Legado de José Eduardo dos Santos
“Antes de pensar em si, ele pensava no povo”, homenagem à JES
Em dia de homenagem pública a José Eduardo Dos Santos, angolanos dão o último adeus e destacam as qualidades e legado deixado pelo homem que governou por quase 40 anos. A conquista da paz é, sem dúvidas, uma das principais razões que tornam “Zé Dú” imortal para muitos. Com Israel Campos
Cortejo fúnebre do antigo Presidente José Eduardo dos Santos
O cortejo fúnebre de estado que passou por algumas das principais vias de Luanda, incluindo a Marginal de Luanda, foi acompanhado por altas entidades das forças de defesa e segurança angola, membros do executivo, imprensa e preenchida também por alguns populares
Cerimónias fúnebres em homenagem a José Eduardo dos Santos
Angola começou, no sábado, um fim-de-semana de homenagens ao antigo Presidente José Eduardo dos Santos, que governou durante 38 anos. Antes de um funeral de Estado no domingo, o seu caixão foi colocado de manhã na Praça da República na capital Luanda para exibição pública.
- VOA Português
“Venceu a justiça e a família”, general Furtado na última homenagem a José Eduardo dos Santos

“Não houve bom senso da parte delas [Isabel e Tchizé] e do outro filho [Coréon Dú”], disse o General Francisco Furtado
Decorre desde as primeiras horas deste sábado, 27, uma cerimónia pública para homenagear José Eduardo dos Santos, na Praça da República, Praia do Bispo, em Luanda.
Com honras de Estado, o corpo do antigo Presidente de Angola foi transportado da sua residência, no bairro Miramar, para a Praça da República, onde acontecem as suas exéquias e deve ter lugar o seu funeral de Estado no dia de amanhã.
O cortejo fúnebre de Estado que passou por algumas das principais vias de Luanda, incluindo a Marginal de Luanda, foi acompanhado por altas entidades das forças de defesa e segurança, membros do Executivo, imprensa e alguns cidadãos que gritavam, acenavam e gritavam algumas palavras de consternação.
À entrada da Praça da República, minutos antes do cortejo oficial chegar, os agentes da ordem pública pediam aos presentes que “ficassem de sentido” tão logo vissem o carro que transportava o corpo do homem que governou Angola por longos 38 anos.
A “ordem” foi acatada por poucos minutos, pois logo depois seguiram hinos de exaltação popular à figura de Dos Santos bem como o exclamar de frases como “Obrigado, Zé Dú!, “Adeus nosso pai!”, “Ele merece”.
“Perderam a melhor oportunidade para homenagear o seu pai”
As exéquias começaram com as homenagens das Forças Armadas Angolanas (FAA) àquele que foi o seu comandante em chefe por quase quatro décadas.
Seguiu-se a simbólica homenagem do Governo, representado por uma comissão multidisciplinar criada para a coordenação dos eventos ligados às exéquias, que, depois depois de se vergar à urna, apresentou os cumprimentos à família, representada pela ex primeira-dama, Ana Paula dos Santos, três dos seus filhos mais novos, e outros familiares próximos.
Em declarações à imprensa, o líder da comissão, o general Francisco Furtado, ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, destacou o papel de José Eduardo dos Santos na conquista da paz em Angola, bem como o seu contributo ao país durante o seu tempo no poder.
“Infelizmente, após a sua morte, vivemos dias de enorme esforço, do ponto de vista judicial, para podermos ter posse dos seus restos mortais, hoje estamos aqui para testemunhar o esforço em que vendou a justiça e a família”, disse o general.
Sobre as ausências notáveis dos filhos mais velhos do antigo Presidente, Isabel, Tchizé e José Eduardo Paulino dos Santos (Coréon Dú) na cerimónia de homenagem, Furtado disse que só a falta de cooperação da parte deles justifica as ausências.
“Perderam a última e melhor oportunidade que tiveram para render homenagem ao seu pai”, considerou o dirigente, justificando que “oportunidade lhes foi dada, quando nós, pessoalmente, conversamos com eles no dia 09 de Julho”.
