Seis páginas em branco na edição do semanário “A CAPITAL” que veio à rua mesmo assim.
Esta terá sido a via escolhida pelos jornalistas para documentar mais uma censura.
Tratava-se da entrevista de Vicente Pinto de Andrade, que há alguns anos anunciou o seu interesse de concorrer as eleições presidenciais, naquela altura sem data estimada.
Contou Francisco Tandala que é o director do semanário que na sexta-feira passada quando se aprestava enviar o jornal para a rotativa, dois homens cujos nomes não identificou, irromperam no seu gabinete para lhe convencer a retirar do jornal, “ a Grande Entrevista”, espaço esta semana dedicado ao professor Vicente Pinto de Andrade.
Os argumentos não eram bem fundamentados segundo explicou a nossa fonte. Mas os homens que não cessavam de falar ao telefone, insistiam dizendo que cumpriam ordens superiores.
Não publicar o jornal foi uma das hipóteses aventadas.
Os jornalistas chegaram a ameaçar a demissão em bloco, o que segundo observadores locais teria facilitado os novos proprietários, que enfrentam dificuldades de gestão eficiente do negócio e sobretudo sem resultados financeiros positivos: ou seja, não tem havido lucros.
Revelaram os trabalhadores que pouco depois da aquisição do título, apesar do investimento em instalações e novos equipamentos, a proprietária da publicação, não têm deixado bons sinais de saúde financeira justificando-se o interesse que tem nesta altura de substituir alguma força de trabalho por outra, eventualmente menos crítica e de menores exigências.
Numa nota de imprensa tornada pública há instantes, os jornalistas instam os proprietários a cessarem os actos de censura, de forma imediata, e respeitar a independência e liberdade de consciência dos jornalistas. Os profissionais deixam um apelo a entidade ministerial, o Sindicato e o Conselho da Comunicação Social para que intervenham á bem do respeito a Constituição.
O primeiro acontecimento teve lugar no início do ano, com a queima de exemplares na gráfica, por causa duma matéria crítica sobre os preços das casas sociais, avançados por Eduardo dos Santos.
Há cerca de duas semanas que foi censurada a entrevista que concedeu António Ventura da AJPD-Associação Justiça, Paz e Democracia. O tema de actualidade tinha a ver com as manifestações, a detenção e os julgamentos em curso. A entrevista não saiu e nem houve justificação aceitável até agora.