meomento para corrigir igualmente os detalhes do assalto ao complexo residencial de Bin Laden.
O ataque do comando americano ao esconderijo de Bin Laden animou os espíritos, mas as circunstâncias que conduziram a morte do líder da al-Qaida parecem agora ensombrar o governo americano.
Numa primeira declaração sobre a ocorrência membros da administração Obama afirmaram que Bin Laden foi morto ao tentar combater os seus invasores e que na ocasião terá mesmo usado uma mulher como escudo humano.
Menos de 48 horas depois, o governo americano dá o dito por não. Jay Carney é porta-voz da Casa Branca e tentou ontem esclarecer as dúvidas a respeito.
“Bin Laden e sua família foram encontrados no segundo e terceiro pisos do edifício. Houve receios de que ele pudesse se opor a sua captura, e de facto, foi o que fez. No quarto com Bin Laden estava a sua mulher que avançou contra o comando americano e foi atingida numa perna, mas não morreu. Bin Laden foi de seguida baleado e morreu. Ele não estava armado.”
O porta-voz da Casa Branca não explicou se o líder da al-Qaida terá resistido e em quê consistiu essa sua resistência.
Na conferência de imprensa de ontem, Jay Carney adiantou que o governo americano ainda estava a discutir se deve ou não publicar a fotografia de Bin Laden depois de baleado pelos comandos, uma prova visual que o mundo exige nesta altura.
Ao mesmo tempo que a administração Obama regala-se do incontornável sucesso da operação que conduziu a morte do líder da al-Qaida, a sua relação com Paquistão, o seu maior parceiro regional na luta anti-terrorista está a ser ensombrada por críticas ao duplo papel jogado por Islamabad na perseguição de Bin Laden.
Responsáveis americanos particularmente no Congresso queixam-se do facto do líder da al-Qaida ter encontrado refúgio precisamente numa cidade militar paquistanesa, a menos de dois quilómetros de uma academia militar. Os mesmos interrogam-se se Bin Laden estava ou não em conivência com o governo ou senão com os chefes militares paquistaneses. O congressista republicano, Peter King confessa-se desiludido e diz que as relações com o Paquistão atingiram um ponto decisivo.
“Esta é obviamente uma importante relação, mas ela mudou, desde Domingo, penso eu. Portanto esta vai ser a parte das negociações… dos encontros entre os paquistaneses, a administração Obama e o Congresso.”
A congressista democrata Jackie Speier é muito mais categórica.
“Por todo esse dinheiro que temos gasto, como podemos desenvolver uma relação de confiança com um presidente do governo paquistanês fraco, e um serviço secreto que é maroto.”
Do lado paquistanês as respostas as preocupações levantadas pelos políticos americanos, até chegaram em antecipação. Num artigo de opinião publicado na edição de ontem do jornal The Washington Post, o presidente Asif Ali Zardari detalha os esforços do seu governo na luta contra o terrorismo e nega todas as sugestões de que as autoridades paquistanesas tenham dado protecção a Bin Laden.
Para o primeiro-ministro do Paquistão, Yousuf Raza Gilani, o lapso dos serviços secretos do seu país, representa uma falha de todo o mundo, isto numa referência a partilha de informações com os serviços de inteligência americanos.
A Secretária de Estado Hillary Clinton, acabaria por reconhecer essa partilha de responsabilidades, na Segunda-feira quando referiu que a cooperação paquistanesa ajudou para a localização de Bin Laden.
Enquanto as duas partes procuram justificações às eventuais falhas de confiança ou de partilha de informações, o general do exército paquistanês, Ashfaq Kayani, faz a sua prova de pragmatismo ao reagir a morte do líder da al-Qaida.
“Nós nas forças armadas do Paquistão estão completamente ao corrente das ameaças internas e externas contra o nosso país. Foi destruída a retaguarda de apoio ao terrorismo.”
Mas a crispação crescente entre os Estados Unidos e o Paquistão em torno da presença de Bin Laden durante seis anos em Abbottabad está longe do fim. No encontro de ontem com Mark Grossman o enviado especial americano para o Afeganistão e Paquistão, o ministro dos negócios estrangeiros paquistanês, Salman Bashir deu conta daquilo que descreve como profunda preocupação e reservas do seu governo sobre a forma como os americanos levaram a cabo a missão que conduziu a morte de Bin Laden.