“Não houve bom senso da parte delas [Isabel e Tchizé] e do outro filho [Coréon Dú”], rematou.
Diplomacia
Teté António, ministro das Relações Exteriores, disse que há, como em vários círculos da vida em Angola, consternação também na classe diplomática, pois José Eduardo dos Santos foi o “primeiro ministro, chefe da diplomacia de Angola, depois da independência”.
“O mundo acompanhou a figura de José Eduardo dos Santos”, acrescentou António anunciando a presença de uma “lista dinâmica" de estadistas e chefes de Governo que devem se deslocar a Luanda para acompanhar amanhã o funeral de José Eduardo dos Santos.
"Já chegaram o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, o Presidente de Cabo Verde, o Presidente de Portugal, chega o Presidente da Guiné Bissau, chegaorã os Presidentes da República Democrática do Congo, da República do Congo, do Zimbabwe, da África do Sul. Portanto, mais de uma vintena de delegações já confirmadas”, informou o diplomata.
O programa do funeral do antigo Presidente angolano inclui honras militares, mensagens do Estado, família, MPLA e da Fundação José Eduardo Dos Santos.
O evento deverá contar com a presença do Presidente da República, João Lourenço, e sua esposa, Ana Dias Lourenço.
Israel Campos
Cidadãos pedem presença de todos os filhos no funeral de José Eduardo dos Santos

O funeral do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos a acontecer no domingo, 28, dia em que se estivesse vivo completaria 80 anos de idade, segundo o porta-voz do MPLA, Rui Falcão, não terá a presença dos filhos que se encontram no exteriordo país, nomeadamente Isabel,José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú".
Cidadãos ouvidos pela VOA lamentam essa ausência apesar de considerarem que o antigo Presidente tem de ser enterrado na sua terra natal.
Maria Kicomba, de 24 anos de idade, entende não estar ainda o assunto esclarecido, uma vez que as diferenças na família de Dos Santos permanecem.
Ela lamenta a situação em que estão submetidos os filhos que se opuseram ao enterro agora: “Uma autêntica arrogância e insensibilidade desmedida do governo Angolano”, diz.
Já Jurelma D´Castro questiona se o Presidente voltará a convidar os filhos para participarem do funeral do pai.
“Ele está a se sentir dono do corpo” lamentou D´Castro, que apela o Executivo a respeitar toda família.
“Não entendo do por quê de ser enterrado,no dia do seu aniversário, qual é a ideia do Executivo, respeito deve imperar sempre”, completa.
Também em conversa com a VOA, Finda Blanchardo entende que “na qualidade de ex-Chefe de Estado, a vinda do seu corpo é antes de qualquer coisa, um acto de salvaguarda da soberania nacional e, em última análise, um acto de respeito à sua memória enquanto filho de Angola”.
No entanto, para Blanchardo “era desejável que a sua família fizesse parte dessa última homenagem, independentemente do momento que a família atravessa. Dito isto, devia ser um imperativo a presença dos seus filhos e familiares mais próximos”.
Margarida Francisco classifica como “um acto desumano fazer o funeral sem a presença da maioria dos filhos” e que fazer o “enterro no dia do aniversário não é uma boa opção porque estariam a celebrar a sua morte”.
Outra cidadã, Nária De Lemos, é de opinião que o envio do corpo a Angola foi a a melhor decisão que o tribunal espanhol poderia tomar porque “regressou à pátria”.
Apesar das divergências com o Executivo, sendo pai e antigo Presidente da República, Lemos diz que “merece um funeral digno com todas as honras, os filhos levariam o pai, até à sua última morada, nãose despedir pelas redes sociais”.
Em áudios divulgados neste domingo, 21, a filha Tchizé dos Santos considera “profanação à figura de José Eduardo dos Santos realização do funeral nestas condições actuais”.
Ontem, após a notícia da transferência do corpo para Luanda, a filha mais velha, Isabel dos Santos escreveu numa rede social que o ódio falou mais alto.
"Levaste-me ao altar e eu não te poderei levar à tua última morada. Sempre sonhaste tudo de bom pra mim e eu pra ti", afirmou a empresária, sublinhando que "o ódio dos homens falou mais forte hoje. Arrancaram-te dos meus braços".
