O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, visita o Brasil pela primeira vez nos próximos sábado e domingo. Obama passará pela capital federal Brasília, onde assinará acordos de cooperação, e pelo Rio de Janeiro. Falando à VOA, especialistas brasileiros destacam que a passagem do líder americano vai ter um caráter extremamente simbólico porque deve representar uma reaproximação entre o Brasil e os Estados Unidos.
Depois de algumas divergências em torno de questões mundiais, como o programa nuclear do Irão, e de mudança de governo com a eleição da presidente Dilma Rousseff, o momento é de reaproximar, como explica o professor de relações internacionais do UNI-BH, pesquisador da Universidade de Brasília (UNB), Túlio Sérgio Henriques.
Para o analista, a visita de Obama tem, pelo menos, duas faces e uma delas seria a de regularizar a relação histórica brasileira com os Estados Unidos. “É uma tentativa de organização da agenda bilateral que ficou arranhada nos últimos tempos. Não que o Brasil tenha entrado em confronto direto com os Estados Unidos, mas houve uma diminuição da equalização que os Estados tinham para a política externa brasileira”, afirma Henriques.
Já a segunda dimensão da visita seria mais conjuntural, para uma redefinição dos termos da pauta bilateral. “Um novo tempo se inaugura com a presidente Dilma Rousseff e isso traz uma necessidade de realinhamento com os parceiros. Por isso, talvez, Obama não tenha vindo com Lula”, afirma o estudioso. “É uma visita que tem importância, apesar de não existir indicação de nenhuma mudança de rumo dramática nas relações entre os dois países historicamente marcadas por um afastamento eventual, mas sempre guardando a importância seminal que o Brasil dá aos Estados Unidos”, completa.
“Os americanos deixaram de lado a América Latina por um tempo e agora parece que eles estão querendo reatar essas relações com a região, em especial com o Brasil”, explica o sociólogo, professor de relações internacionais, Onofre dos Santos. Para o estudioso, depois dos ataques de 11 de Setembro, a política externa americana tomou um rumo muito diferente. A preocupação era com a segurança e o foco se voltou para a Ásia, a região do Oriente Médio e o norte da África. “Enquanto isso, a América Latina buscou outros laços de relações e os americanos perderam a preponderância que tinham na região. A China hoje, por exemplo, é o principal parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos,” explica.
O advogado, mestre em relações internacionais, Delber Andrade, avalia que a passagem de Obama pelo Brasil vai representar o interesse mútuo de que as relações entre os dois países se mantenham amigáveis como sempre foram e ainda a possibilidade de definição de espaço comum para que elas possam se desenvolver e intensificar. “Uma aproximação com os EUA é interessante na consolidação do Brasil como potência regional e também porque os americanos ainda são parceiros, tanto do ponto de vista comercial quanto político, muito importantes,” destaca.
Além disso, na opinião do analista, a visita do líder americano vai servir para mostrar que os países têm uma agenda comum. “Isso é importante porque existiam dúvidas sobre o que poderia acontecer nessa relação daqui para frente com o novo governo brasileiro e após a postura que o Brasil assumiu com relação ao Irã,” analisa. Delber Andrade lembra que a economia brasileira em larga medida se beneficia muito das relações comerciais que já tem com os Estados Unidos e se beneficiaria ainda mais com o adensamento delas. “O governo americano também vê com bons olhos essa aproximação com o Brasil na medida em que o país tem um mercado considerável que tem se expandido nos últimos anos,” conclui.
O professor de ciência política da Universidade Federal de São Paulo, Túlio Vigevane, não acredita que a pauta de Obama no Brasil terá maiores dimensões. “Tudo indica que essa visita está dentro dos padrões internacionais do presidente Barack Obama e tem o objetivo já apontado de melhorar relações com a região,” afirma. “Serão muitos acordos bilaterais, temas importantes, mas nada diferente da rotina da política de relações exteriores dos Estados Unidos para a região,” completa.
O pesquisador lembra que a necessidade de elevar o Brasil a um patamar de interlocutor mais importante para os Estados Unidos tem sido discutida entre os americanos. Mas, por enquanto, esse alcance ainda não existe e, por isso, essa visita se dá com o país ainda em patamar inferior. “Um dos argumentos especulativos a esse respeito se refere ao fato de que todos os países que alcançaram status maior para os americanos são aqueles que têm bombas atômicas. Isso é um argumento negativo, já que o Brasil não se propõe a esse tipo de armamento,” justifica.