Legado de José Eduardo dos Santos
“Antes de pensar em si, ele pensava no povo”, homenagem à JES
Em dia de homenagem pública a José Eduardo Dos Santos, angolanos dão o último adeus e destacam as qualidades e legado deixado pelo homem que governou por quase 40 anos. A conquista da paz é, sem dúvidas, uma das principais razões que tornam “Zé Dú” imortal para muitos. Com Israel Campos
Cortejo fúnebre do antigo Presidente José Eduardo dos Santos
O cortejo fúnebre de estado que passou por algumas das principais vias de Luanda, incluindo a Marginal de Luanda, foi acompanhado por altas entidades das forças de defesa e segurança angola, membros do executivo, imprensa e preenchida também por alguns populares
Cerimónias fúnebres em homenagem a José Eduardo dos Santos
Angola começou, no sábado, um fim-de-semana de homenagens ao antigo Presidente José Eduardo dos Santos, que governou durante 38 anos. Antes de um funeral de Estado no domingo, o seu caixão foi colocado de manhã na Praça da República na capital Luanda para exibição pública.
- VOA Português
“Venceu a justiça e a família”, general Furtado na última homenagem a José Eduardo dos Santos
“Não houve bom senso da parte delas [Isabel e Tchizé] e do outro filho [Coréon Dú”], disse o General Francisco Furtado
Decorre desde as primeiras horas deste sábado, 27, uma cerimónia pública para homenagear José Eduardo dos Santos, na Praça da República, Praia do Bispo, em Luanda.
Com honras de Estado, o corpo do antigo Presidente de Angola foi transportado da sua residência, no bairro Miramar, para a Praça da República, onde acontecem as suas exéquias e deve ter lugar o seu funeral de Estado no dia de amanhã.
O cortejo fúnebre de Estado que passou por algumas das principais vias de Luanda, incluindo a Marginal de Luanda, foi acompanhado por altas entidades das forças de defesa e segurança, membros do Executivo, imprensa e alguns cidadãos que gritavam, acenavam e gritavam algumas palavras de consternação.
À entrada da Praça da República, minutos antes do cortejo oficial chegar, os agentes da ordem pública pediam aos presentes que “ficassem de sentido” tão logo vissem o carro que transportava o corpo do homem que governou Angola por longos 38 anos.
A “ordem” foi acatada por poucos minutos, pois logo depois seguiram hinos de exaltação popular à figura de Dos Santos bem como o exclamar de frases como “Obrigado, Zé Dú!, “Adeus nosso pai!”, “Ele merece”.
“Perderam a melhor oportunidade para homenagear o seu pai”
As exéquias começaram com as homenagens das Forças Armadas Angolanas (FAA) àquele que foi o seu comandante em chefe por quase quatro décadas.
Seguiu-se a simbólica homenagem do Governo, representado por uma comissão multidisciplinar criada para a coordenação dos eventos ligados às exéquias, que, depois depois de se vergar à urna, apresentou os cumprimentos à família, representada pela ex primeira-dama, Ana Paula dos Santos, três dos seus filhos mais novos, e outros familiares próximos.
Em declarações à imprensa, o líder da comissão, o general Francisco Furtado, ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, destacou o papel de José Eduardo dos Santos na conquista da paz em Angola, bem como o seu contributo ao país durante o seu tempo no poder.
“Infelizmente, após a sua morte, vivemos dias de enorme esforço, do ponto de vista judicial, para podermos ter posse dos seus restos mortais, hoje estamos aqui para testemunhar o esforço em que vendou a justiça e a família”, disse o general.
Sobre as ausências notáveis dos filhos mais velhos do antigo Presidente, Isabel, Tchizé e José Eduardo Paulino dos Santos (Coréon Dú) na cerimónia de homenagem, Furtado disse que só a falta de cooperação da parte deles justifica as ausências.
“Perderam a última e melhor oportunidade que tiveram para render homenagem ao seu pai”, considerou o dirigente, justificando que “oportunidade lhes foi dada, quando nós, pessoalmente, conversamos com eles no dia 09 de Julho”.
“Não houve bom senso da parte delas [Isabel e Tchizé] e do outro filho [Coréon Dú”], rematou.
Diplomacia
Teté António, ministro das Relações Exteriores, disse que há, como em vários círculos da vida em Angola, consternação também na classe diplomática, pois José Eduardo dos Santos foi o “primeiro ministro, chefe da diplomacia de Angola, depois da independência”.