A filha mais velha concluiu: "Desculpa.., te amo...por ti choro".
O corpo de José Eduardo dos Santos chegou a Luanda no início da noite de sábado, 20, depois de uma longa batalha jurídica entre os filhos mais velhos do antigo Presidente e a viúva, Ana Paula Santos, a quem um tribunal da Espanha entregou o corpo e autorizou a sua transladação para Angola.
Santos morreu a 8 de Julho em Barcelona de causas naturais.
“Eu vivi bem no tempo de José Eduardo dos Santos”, reacções populares à chegada do corpo

Israel Campos, Luanda
O corpo do ex-presidente angolano José Eduardo Dos Santos (JES), falecido há 6 semanas em Barcelona, Reino de Espanha, aterrou na noite neste sábado, 20, em Luanda. À chegada várias foram as reações populares sobre o simbolismo do momento.
A controversa disputada sobre a tutela do corpo do ex-líder angolano conheceu ontem finalmente um desfecho com a chegada do corpo de José Eduardo dos Santos a Luanda, a bordo de uma avião da companhia de bandeira angolana TAAG junto da ex-primeira dama da república, Ana Paula Dos Santos, filhos mais novos e demais familiares.
A chegada na base aérea, a família do engenheiro que governou Angola por 38 anos foi recebida por altas entidades do governo angolano, entre as quais o general Francisco Pereira Furtado, Ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Adão de Almeida, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, e a ministra de Estado para o Sector Social, Carolina Cerqueira.
Enquanto decorriam os procedimentos protocolares, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro grupos relativamente pequenos de pessoas iam se aglomerando, com ansiedade, aguardando a saída do corpo daquele que muitos nos descreveram como tendo sido um “dos melhores presidentes de Angola”.
“Ele foi um excelente presidente. Só quem sabe reconhece o quanto ele foi presente para o povo angolano. Ajudou muita gente!”, disse à VOA uma senhora de nome Joana, justificando a sua presença no aeroporto.
Sobre a demora para a chegada do corpo de JES à Luanda, Joana disse-nos emocionalmente que compreende o porquê da demora mas que espera que a “justiça divina” seja um dia feita.
"Também sou filha. Nós não devemos julgar ninguém. Não somos perfeitos. Que a sua alma descanse em paz”, disse.
“Eu vivi [muito] bem no tempo dele”, ela concluiu.
“No tempo do JES as coisas não eram como são agora”
Saído do aeroporto, o cortejo protocolar que escoltava o carro com urna dirigiu-se ao Miramar, na residência oficial do ex-estadista. Durante o caminho, ruas foram fechadas, populares buzinavam e acenavam efusivamente para saudar a família e manifestar as suas condolências.
Na residência oficial, foi realizada uma curta cerimónia religiosa e seguiu-se a apresentação formal de condolências à parte da família de José Eduardo Dos Santos.
Do lado de fora da residência, não demorou muito para que populares manifestassem o interesse deles também poderem entrar na residência oficial para apresentarem as suas condolências à família.
Obedecendo a um protocolo de segurança e medidas de biossegurança, muitas foram as pessoas que conseguiram entrar na residência do ex-presidente angolano.
Augusto João foi um deles.
“Foram 38 anos de governação da sua excelência José Eduardo Dos Santos. É com muita honra que o povo angolano está aqui perante a sua residência” ele disse.
“O povo angolano se está aqui é porque agradece [os seus feitos]. A justiça demora, mas chega. O bom patriota deve ser enterrado no solo pátrio", João nos disse.
Na longa fila que se formou em frente da residência, estava também a comerciante Kiesse Pedro Pereira.
"Tive conhecimento da chegada dos restos mortais do nosso presidente, então vim dar também o meu contributo”.
“No tempo do JES as coisas não eram como são agora. Tínhamos mais facilidades no estudo, nos mantimentos alimentares e muitas mais coisas” disse Pereira à VOA.
Até ao momento ainda não se conhece a data exacta do funeral de José Eduardo dos Santos.
