Uma semana depois de o mundo acordar com a notícia da morte de Fidel Castro, cujas cinzas foram levadas em peregrinação pela ilha, com destino final o cemitério de Santa Ifigenia em Santiago de Cuba, o passado do líder histórico continua vivo na memória de quem viveu em Cuba em tempos complicados.
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De execuções por via aérea (pessoas atiradas ao mar de aviões), a interrupções de gravidez pela revolução ou a prisões sob o crime de compra de carne de vaca ou pesca, à discriminação que as mulheres sofriam, são vários os relatos partilhados por Elizabeth, docente médica, formada em Criminalística em Cuba, bolseira angolana que um dia foi fã de Fidel e hoje não o vê como outra coisa senão um "monstro" que "fez o povo sofrer".
Elizabeth confessa que as coisas boas vividas em Cuba foram apenas no tempo de estudante, em que vivendo como "rainhas", [elas estudantes] não tinham noção das dificuldades pelas quais os cubanos passavam no seu dia-a-dia.
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Mais tarde, enquanto profissional e mais próxima do quotidiano cubano, pôde perceber a "realidade paralela" que se vivia na ilha de Fidel Castro, um homem antes visto como digno de admiração: "Para nós era como Jesus Cristo, um homem bom", diz Elizabeth acrescentando que passou a "ditador, assassino".
"Acordávamos e víamos um corpo no mar. Perguntávamos o que se passava", descreve Elizabeth, que trabalhou como assistente social nos anos '90 em Cuba, dizendo que a polícia respondia que mais corpos viriam, "dois ou três".
Como se a memória fizesse questão de avivar certas experiências, lembra um episódio discriminatório com a polícia: "como negra, se fosse cubana, não podia conduzir".
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Como mulher, Elizabeth recorda outro aspecto que contribuiu para a mudança dos seus sentimentos por Fidel: "As mulheres tinham que se apresentar de três em três semanas e dizer alô estou aqui com a minha regra menstrual (...) eram convencidas de que nas condições em que viviam um segundo filho não seria pró-revolucionário", as mulheres abortavam e achavam que o tinham feito "pela revolução".
Certa de que a morte de FIdel Castro trará mudanças, a docente médica revela preocupação pelos cubanos, dizendo que precisam de se educar: "O povo cubano é um povo desorientado, que não aprendeu a democracia".
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