“O mundo acompanhou a figura de José Eduardo dos Santos”, acrescentou António anunciando a presença de uma “lista dinâmica" de estadistas e chefes de Governo que devem se deslocar a Luanda para acompanhar amanhã o funeral de José Eduardo dos Santos.
"Já chegaram o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, o Presidente de Cabo Verde, o Presidente de Portugal, chega o Presidente da Guiné Bissau, chegaorã os Presidentes da República Democrática do Congo, da República do Congo, do Zimbabwe, da África do Sul. Portanto, mais de uma vintena de delegações já confirmadas”, informou o diplomata.
O programa do funeral do antigo Presidente angolano inclui honras militares, mensagens do Estado, família, MPLA e da Fundação José Eduardo Dos Santos.
O evento deverá contar com a presença do Presidente da República, João Lourenço, e sua esposa, Ana Dias Lourenço.
Israel Campos
Cidadãos pedem presença de todos os filhos no funeral de José Eduardo dos Santos
O funeral do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos a acontecer no domingo, 28, dia em que se estivesse vivo completaria 80 anos de idade, segundo o porta-voz do MPLA, Rui Falcão, não terá a presença dos filhos que se encontram no exteriordo país, nomeadamente Isabel,José Filomeno "Zenu", Welwitschea "Tchizé", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú".
Cidadãos ouvidos pela VOA lamentam essa ausência apesar de considerarem que o antigo Presidente tem de ser enterrado na sua terra natal.
Maria Kicomba, de 24 anos de idade, entende não estar ainda o assunto esclarecido, uma vez que as diferenças na família de Dos Santos permanecem.
Ela lamenta a situação em que estão submetidos os filhos que se opuseram ao enterro agora: “Uma autêntica arrogância e insensibilidade desmedida do governo Angolano”, diz.
Já Jurelma D´Castro questiona se o Presidente voltará a convidar os filhos para participarem do funeral do pai.
“Ele está a se sentir dono do corpo” lamentou D´Castro, que apela o Executivo a respeitar toda família.
“Não entendo do por quê de ser enterrado,no dia do seu aniversário, qual é a ideia do Executivo, respeito deve imperar sempre”, completa.
Também em conversa com a VOA, Finda Blanchardo entende que “na qualidade de ex-Chefe de Estado, a vinda do seu corpo é antes de qualquer coisa, um acto de salvaguarda da soberania nacional e, em última análise, um acto de respeito à sua memória enquanto filho de Angola”.
No entanto, para Blanchardo “era desejável que a sua família fizesse parte dessa última homenagem, independentemente do momento que a família atravessa. Dito isto, devia ser um imperativo a presença dos seus filhos e familiares mais próximos”.
Margarida Francisco classifica como “um acto desumano fazer o funeral sem a presença da maioria dos filhos” e que fazer o “enterro no dia do aniversário não é uma boa opção porque estariam a celebrar a sua morte”.
Outra cidadã, Nária De Lemos, é de opinião que o envio do corpo a Angola foi a a melhor decisão que o tribunal espanhol poderia tomar porque “regressou à pátria”.
Apesar das divergências com o Executivo, sendo pai e antigo Presidente da República, Lemos diz que “merece um funeral digno com todas as honras, os filhos levariam o pai, até à sua última morada, nãose despedir pelas redes sociais”.
Em áudios divulgados neste domingo, 21, a filha Tchizé dos Santos considera “profanação à figura de José Eduardo dos Santos realização do funeral nestas condições actuais”.
Ontem, após a notícia da transferência do corpo para Luanda, a filha mais velha, Isabel dos Santos escreveu numa rede social que o ódio falou mais alto.
"Levaste-me ao altar e eu não te poderei levar à tua última morada. Sempre sonhaste tudo de bom pra mim e eu pra ti", afirmou a empresária, sublinhando que "o ódio dos homens falou mais forte hoje. Arrancaram-te dos meus braços".
A filha mais velha concluiu: "Desculpa.., te amo...por ti choro".
O corpo de José Eduardo dos Santos chegou a Luanda no início da noite de sábado, 20, depois de uma longa batalha jurídica entre os filhos mais velhos do antigo Presidente e a viúva, Ana Paula Santos, a quem um tribunal da Espanha entregou o corpo e autorizou a sua transladação para Angola.
Santos morreu a 8 de Julho em Barcelona de causas naturais.