Em conferência de imprensa, ontem (20), o ministro da Administração do Território, Marcy Lopes disse: “Nós iremos comunicar atempadamente o dia [do funeral] e qual será o procedimento das exéquias fúnebres”.
- VOA Português
- Mayra de Lassalette
Falcão diz que funeral de Dos Santos deve acontecer no dia 28 e acusa família de não respeitar a situação

Porta-voz do MPLA considera que as "filhas estavam distraídas... estavam na praia, estavam a fazer desfiles de moda, etc.” em relação ao facto de, segundo a advogada delas, não terem sido informadas da transladação
O funeral do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos deve realizar-se a 28 de Agosto, dia que se estivesse vivo completaria 80 anos de idade.
A data foi avançada à VOA neste sábado, 20, pelo porta-voz do MPLA, Rui Falcão, à margem do comício de encerramento da campanha eleitoral do partido no poder.
“Vamos cuidar com muito carinho como o MPLA cuida dos seus filhos”, acrecentou Falcão que, mais tarde, em declarações a jornalistas no mesmo local apontou o dedo aos filhos de José Eduardo dos Santos que criticaram o posicionamento do Governo em levar o corpo para Angola e fazer o funeral sem a presença deles.
“Quem não respeita é a família”, acusou o porta-voz do MPLA, que refutou críticas de alguns dos filhos do antigo Presidente de aproveitamento eleitoral do falecimento de Santos a 8 de Julho.
“Se quiséssemos fazer aproveitamento político faríamos agora, esta mole humana que está aqui respeita o José Eduardo dos Santos como sempre respeitou”, apontou Rui Falcão ao referir-se à multidão que participava em Camama, Luanda, no encerramento da campanha eleitoral do MPLA.
Questionado pelo facto de a advogada de Tchizé dos Santos e de outros filhos, Carmen Varela, ter dito à AFP que não foram notificadas, Falcão afirmou que “as filhas andaram distraídas (…) estavam na praia, estavam a fazer desfiles de moda, etc.”.
Quanto à ausência de Isabel e Tchizé dos Santos no funeral, o porta-voz do MPLA foi taxativo ao dizer que “se não devem nada ao Estado, por que não? Se têm algum problema com a justiça, elas que o resolvam, nós temos de tratar o ex-Presidente da República como ele merece”.
A transladação do corpo de Santos para Angola é o culminar de uma longa batalha jurídica entre os filhos do antigo Presidente, Isabel, José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú" que exigiam o direito de enterrar o pai, de um lado e, do outro, a esposa Ana Paula dos Santos e os seus três filhos que reclamavam o mesmo direito.
No dia 16, e depois de confirmar que o antigo Presidente teve morte natural, o juiz Francisco Javier Pauli Collado decidiu, recorrendo à jurisprudência de 1998 no país, entregar o corpo a Ana Paula Santos.
Os filhos voltaram a recorrer no dia 18 contra esta decisão, tendo o mesmo juiz decidido em sentença de 19 de Agosto que "não será e dar lugar à suspensão da execução do auto de 16 de Agosto de 2022, como se indicou no próprio auto de 18 de Agosto de 2022, que agora se recorre".
Refira-se que a viúva de Ana Paula Santos tem tido apoio jurídico do Governo angolano que contratou advogados para o efeito e disponibilizou todos os meios para a transladação do corpo do antigo Presidente que deve chegar por volta das 18 horas locais a Luanda.
- VOA Português
Isabel dos Santos diz que "ódio falou mais alto" e advogado da viúva confirma decisão judicial

Horas depois de o Governo angolano ter informado que o corpo do antigo Presidente José Eduardo dos Santos chegaria a Luanda neste sábado, 20, para ser enterrado na sua terra natal, a filha Isabel dos Santos escreveu numa rede social que o ódio falou mais alto.
"Levaste-me ao altar e eu não te poderei levar à tua última morada. Sempre sonhaste tudo de bom pra mim e eu pra ti", afirmou a empresária, sublinhando que "o ódio dos homens falou mais forte hoje. Arrancaram-te dos meus braços".
A filha mais velha concluiu: "Desculpa.., te amo...por ti choro".
