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A reforma agrária de Mugabe: Camponeses podem ser expulsos


Familiares de trabalhadores expulsos tomam o pequeno almoço à berma de uma estrada.
Familiares de trabalhadores expulsos tomam o pequeno almoço à berma de uma estrada.

Dez anos depois, milhares de desempregados arricam-se a ser expulsos das terras em que trabalharam durante mais de 40 anos

Passaram-se mais de dez anos desde que o governo presidente Robert Mugabe começou a nacionalizar as propriedades agrícolas comerciais dos brancos para as redistribuir pela população negra. Mas, os grandes beneficiários foram os apoiantes da ZANU-PF, a elite do seu partido, incluindo o próprio Mugabe e a sua mulher, que adquiriram várias propriedades.

Robert Mugabe e a sua mulher foram dois dos principais beneficiados da Reforma Agrária lançada no ano 2000.
Robert Mugabe e a sua mulher foram dois dos principais beneficiados da Reforma Agrária lançada no ano 2000.

A nacionalização das chamadas “farms” dos brancos, no Zimbabué, deixou milhares de trabalhadores negros desempregados, destituídos e expulsos das terras onde viviam.

Sebastian Mhofu, agora em Harare, trabalhava numa dessas propriedades agrícolas. Diz ele que trabalhadores na sua “farm” em Mgutu , em Mazowe, a cerca de 40 quilómetros a Norte de Harare, estão colocados perante a eventualidade de serem expulsos das terras onde vivem e onde trabalhavam.

A sua expulsão segue-se a uma queixa feita pelo novo proprietário, Kingstone Dutiro, às autoridades de que os trabalhadores desempregados estão a ocupar a sua propriedade ilegalmente.

Dutiro adquiriu as terras depois de Archie Black, o dono original, ter sido desapossado das suas terras no ano 2000.

O Estado zimbabueano está agora a julgar 85 trabalhadores que, com as suas famílias, estão em risco de ser despejadas. Estes trabalhadores, na sua maioria de origem malaviana, trabalharam durante muitos anos naquelas terras, muitos deles durante 40 anos. E dizem que não têm para onde ir.

Binias Yolamu, de 72 anos de idade, que veio de Moçambique para o Zimbabwe em 1964, quando tinha 24 anos, já não tem qualquer ligação com a sua terra de origem.

Diz Yolamu: “Trabalhei aqui durante 48 anos. Cresci aqui e vou morrer aqui. Quando o agricultor branco foi obrigado a sair disse que o complexo em que vivíamos, a bomba de água e a electricidade eram nossas. Não vou para lado nenhum. Todos os meus familiares em Moçambique morreram durante a guerra civil nos anos 70 e 80. Esqueci tudo sobre Moçambique. Vou morrer no Zimbabwe, aqui nesta propriedade”.

Angela é outra das pessoas que estão em risco de serem expulsas daquela “farm”. Diz ela: “Tinhamos torneiras com acesso a água potável nesta propriedade. Veteranos da guerra desligaram as torneiras. Não sabemos porquê e para onde as levaram. Temos casos de muitas crianças com doenças devido à água que agora somos forçados a beber, água que não é tratada, directamente do Rio”.

Os trabalhadores em risco de expulsão estão a ser defendidos pela organização Advogados do Zimbabwe para os Direitos Humanos. Os trabalhadores dizem que foram confrontados pelos chamados veteranos da guerra, apoiantes da ZANU-PF de Mugabe, que lideraram a caótica invasão das “farms”, ao abrigo da reforma agrária, que começou no ano 2000. Mas, muitos são demasiado jovens para terem participado na luta de libertação do Zimbabwe.

Os advogados estão a argumentar que as expulsões são anticonstitucionais e que estão a ser feitas criando mais refugiados internos e maior pobreza. A Associação dos Agricultores do Zimbabwe argumenta que apenas meio por cento, ou menos, da população beneficiou da reforma agrária. Os maiores prejudicados foram os trabalhadores rurais. Perto de quatro mil agricultores brancos, que empregavam cerca de 40 mil trabalhadores, foram expulsos das suas terras. Ficaram nas suas terras cerca de 200.

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