Na Nigéria o governo anunciou que os militantes islâmicos do país estão em conexão com grupos terroristas na região do Sahel e da Somália, afiliados a al-Qaida.
Este vínculo tem despertado uma maior atenção internacional sobre o terrorismo nigeriano, mas o correspondente da VOA Scott Stearns diz que pode estar a esconder as causas internas.
O Serviço de Segurança nigeriano indicou que os terroristas da seita Boko Haram têm vínculos com a milícia al-Shabab da Somália e com o grupo terrorista AQMI – al-Qaida do Magreb Islâmico, e que opera da Mauritânia ao Níger.
Boko Haram reivindicou o atentado contra a sede das Nações Unidas em Abuja, bem como uma série de assassinatos e emboscadas nos Estados do Norte da Nigéria, como parte daquilo que considera ser a sua campanha para o estabelecimento de um Estado independente e governado sob a lei da Sharia.
O vínculo da seita Boko Haram a al-Qaida fez do terrorismo nigeriano um tema de grande importância internacional. O governo britânico reforçou as trocas de informações e de suportes materiais. Os Estados Unidos estão a apoiar na detenção de fontes de financiamentos da Boko Haram através de um programa estabelecido depois dos atentados de 2001 em Nova Iorque e Washington DC.
Seshu Sani presidente do Congresso dos Direitos Cívicos da Nigéria não está convencido do vínculo directo da Boko Haram com al-Qaida, mas diz haver um claro apoio externo.
“Não existe uma agência do governo na Nigéria que disponha de dados sobre jovens do norte do país que estejam no Afeganistão, Iémen, Paquistão e nos países do Médio Oriente. Mas todos os meses existem centenas de jovens do norte da Nigéria que recebem bolsas de estudos nesses países. E não existe como acompanhar esta relação. Não existe um seguimento. Não há oposição. E não existe um virtual interesse.”
Shehu Sani disse haver no norte da Nigéria várias seitas muçulmanas, maiores que a Boko Haram e apoiadas por grupos islâmicos estrangeiros. Pelo facto do seu pacifismo estas seitas têm atraído muito pouca atenção externa. Sani considera que o governo deve concentrar os esforços sobre o recrutamento de estudantes no estrangeiro pela Boko Haram.
O analista em questões de defesa e contra terrorismo, Husaini Monguno dúvida do apoio directo da al-Qaida a Boko Haram, pela diferença das suas acções. Diz ele que al-Qaida no Magreb Islâmico por exemplo dedica-se ao rapto de estrangeiros para obter resgates enquanto a Boko Haram opera dentro das comunidades locais através de ataques a bomba contra multidões humanas.
“Se analisar as operações da al-Qaida, elas são diferentes da Boko Haram. Um Maiduguri ou seja o homem do Estado do Borno, donde provêem todos os membros da Boko Haram, todos são conhecidos. Eles não se escondem. E tentam trazer os problemas ao público. Eles não têm medo de ninguém. Mas na al-Qaida as coisas são secretas. Mesmo os serviços secretos em todo o mundo têm dificuldades em tentar perceber quem está por detrás dessas operações.”
Um comité criado pelo presidente nigeriano Goodluck Jonathan sobre a violência no norte da Nigéria concluiu que os julgamentos dos membros da Boko Haram deviam ser céleres e públicos de forma a demonstrar a transparência do governo em lidar com o problema.
O mesmo comité recomendou o governo a dialogar com a Boko Haram mas apenas depois desta última renunciar a todas as formas de violência e entregar as armas. A Boko Haram rejeitou esta primeira proposta afirmando haver um cerco militar contra os seus membros nos Estados do Norte do país.