Nas primeiras hora de hoje, e como a VOA noticiou, a Comissão para a Organização da Cerimónia Fúnebre disse em nota que "o Executivo angolano torna público que chegam na tarde deste sábado a Luanda os restos mortais do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, falecido no passado dia 8 de Julho em Barcelona, Reino de Espanha" e que "a data e o programa das exéquias serão oportunamente comunicados”.
Batalha jurídica
Um dos advogados da viúva do falecido Presidente, Josep Riba Ciurana, confirmou à AFP que "na sexta-feira fizemos todos os preparativos, os papéis da alfândega, o embalsamento, fizemos tudo e, de facto, esta manhã o corpo está a caminho de Angola", disse Josep Riba Ciurana, advogado da viúva, Ana Paula dos Santos, AFP.
No passado dia 16, um tribunal da Catalunha decidiu autorizar a entrega do corpo à viúva e a sua transladação para Angola.
A filha de 44 anos de Dos Santos, Tchize dos Santos, entrou com um recurso para contestar a decisão, mas Riba Ciurana disse que um juiz concedeu a execução imediata da decisão, permitindo que o corpo deixasse Espanha.
Os filhos Isabel, José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú" voltaram a recorrer no dia 18 contra esta decisão, tendo o mesmo juiz decidido em sentença de 19 de Agosto que "não será e dar lugar à suspensão da execução do auto de 16 de Agosto de 2022, como se indicou no próprio auto de 18 de Agosto de 2022, que agora se recorre, e quanto ao requerimento da senhora Ana Paula para que se permita realizar uma cerimónia de despedida em Barcelona do Sr. Dos Santos, que se permita à outra parte aos efeitos procedentes".
"Somos os primeiros a ser surpreendidos", disse a advogada de Tchize, Carmen Varela, citada pela AFP, acrescentando que soube da repatriação pela televisão e não foi "notificada de nada".
Varela explicou que queriam realizar o funeral em Barcelona porque o regresso a Angola não é uma opção para alguns membros da família.
C/AFP
Corpo de José Eduardo dos Santos chega hoje a Luanda

O corpo do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos chega neste sábado, 20, ao país, depois de um juiz de Barcelona ter ordenado a sua entrega à viúva Ana Paula dos Santos e o correspondente enterro no seu país natal.
Numa breve nota enviada à imprensa hoje, a Comissão para a Organização da Cerimónia Fúnebre diz que "o Executivo angolano torna público que chegam na tarde deste sábado a Luanda os restos mortais do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, falecido no passado dia 8 de Julho em Barcelona, Reino de Espanha" e que "a data e o programa das exéquias serão oportunamente comunicados”.
Longa batalha jurídica
A transladação do corpo de Santos para Angola é o culminar de uma longa batalha jurídica entre os filhos do antigo Presidente, Isabel, José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú" que exigiam o direito de enterrar o pai, de um lado e, do outro, a esposa Ana Paula dos Santos e os seus três filhos que reclamavam o mesmo direito.
No dia 16, e depois de confirmar que o antigo Presidente teve morte natural, o juiz Francisco Javier Pauli Collado decidiu, recorrendo à jurisprudência de 1998 no país, entregar o corpo a Ana Paula Santos.
"Parece lógico que se o referido preceito impõe a obrigação de satisfazer as despesas funerárias do falecido àqueles que em vida teriam a obrigação de o alimentar, e o Artigo 143.1 estabelece o cônjuge como a primeira parte obrigada, com preferência sobre os ascendentes e descendentes do prestador, então deve entender-se de forma análoga que é também o cônjuge que tem o direito sobre os restos mortais do falecido", considerou o magistrado.
Os filhos Isabel, José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú" voltaram a recorrer no dia 18 contra esta decisão, tendo o mesmo juiz decidido em sentença de 19 de Agosto que "não será e dar lugar à suspensão da execução do auto de 16 de Agosto de 2022, como se indicou no próprio auto de 18 de Agosto de 2022, que agora se recorre, e quanto ao requerimento da senhora Ana Paula para que se permita realizar uma cerimónia de despedida em Barcelona do Sr. Dos Santos, que se permita à outra parte aos efeitos procedentes".
