Fontes militares em Bissau confirmaram a detenção do secretário de Estado guineense para os Combatentes da Liberdade da Pátria.
O brigadeiro-general Fodé Cassamá foi detido durante o fim de semana e a ocorrência já tinha sido denunciada pelo PAIGC, o partido no poder até ao golpe militar deste mês.
Fontes na capital guineense disseram que aquele membro do governo estava, alegadamente, sob suspeita de tentar organizar um "contra golpe" e foi preso a tentar passar a fronteira entre a Guiné-Bissau e o Senegal.
Uma comissão técnica da CEDEAO esteve entretanto reunida com a junta militar que controla o país para tentar encontrar uma solução para a crise político-militar.
Enquanto isso a capital regressava lentamente à normalidade com a reabertura do aeroporto e das fronteiras terrestres e com o recomeço das actividades bancárias.
De facto, Bissau voltou um pouco a reviver os movimentos normais, com bancos e agências de transferências de dinheiro reabertos, mas limitados ou reduzidos em termos de horários de atendimento, não obstante as longas filas de espera por parte dos clientes que aguardam algo para receber do estrangeiro.
São encomendas de amigos, familiares ou conhecidos, mediante a projetada carência de produtos alimentares, sobretudo no interior do país, para onde muitos guineenses da capital fugiram e consequentemente regista-se ai a especulação de preços, conforme relatos das pessoas que lá se deslocaram. Em Bubaque, zona insular do país, onde 50kg de arroz custava entre 15 a 17 mil francos Cfa, correspondente a pouco mais de 30 dólares, passa agora a custar 25 mil francos Cfa, ou seja, 50 dólares.
As fronteiras, sejam elas, terrestres, marítimas e aéreas já estão reabertas, tanto assim que os voos de TACV, e Air Senegal já estão a operar, devendo a TAP, transportadora área portuguesa, retomar em breve os seus voos para Bissau.
Na perspectiva politica, de registar que a Comissão Técnica da CEDEAO já está no país, enquanto a entidade tida pelo Comando Militar como a mais próxima e compreensiva quanto aos motivos da revolta. A Comissão reuniu-se com os militares e políticos, tentando obter uma saída pacífica e consensual da crise. Crise essa que está a ser marcada pela disputa desenfreada do poder, com a oposição a tentar deter o poder e o PAIGC a exigir a devolução efetiva de governação, argumentando ser o vencedor das últimas eleições legislativas, tanto assim que reclama a libertação do seu Presidente e Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, assim como Raimundo Pereira, Presidente da Republica interino.
Mas, sectores militares continuam relutantes quanto a estas exigências, alegando, em particular, não haver segurança para ceder liberdade aos dois, porquanto não há ainda um governo que possa assumir as rédeas da administração do Estado. O mesmo Comando Militar, em reação a projetada manifestação dos partidos políticos que apoiaram Carlos Gomes Júnior na primeira volta das presidenciais do passado dia 18 de Marco, denominado Frente Ante Golpe, a qual estava prevista para hoje, emitiu um comunicado, onde reitera a sua firme posição em não permitir a realização de marchas ou qualquer manifestação, ao mesmo tempo que anunciava ter criado no Estado-maior um fórum de concertação para uma analise e confrontação de ideias que possam conduzir o pais a uma imediata saída da presente crise. Disse o Estado-General das Forcas Armadas, que este fórum esta aberto aos partidos políticos, sociedade civil, igrejas católica, evangélica, muçulmana, e pessoas singulares.
Enquanto isso, o atual Presidente interino da Assembleia Nacional Popular, Manuel Serifo Nhamadjo, um dos cinco candidatos que contesta resultados da primeira volta do escrutínio de Marco passado, por sinal, destacado dirigente do PAIGC, partido do qual Carlos Gomes Júnior é presidente, depois de ter rejeitado assumir o cargo de chefe de estado interino, na substituição de Raimundo Pereira, funções indicadas por parte do Fórum dos Partidos políticos da Oposição, no quadro da Carta de Transição, quase que extinguida, iniciou este fim-de-semana consultas inter partidárias para encontrar uma saída ao presente cenário.
Reuniu-se com os partidos políticos parlamentares e extraparlamentares, cujas opiniões maioritárias convergiram-se numa solução baseada em Constituição da Republica, pondo de lado a rutura constitucional, inicialmente assumida pelas Formações Politicas, signatárias do acordo para Estabilização e Manutenção da Ordem Constitucional e Democrática.
Manuel Serifo Nhamadjo quer que a solução politica derivada deste Golpe de Estado passe pela Assembleia Nacional Popular, centrando sobre si todas as negociações e decisões sobre a crise.
Por outro lado, Angola poderá manter o contingente militar que mantém estacionado na Guiné-Bissau, caso se verifiquem "mudanças na atitude das autoridades" guineenses e estiverem reunidas "condições políticas e a legalidade democrática for reposta", noticiou a agência Angop.
Citando um comunicado do governo, a Angop salienta que se mantém, contudo, a decisão anunciada há cerca de duas semanas relativamente à retirada da Guiné-Bissau da missão angolana de apoio à reforma do sector militar e de segurança guineense, Missang.
Angola mantém desde 21 de Março em Bissau cerca de 200 efectivos das suas forças armadas e polícia nacional, integrados na Missang.