Um jornalista etíope fugiu do seu país ao ter sido citado numa mensagem diplomática dos Estados Unidos publicada recentemente pela Wikeleaks.
O paradeiro de Argaw Ashine continua desconhecido mas há indicações de que ele poderá pedir asilo político num dos países do Ocidente.
O caso da fuga do jornalista etíope é descrito como o primeiro efeito das últimas revelações da Wikileaks em que os nomes dos informadores não foram previamente protegidos.
Argaw Ashine, correspondente de um jornal queniano em Adis-Abeba, foi forçado a fugir da Etiópia na semana passada de forma a evitar uma possível detenção por revelação de informações sensíveis.
Ele foi citado numa das mensagens diplomáticas secretas dos Estados Unidos fazendo menção a um plano do ministério da comunicação etíope em silenciar um jornal anti-governamental. Logo a seguir a revelação de Argaw aos diplomáticos americanos, o periódico viria a ser encerrado e seis dos seus principais jornalistas tiveram que exilar-se no estrangeiro.
Na entrevista a partir do local não revelado, Argaw disse que depois da publicação da Wikileaks foi convocado pelo ministério da comunicação e foi-lhe retirado a sua carteira profissional de jornalista. Mas confessou que o maior pânico foi na sede da polícia federal.
“Fui chamado pela polícia federal e o inspector de serviço, e aconselharam-me a revelar a fonte que eu fazia referência na Wikileaks, caso não, iria fazer face a situações nada agradáveis.”
Argaw Ashine disse ter abandonado o seu país a contra-gosto e que estava a pensar se devia ou não pedir asilo no estrangeiro. Adiantou que sua decisão de fuga foi influenciada pelo facto de 5 jornalistas terem sido recentemente acusados de violar a nova e severa lei anti-terrorista.
“Como devem saber existe uma lei anti-terrorista e não é fácil para mim permanecer no país numa tal condição porque a qualquer momento eles podem me conduzir a prisão ou coisa qualquer. Mesmo o inspector da polícia disse-me que iria sofrer consequências se não revelasse a minha fonte. E portanto decidi abandonar o meu país.”
O porta-voz do governo etíope Shimeles Kemal reagiu ontem a notícia e disse estar chocado com a fuga de Argaw e acrescentou que o mesmo poderia regressar se quisesse. Shimeles negou que a certeira profissional do jornalista tenha sido revogada tendo adiantado que depois de contactos com a polícia não houve evidências de que Argaw Ashine tivesse sido submetido a interrogatórios.
O Comité de Protecção de Jornalistas já emitiu um comunicado referindo-se ao facto do jornalista etíope ser o primeiro a sofrer repercussões directas das publicações da Wikileaks. O CPJ apelou igualmente a uma maior atenção na revelação de nomes em documentos descritos como confidenciais, e sublinhou que esses cabos diplomáticos podem oferecer aos governos autocráticos uma perfeita oportunidade para perseguir e punir jornalistas e activistas da democracia.