Refira-se que a viúva de Ana Paula Santos tem tido apoio jurídico do Governo angolano que contratou advogados para o efeito e disponibilizou todos os meios para a transladação do corpor do antigo Presidente que deve chegar por volta das 18 horas locais a Luanda.
A chegada do corpo acontece no mesmo dia em que o candidato do MPLA e Presidente da República João Lourenço, encerra a campanha do seu partido com vista às eleições do dia 24.
- VOA Português
Tribunal espanhol ordena entrega de corpo de José Eduardo dos Santos à viúva e seu regresso a Angola

Um tribunal de Barcelona, na Espanha, ordenou que o corpo do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos seja entregue à sua viúva e devolvido ao país para o enterro, de acordo com uma decisão publicada quarta-feira.
A agência Reuters escreve que na decisão com data de ontem, 16, o tribunal decidiu que os restos mortais de Santos "sejam entregues à sua viúva Ana Paula Cristovão dos Santos para sepultamento" e concedeu autorização para "o repatriamento e transferência internacional dos (seus) restos mortais para Angola".
A VOA contactou a advogada da filha do antigo Presidente, Tchizé dos Santos, para uma reacção à decisão judicial, mas não houve qualquer resposta.
Recorde-se que parte dos filhos do antigo Presidente e da viúva recorreram ao tribunal para decidir quem tem o direito de ficar e enterrar o corpo de José Eduardo dos Santos.
A batalha jurídica tem de um lado os filhos Isabel, José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú" e do outro a esposa Ana Paula dos Santos e os três filhos que teve com José Eduardo dos SAntos.
(Em actualização)
C/Reuters
Funeral de José Eduardo dos Santos: Filhos e Governo com leituras diferentes

Carta atribuída a filhos pede funeral condigno e Governo não aceita algumas condições
Os cinco filhos mais velhos do falecido Presidente angolano José Eduardo dos Santos comprometeram-se a colaborar na realização de um funeral nacional, mas após as eleições de 24 de agosto e pedem um mausoléu para acolher os restos mortais.
A informação é avançada pela agência Lusa e referida pela imprensa portuguesa e angolana como estando numa carta subscrita por cinco dos seus filhos.
Entretanto, enquanto a filha de Dos Santos, Tchizé dos Santos diz não ter assinado a carta mas estar de acordo com o teor dela, sem qualquer pedido de amnistia, o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, Francisco Furtado condenou a eventual pretensão dos filhos em usarem os restos mortais do antigo Presidente como moeda de troca pelo fim das acções judiciais que enfrentam no país.
A carta divulgada na imprensa é supostamente subscrita por Isabel, José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú", os filhos do antigo Presidente da República, que expressam "profunda gratidão ao povo de Angola" e a todos os que partilham a sua tristeza, pedindo respeito pelo luto.
Homenagem e respeito
"Seja qual for o resultado das próximas eleições, no futuro, nós, a família, junto das instituições e do Presidente eleito, colaboraremos na união da Nação e, a organizar com tempo necessário as condições para homenagem e o funeral nacional do Pai da Nação, o nosso pai, Eng. José Eduardo dos Santos, para que um dia este em dignidade e respeito descanse em paz na terra dos seus antepassados", prometem os filhos mais velhos, na carta, no qual apelam “ a todos a respeitarem os nossos costumes, os nossos valores ancestrais e as nossas crenças religiosas”.
“O nosso pai tem esse direito e ninguém o pode contestar", continua a carta, em que os filhos lembram que na tradição africana o tempo de luto é "um tempo de reflexão e reconciliação".
A agência citada pela imprensa diz que a carta foi enviada pelos serviços de assessoria da filha Isabel dos Santos, em que consta a assinatura de "Tchizé" dos Santos, e no qual defendem o "fim dos processos judiciais e institucionais contra muitos angolanos".
Entretanto, num áudio divulgado hoje, Tchizé dos Santos refuta a ideia de que ela tenha pedido qualquer amnistia e diz duvidar que seus irmãos tenham feito tal pedido.
