A menos de 24 horas do início da leitura da sentença do caso "dívidas ocultas", a expectativa é enorme porque as pessoas querem ver como é que a justiça moçambicana, bastante descredibilizada junto da opinião pública, vai posicionar-se perante este encândalo financeiro que lesou o Estado em cerca de 2.2 mil milhões de dólares.
Mesmo com a sentença e condenações, coloca-se a questão: como recuperar os bens do calote.
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Após as sessões de julgamento, gerou-se no seio da opinião pública a percepção de que a justiça começa a livrar-se das amarras do Poder Executivo, criando alguma tranquilidade no sentido de que, afinal os crimes de colarinho branco podem ser penalizados, tendo em conta as figuras embelmáticas que foram e/ou ainda estão a ser julgadas.
Veja Também Dívidas Ocultas: Reina expectativa sobre a sentença dos 19 arguidosEntre elas figuram Ndambi Guebuza, filho do antigo Presidente Armando Guebuza, Gregório Leão, ex-director-geral da secreta, António do Rosário, ex-director da Inteligência Económica dos serviços secretos, e Inês Moiane e Renato Matusse, secretária particular e Conselheiro Político do antigo estadista , respectivamente.
O sociológo Moisés Mabunda considera que o julgamento dos 19 arguidos correu com um grande nível e a acusação do Ministério Público foi bem trabalhada, mas anota tentativas de sabotagem do trabalho do juíz, no início do processo, e realça que apesar disso, "ele conseguiu conduzir bem o julgamento".
Veja Também Dívidas Ocultas: Arresto de bens dos arguidos debatido hoje no tribunalAquele analista político espera que a sentença esteja também a um grande nível, ou seja, que se elabore um texto que satisfaça as pessoas, "até porque este é um momento muito importante para o Estado moçambicano, que é a demarcação de actos de corrupção e de traficâncias, porque uma sentença credível fará com que a credibilidade do Estado e do país recupere".
Mas este não é o entendimento do investigador Borges Namire, porque "não será com este único julgamento que o Estado vai recuperar a sua credibilidade, a imagem do país está muito destruida e não e isso não se recupera apenas com este julgamento, que até se vai arrastar por muito tempo, porque haverá recursos".
Veja Também Moçambique: O caso "dívidas ocultas" e a independência ou não da JustiçaPara além disso, Borges Namire tem também outra preocupação, relacionada com a recuperação dos bens conseguidos com o dinheiro das dívidas ocultas, uma vez que o Gabinete de Recuperação de Activos funciona a meio gás.
"Sinto que o tribunal vai ter que ser mais sério no sentido de apreensão de todos os activos que foram identificados como sendo das dívidas ocultas, e creio que lá foram ainda há muitos por recuperar", realça aquele analista político.
Moisés Mabunda fez notar que já iniciou o processo de recuperação de activos, "mas é importante que esse trabalho continue e que os condenados sejam obrigados a ressarcir o Estado ou os moçambicanos naquelas quantias não justas, digamos assim".
Veja Também Dívidas Ocultas: Arguidos reiteram inocência no último dia do julgamentoPara o também analista político Hilário Chacate, o juíz está numa posição delicada porque adiou por alguns meses a leitura da sentença, provocando especulações diversas e agora as pessoas querem ver como é que ele se vai posicionar perante este caso que "lesou a imagem do país a nível internacional e a dinâmica da economia nacional".
Ele recorda que na sequência da descoberta das dívidas ocultas, "os parceiros internacionais abandonaram-nos e entramos numa situação de colapso económico".
A sentença que começa a ser lida na quarta-feira, 30, só terminará no domingo.