A polícia angolana ainda não foi informada sobre as prisões efectuadas em Espanha de várias pessoas alegadamente envolvidas numa fraude de dezenas de milhões de dólares na venda de equipamento à policia angolana.
Enquanto isso, na Espanha, um tribunal negava fiança a uma advogada que alegadamente estabeleceu a rede de lavagem dos fundos desviados de entre outros a favor de familiares de personalidades angolanas.
O comandante da Polícia Nacional angolana Ambrósio de Lemos confirmou que a polícia angolana tinha comprado material a companhias espanholas, mas acrescentou que até este momento a Espanha não deu qualquer informação a Angola sobre as investigações.
“Temos que aguardar que nos venham dizer alguma coisa”, disse Ambrósio de Lemos em declarações transmitidas pela Radio Nacional de Angola.
Em Espanha, um juiz negou entretanto fiança à advogada Beatriz Garcia que, segundo as alegações da polícia, foi quem no Luxemburgo estabeleceu a rede de lavagem dos fundos desviados ao erário angolano.
Novos dados divulgados em tribunal durante a comparência de Beatriz Garcia revelam que a advogada alegadamente estabeleceu empresas radicadas no Luxemburgo e Ilhas Virgens britânicos, de onde se efectuavam as transferências para contas bancárias em nomes de familiares de funcionários públicos angolanos.
Beneficiários dessas transferências foram também os acusados espanhóis e companhias desses mesmos acusados.
Segundo os dados divulgados em tribunal, o acordo com Angola foi assinado em 2008 e previa a entrega ao país de veículos, uniformes, equipamento de comunicações e outro material não especificado à polícia angolana.
As empresas espanholas teriam lucros à partida de entre 200 e 300 por cento, algo que o juíz descreveu de “condições absolutamente desfavoráveis” a Angola.
Na audiência, o juiz fez notar que o Governo angolano pagou 206 milhões de dólares e, nas suas palavras, “não se pode afirmar que o contrato tenha sido cumprido”.
No tribunal, foi dito anteriormente, que parte do material nunca foi entregue.
Para além disso, dos 206 milhões de dólares apenas 47 milhões foram entregues às companhias. Os restantes 159 teriam sido desviados a favor dos acusados e dos familiares de funcionários angolanos, cujas identidades ainda não foram reveladas.
Os depósitos teriam sido feitos em contas bancárias em Hong Kong, Suíça, Singapura, Ilhas Caimao, Nova Zelandia, Gibraltar, Madeira e Luxemburgo
Um total de 10 pessoas foram presas após buscas policiais em Espanha, Luxemburgo e Portugal.
Das 10 pessoas presas, os tribunais espanhóis negaram fiança a cinco, incluindo o antigo presidente da companhia Defex envolvida no negócio.
Duas pessoas foram libertadas sob fiança e três sob liberdade condicional.
A "Operação Angora" foi desencadeada depois das autoridades do Luxembrugo terem suspeitado do depósito de 56 milhões de dólares numa conta no Luxemburgo.