“O que os meus irmãos iam pedir era um pedido de desculpas público à figura de José Eduardo dos Santos no Parlamento, um reconhecimento de que houve um conflito político que o vitimou e que vitimou a família e uma reparação dos danos provocados por tudo o que estamos a ver”, disse a antiga deputada no áudio a que a VOA teve acesso.
Governo contrapõe
Entretanto, o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, Francisco Pereira Furtado, que chefiou a delegação que se encontra em Barcelona a negociar com a família, indicou que na reunião mantida com alguns dos filhos do antigo Presidente, na qual não estava Tchizé, o Governo deixou claro que eles não poderiam pretender usar os restos mortais do pai como moeda de troca das acções judiciais que enfrentam em Angola.
“No encontro que tive com a família, incluindo a eng. Isabel dos Santos, a Tchizé não participou directamente, mas o seu irmão Filomeno, há o desejo deles de verem realmente o pai sepultado, mas as condições que nos transmitiram no sábado passado levaram-nos a esclarecer que não deviam usar o corpo do pai como moeda de troca para atingir outros fins que não sejam aquilo que é o sentimento familiar e o sentimento da nação angolana, toda a nação angolana chora e quer a presença do seu líder no país para render-lhe a merecida homenagem como líder político”, afirmou Furtado quem acrescentou “lamentamos que isto esteja assim”.
Entretanto, em declarações à VOA, o companheiro e amigo do antigo Presidente, o general Dino Matross, apela à paz.
“Neste momento tudo que posso aqconselhar é paz e que se encontra a melhor forma de se encontrar a paz”, disse.
José Eduardo dos Santos morreu a 8 de Julho e o destino do seu corpo depende agora da decisão de um tribunal da Catalunha, Espanha.
Analistas consideram a disputa de restos mortais de José Eduardos dos Santos uma vergonha internacional

As negociações para transladação do corpo de José Eduardo dos Santos para Luanda fracassaram e os mandatários de João Lourenço, na Espanha, perderam a primeira batalha a favor dos filhos, que negam colaborar com as autoridades angolanas.
O caso aguarda agora por uma decisão judicial. Analistas consideram isso uma vergonha internacional.
O governo angolano contratou, esta semana, um escritório de advogados para apoiar o processo judicial da viúva de José Eduardo dos Santos.
Foi também esta semana que ficou conhecido o resultado preliminar da autópsia feita ao corpo de José Eduardo dos Santos, que indica uma "insuficiência cardíaca" e uma grande infecção pulmonar.
Tal relatório defende que sejam feitos mais exames, mas afasta a possibilidade de envenenamento, uma das questões levantadas porTchizé dos Santos, uma das filhas do malogrado.
O período de luto nacional terminou esta sexta-feira (15), e as autoridades garantiram que as homenagens vão continuar até domingo.
Para falar sobre o assunto, ouvimos o analista Albino Pakisi, o porta voz da CEAST, Dom Belmiro Tchissenguety, e especialista em assuntos religiosos, Gabriel de Almeida.
Gabriel de Almeida, que considera José Eduardo dos Santos património nacional, questiona o facto de o governo angolano não ter acautelado este litígio.
Acompanhe:
Jurista admite amnistia temporária para filhas de José Eduardo dos Santos assistirem o funeral

Outro jurista fala em armadilha do Governo angolano
Enquanto a família do falecido Presidente angolano José Eduardo dos Santos e o Governo não chegam a acordo sobre as exéquias do antigo Chefe de Estado, em Angola juristas tentam compreender os caminhos para uma solução.
Na segunda-feira, 11, o vice-procurador geral da República, Mota Liz, garntiu que as filhas de Santos, Isabel e Tchizé, que têm mandados de captura contra elas em Angola, não serão presas se regressarem ao país para o funeral porque "a própria lei exclui essa possibilidade".
Entretanto, a lei angolana dispõe apenas até três dias depois da morte de um familiar para que os parentes de até terceiro grau familiar não sejam presos, um prazo que, no caso, já expirou.
