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Cafunfo, vila angolana onde 69% dos jovens dizem que "Governo não respeita direitos humanos" e há muita pobreza


Queima de pneus em manifestação contra morte de um garimpeiro supostamente pela polícia em Cuango, Lunda Norte, Angola, 14 março 2024
Queima de pneus em manifestação contra morte de um garimpeiro supostamente pela polícia em Cuango, Lunda Norte, Angola, 14 março 2024

A vila de Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, tem sido foco de conflitos nos últimos anos entre as autoridades e ativistas e moradores que reclamam do facto de, apesar da riqueza local em minérios, vivem num estado de pobreza total.

Um estudo realizado pela organização não governamental angolana Handeka – Instituto para a Cidadania e o Laboratório de Ciências e Humanidades da Universidade Católica de Angola (LAB- UCAN) conclui que 69 por cento dos jovens dos 15 aos 34 anos de idade inquiridos dizem que “o Governo não respeita os direitos e liberdades fundamentais”, apesar de 94 por cento deles ansiarem por uma participação cidadã mais activa e 44 por cento afirmarem não participar na vida pública porque “o Governo não gosta”.

“Akweze a Cafunfo – Silêncio Ensurdecedor: Estudo de Caso sobre Juventude e Direitos Humanos em Cafunfo” é um estudo realizado no âmbito do projeto “Human Rights Defense (Defesa dos Direitos Humanos)”, financiado pela Ajuda da Igreja da Noruega (NCA), e que será divulgado nesta terça-feira, 11, no Auditório das Irmãs Paulinas, em Luanda.

“O estudo apresenta-nos como a juventude se encontra numa encruzilhada entre o seu desejo de participação, inovação, criatividade e as constantes privações e violações de direitos humanos e liberdades fundamentais”, diz a gestora do projeto Leonela Massocolo numa nota divulgada pelo Mosaiko – Instituto para a Cidadania, que destaca que a investicação teve como objetivos compreender a situação dos direitos humanos dos/das jovens, considerando as especificidades do contexto (recursos naturais, extracção formal e informal de diamantes – garimpo e conflitos linguísticos), identificar os desafios e oportunidades e contribuir com propostas de estratégias que garantam a promoção dos direitos humanos e o exercício de cidadania na juventude.

Naquela vila, os resultados indicam que 69 por cento dos jovens dizem haver muita pobreza, bem como violência e 44 por cento consideram que “os direitos humanos são completamente desrespeitados ou pouco respeitados pelas autoridades locais e pelo Governo de Luanda”.

Estes dados, continua a nota, “estão em conformidade com um resultado específico que sustenta a análise da cultura do medo, onde 58% dos jovens declara que as pessoas têm medo de participar e de se expressar livremente”.

O estudo revela, por outro, que os desafios e oportunidades para a juventude local são muito escassas.

“Basta considerar que 58 por cento dos respondentes apresentam sérias privações ao nível da sua escolaridade, 60 por cento encontram-se sem emprego (formal ou informal) e 45 por cento consideram que a indústria mineira tem responsabilidades não cumpridas no desenvolvimento da vila.

O lançamento do estudo será feito ante representantes de organizações da sociedade civil, instituições governamentais, estudantes universitários, associações juvenis partidárias, organizações internacionais, ativistas e jovens defensores de direitos humanos, que deverão, oa ocasião, refletirem sobre os espaços de participação e decisão.

A organização

Fundado em 1997 por missionários dominicanos, o Instituto Angolano Mosaiko foi a primeira instituição sem fins lucrativos a assumir explicitamente a promoção dos direitos humanos em Angola como a sua missão.
A organizaçao é pautada por um forte compromisso social e visa o respeito pela dignidade humana e o desenvolvimento da sociedade angolana, com o contributo de todos.

Cafunfo tem sido palco de muitos protestos contra a pobreza que têm sido repelidos pela polícia.

A 30 de janeiro de 2021, uma manifestação de residentes em protesto contra as más condições de vida numa vila riquíssima terminou em confrontos com a polícia, com relatos a indicar que o número de vítimas mortais ascendia a uma centena de pessoas.

As autoridades disseram que seis pessoas morreram, enquanto a UNITA e organizações governamentias exigem um pouco menos.

A ONU foi impedida de investigar a situação no terreno, mas vários responsáveis da ONU e de organizações não governamentais apenas para dezenas de mortos.

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