Cinco meses depois de requerer um visto de entrada na África do Sul para participar nas celebrações dos 80 anos do Nobel da Paz o arcebispo Desmond Tutu, o líder espiritual tibetano Dalai Lama está ainda a espera para conhecer a decisão do governo sul-africano.
A correspondente da VOA em Joanesburgo, Délia Robertson diz que vai ser organizada uma noite de vigília em frente ao parlamento na cidade do Cabo, com vista a forçar o governo de Jacob Zuma a autorizar o visto.
Nomfundo Walaza, directora executiva do Centro da Paz Desmond Tutu na cidade do Cabo, disse que o governo deixou de informar a sua administração sobre o processo de visto de Dalai Lama, afirmando que se trata de um problema entre o requerente e o executivo. Walaza diz que o atraso e silêncio do governo demonstram a falta de respeito tanto para com o arcebispo como para com o seu visitante.
“Penso que é muito triste nesta altura para a nossa democracia. É um Estado constitucional, soberano e não estamos a espera que os nossos dirigentes tratar alguém como o arcebispo e Dalai Lama com tanto desrespeito. Estamos envergonhados com o que está a acontecer.”
Dalai Lama visitou a Africa do Sul três vezes entre 1996 e 2004 e foi bem acolhido pelos antigos presidentes Nelson Mandela e Thabo Mbeki. Mas há alguns anos depois da subida ao poder do presidente Jacob Zuma, o seu quarto pedido de visto foi rejeitado.
O comité local de organização da Copa do Mundo da FIFA 2010 tinha convidado o comité do Nobel da Paz e os laureados do prémio a participarem numa conferência sobre o papel positivo do futebol no combate ao racismo e xenofobia. Quando na ocasião o pedido de visto de Dalai Lama foi rejeitado o comité de Nobel e os laureados retiraram-se imediatamente em protesto, forçando assim ao cancelamento da conferencia.
Em 2009 era largamente sabido que as estreitas relações entre o presidente Zuma e o seu partido ANC com o Partido Comunista Chinês jogou um papel importante na rejeição do visto de Dalai Lama. O pedido de visto foi negado por ambas partes, tanto o governo chinês como o sul-africano.
Perante uma tal situação muitos sul-africanos estão preocupados em saber se o governo chinês terá exercido pressões ou influenciado a decisão do governo da África do Sul.
Clayson Monyela porta-voz do Departamento Internacional e Cooperação do governo sul-africano disse não haver pressões do governo chinês na matéria.
A África do Sul representa 20 por cento do volume do comércio chinês em África, e no ano passado o governo sul-africano assinou com Pequim em acordo de parceria estratégica. Há duas semanas os dois governos assinaram um memorando de entendimento sobre a geologia e minas e cooperação financeira durante a visita do vice-presidente sul-africano Kgalema Motlanthe à China.