No caso, o próprio Mota Liz adiantou que “a prisão não é o remédio, os seres humanos têm de conversar sempre".
O jurista Casimiro Calei explica que o Presidente da República pode por escrito dar garantias legais como perdão ou indulto para que a família em conflito com a lei venha para Luanda.
“São apenas três dias que a lei das medidas cautelares de prisão preventiva estipula, mas a Constituiçao da República dá ao Presidente outras prerrogativas extraordinárias”, lembra aquele jurista, para quem “o jurídico é a vontade do político e por isso pode lhes ser dada garantias para autorizarem a vinda do corpo de José Eduardo dos Santos”.
Do lado da família, o silêncio é total, apesar dos esforços da VOA.
Entretanto, um conceituado jurista angolano que pediu o anonimato admitiu que a “oferta do Governo angolano é uma armadilha contra os filhos de José Eduardo dos Santos”.
Aliás, fontes próximas da família admitem que parte ela não acredita na “boa-fé” do Governo, facto que levou as negociações a um impasse.
"Batalha" em torno do funeral de José Eduardo dos Santos pode afectar a imagem de Angola

Analistas políticos advertem para impacto também na campanha eleitoral
A “batalha” em torno do funeral do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, entre a familia e o Governo, pode vir a ter impacto na imagem de Angola.
Analistas políticos advertem também que a não realização do funeral em solo angolano não ajudará na reeleição do Presidente João Lourenço, actualmente em pré-campanha.
Pode ser “um desaire para a sua campanha pela reeleição”, admite o jornalista angolano, Ilídio Manuel, para quem a não realização do funeral em Angola nos próximos tempos também “vai fragilizar o próprio Estado, uma vez que pretende-se passar a imagem que José Eduardo dos Santos pertence mais ao Estado do que à família”.
Já o líder da Associação Paz, Justiça e Democracia (AJP), Serra Bango, entende que o Presidente João Lourenço está a perder a batalha judicial pelo enterro, em Angola, do antigo Chefe de Estado, “o que não contribui para a sua imagem externa”.
Aquele responsável associativo considera, contudo, que qualquer que venha ser o desfecho deste caso não vai ofuscar a imagem de João Lourenço, enquanto candidato à sua própria sucessão por, segundo afirmou, “já estar em campanha faz tempo” e, por outro lado, “a nossa população ainda não tem a maturidade suficiente para julgar os comportamentos dos governantes na época das eleições”.
Por seu turno, o advogado Salvador Freire considera que o Governo está a negociar mal com a família de José Eduardo dos Santos.
“Todos eles são militares”, afirmou o jurista que sugere a integração na equipa governamental de figuras da sociedade civil.
Negociações
O Governo angolano enviou para Barcelona para negociar com a família uma delegação encabeçada pelo ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, Francisco Furtado, integrada também pelo procurador-geral da República, Hélder Pita Groz.
Informações postas a circular pela imprensa na Espanha, em Portugal e em Angola indicam que a família encontra-se dividida, entre a viúva Ana Paula dos Santos e seus três filhos de um lado, e os demais filhos, do outro, com estes a recusarem o funeral antes do dia das eleições, 24 de Agosto.
Por outro lado, tudo indica que a decisão sobre quem tem autoridade para permitir a transladação do corpo do antigo Presidente para Angola vai ser tomada por um tribunal espanhol.
Ontem, o vice-procurador-geral da República, Mota Liz, assegurou que as filhas do antigo Presidente, Isabel dos Santos e Tchizé dos Santos, que têm mandados de prisão contra elas no país, não serão detidas se forem a Angola para o funeral porque a própria lei exclui essa possibilidade.
Também ontem, o procurador-geral da República disse à imprensa pública angolana que a autópsia revelou que José Eduardo dos Santos não foi envenenado, como disse Tchizé dos Santos quando pediu a realizção do procedimento, aceite pela justiça espanhola.
José Eduardo dos Santos, que dirigiu o país de 1979 a 2017, morreu no dia 8 em Barcelona por doença.
JES recordado em Benguela
A fugura do ex-presidente José Eduardo dos Santos, falecido na semana passada, em Espanha, foi recordada em Benguela.