O diário de prisão do activista luso-angolano Luaty Beirão será publicado em livro pela editor portuguesa Tinta-da-China no final de Novembro, confirmou à VOA o autor e um dos17 activistas angolanos condenados pelo Tribunal Provincial de Luanda pelos crimes de rebelião, tentativa de golpe de Estado e associação de malfeitores, agora aministiados numa iniciativa que visou celebrar os 40 anos de independência do país.
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O diário do activista de 34 anos, uma das vozes mais críticas do Governo, contém 100 páginas que foram escritas em 13 dias.
A abrir a obra, Beirão conta o episódio do primeiro dia em que chegou à prisão.
“Um grande aparato e os policias apanharam-me na DNIC, tentaram enfiar-me um pano na cabeça como se tratasse de um criminoso dizendo que era para a minha protecção e levaram-me para um mini-autocarro onde havia como uma jaula, que parecia um caixão na vertical, em que não podia nem esticar o braço”, revela o activista que, “ao chegar ao Estabelecimento de Calomboloca, vi o director e toda a equipa dos Serviços Prisionais e senti-me como um grande criminoso, um Pablo Escobar”.
Estes e muitos outros episódios constam da obra que, no entanto, não terá tudo o que ele escreveu porque conseguiu salvar apenas um bloco já que “o resto a prisão roubou”.
O rapper angolano conta que “quando se está numa cela de dois metros por três muito pouco se pode fazer para manter a cabeça ocupada, a leitura e a escrita era um dos escapes”.
Luaty Beirão, no entanto, garante que nunca pensou escrever um livro, “até porque tem alguns descuidos de linguagem”.
O bloco que Beirão conseguiu salvar refere-se a um periodo de 13 dias em Julho de 2015, mas a obra vai incluir também uma entrevista, em que aborda a greve de fome e o resto dos dias na prisão, concedida ao jornalista português Carlos Vaz Marques.
O activista diz que vai continuar a lutar pela rejeição da aministia e por isso não sabe se estará presente no acto de lançamento em Lisboa.
Luaty Beirão é um dos 17 activistas detidos em Junho de 2015 em Luanda e condenados em Março deste ano a penas de prisão entre dois anos e três meses e oito meses e meio por rebelião, tentativa de golpe de Estado e associação de malfeitores. Colocados em liberdade pelo Tribunal Supremo, enquanto aguardavam o recurso, foram agora abrangidos por uma amnistia geral.