Movimentos de protestos em quatro países árabo-muçulmanos prosseguiram hoje com notícias de mortes e de confrontos entre grupos anti e pró-governamentais.
No Bahrein e no Iémen há relatos de confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes, enquanto na Líbia e na Argélia os opositores ao regime mobilizam-se para mais manifestações nos próximos dias.
É na Líbia onde a situação foi mais precária hoje com a notícia de morte de pelo menos seis pessoas na cidade de Benghazi. Trinta e cinco outras pessoas ficaram feridas no protesto organizado por advogados diante do edifício do tribunal exigindo reformas políticas.
Enquanto isso centenas de apoiantes do presidente Mohamar Kadhafi concentraram-se hoje em Tripoli, o dia que os activistas da oposição tinham apelado para uma jornada de protestos contra o governo, a semelhança da Tunísia e do Egipto.
A Agencia de notícias Associeted Press cita sites da oposição e de activistas segundo as quais os anti-governamentais desafiaram a repressão policial reunindo-se em quatro cidades do país. A Organização Não-governamental americana, Human Rights Watch indicou que as forças de segurança prenderam pelo menos 14 pessoas momentos antes do inicio dos protestos.
Líderes da oposição líbia no estrangeiro e grupos de direitos humanos estão a recorrer a redes sociais na internet apelando a manifestações contra o governo depois da repressão policial de ontem.
Na Argélia, o primeiro-ministro Ahmed Ouyahia anunciou que o estado de emergência em vigor há 19 anos vai ser levantado no final deste mês.
Este anuncio vem a seguir a um comunicado do ministro dos negócios estrangeiros, Mourad Medelci, que afirmou a uma rádio francesa que o estado de emergência iria ser suprimido no final do mês.
Activistas da oposição confirmaram entretanto para este Sábado a realização de uma manifestação de protesto em Alger, a semelhança do passado fim-de-semana, em que cerca de 2000 pessoas desafiaram a lei de interdição de protesto na capital.
No Bahrein, foram registados hoje confrontos entre os pro-democracia e os apoiantes do regime monárquico de Hamad al-Khalifa.
As forças armadas anunciaram ter assumido o controlo parcial da capital, depois de tumultos registados esta manhã quando a polícia tentava escorraçar os manifestantes da Praça Manama.
As forças de segurança recorreram a gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar o grupo de manifestantes na sua maioria chiitas incluindo homens e crianças que vêm ocupando a Praça desde Terça-feira.
O partido da oposição Al-Wefaq da maioria chiita anunciou ter abandonado o parlamento em protesto a actuação do governo que provocou quatro mortes entre os manifestantes.
No Iémen houve também confrontos entre grupos pro-governamentais e os opositores do regime. Desde Sexta-feira que iemenitas pro-democracia têm saído a rua exigindo a demissão do presidente Ali Abdullah Saleh no poder há 32 anos.
Testemunhas disseram que cerca de 1500 manifestantes anti-governamentais concentraram-se na Universidade de Sanaa na capital e foram alvos de ataques de elementos leais ao governo munidos de bastões e punhais. Dezenas de pessoas ficaram feridas nos confrontos.
Ontem Quarta-feira, pelo menos uma pessoa ficou ferida nos embates entre a polícia e os manifestantes na cidade de Aden ao sul do Iémen.
Enquanto isso, e na Tunísia, uma fonte familiar do antigo presidente tunisino Zine Bem Ali disse que o esmo está em coma depois de ter sofrido um ataque cerebral. Bem Ali foi hospitalizado há dois dias em Jeddah na Arabia Saudita.
O presidente do Supremo Tribunal do Irão disse que o governo vai impedir os líderes da oposição em apelarem a manifestações, isso numa altura que activistas pró-democracia anunciam protestos por todo o país no Domingo.
A declaração do Ayatollah Sadeq Larijana foi feita hoje em Teerão na véspera de um protesto pro-governamental. Responsáveis disseram que essa manifestação organizada pelo governo ira demonstrar o que chamam de ódio contra o movimento de oposição no país.
Essa onda de movimentos pró-democracia no mundo árabo-muçulmano está longe de obter resultados plausíveis como no Egipto e na Tunísia. Esta é pelo menos a apreciação de Paulo Gorjão especialista em política internacional do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança.
Para Paulo Gorjão esses movimentos ainda não galvanizaram os apoios populares suficientes para beneficiar da complacência das forças armadas, que é a condição de base para o sucesso dos protestos.
Oiça a análise de Paulo Gorjão...