Alguns economistas moçambicanos dizem que um dos problemas do endividamento do país tem a ver com o facto de se ter misturado o património da defesa com o património produtivo da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) que, fez disparar a dívida pública.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos principais parceiros financeiros de Moçambique, diz que a dívida moçambicana está a subir de forma preocupante, mas que ainda está dentro do rácio da sustentabilidade.
O economista Ragendra de Sousa concorda com a análise do FMI e afirmou que "se olharmos para a dívida e dividirmos pelo produto interno bruto, estaremos em 48 ou 49 porcento, dentro dos limites acordados com o próprio FMI".
"O que o FMI e nós os economistas reclamamos é o nível de crescimento, que em 2013 e 2014 foi muito alto, e mantendo este ritmo de endividamento, rapidamente ultrapassamos o rácio da sustentabilidade," destacou.
Ragendra de Sousa afirmou que o outro problema é que se misturou muito o crédito da Ematum, "ou seja, misturou-se património produtivo com património de defesa. Temos que separar os barcos de pesca e os barcos de protecção".
Referiu que, relativamente aos barcos de protecção, a dívida é pública e deve ser paga através dos impostos dos cidadãos e do orçamento de estado, ao passo que os barcos da Ematum têm que ser pagos a partir da produção de atum.
De acordo com o economista, o Governo moçambicano tomou uma posição no sentido de reduzir o nível de endividamento. Sublinhou que o executivo vai ter que recorrer a endividamento concessionário do Banco Africano de Desenvolvimento e do Banco Islâmico de Desenvolvimento, que são créditos de longo prazo, que vão ser aplicados em escolas e pontes, entre outras infra-estruturas.
Relativamente à Estrada Circular e a Ponte da Catembe, Ragendra de Sousa sublinhou ser também um problema preocupante, porque o crédito para estas duas infraestruturas, embora tenham sido concessionários, o seu prazo e a taxa são altos. Vão ser pagos em 15 ou 20 anos.
Alguns críticos dizem que o Aeroporto Internacional de Nacala, na província nortenha de Nampula, se tornou um elefante branco. De Sousa diz que os gestores tanto da Ematum quanto do aeroporto de Nacala devem conseguir mercados para os seus negócios.
No seu entender, o mercado de atum é crescente, mas também é exigente, explicando que meter atum na Europa é difícil por causa dos problemas fitossanitários.
"Colocar atum fresco na Europa tem um problema de logística, de barco não chega lá. Mas este é também um problema de gestão empresarial que devia ter sido tomado em conta na altura do crédito", destacou.
"Mas o que tem de bom nisto é que o Estado foi avalista, o que significa que se não se sentir em condições de pagar, o que pode fazer é vender o património a uma gestão mais produtiva para ser capaz de pagar, enquanto que numa dívida pública pura, os barcos de protecção não têm como fazer, são geridos pela marinha para a protecção da costa", concluiu.