O arquipélago dos Bijagós tem mais de 80 ilhas e fica a meio caminho entre um grande produtor de droga (a América Latina) e um grande consumidor (a Europa). Tendo em conta a geografia do terreno e a fraca vigilância, o arquipélago acaba por ser um local ideal para os traficantes de droga.
A constante instabilidade política na Guiné-Bissau, a pobreza e a fraca economia do país fizeram com que o tráfico de droga se fixasse nos últimos anos. Estima-se que todas as noites cheguem, por avião, à Guiné-Bissau cerca de 900 quilos de cocaína. A esse número acresce a droga transportada pelo mar para as ilhas na costa guineense.
De acordo com Virginia Comolli, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, ou IISS, “a Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo e deve muito do seu Produto Interno Bruto à produção e exportação de produtos agrícolas, sobretudo de castanha de caju. O tráfico de droga veio colmatar essa lacuna na economia guineense”.
A Guiné-Bissau é tida como o “primeiro narco-estado da África Ocidental” e especialistas acreditam que altos dirigentes políticos e militares guineenses andarão de mãos dadas com traficantes há já algum tempo.
Segundo uma publicação recente do IISS, pensa-se que o ex-presidente da Guiné-Bissau João Bernardo ‘Nino’ Vieira teria estado envolvido no tráfico de cocaína. Em 2010, a nomeação de Bubo Na Tchuto como chefe da Marinha foi criticada pela União Europeia e pelos Estados Unidos, que o tinham apontado como um “barão da droga”.
No entanto, dirigentes e traficantes não serão os únicos a cooperar. Teme-se também que o tráfico esteja a alimentar as actividades de grupos terroristas na região.
Segundo Virginia Comolli, “tem havido especulações sobre ligações com o Hezbollah. Há uma razoável comunidade libanesa a viver na África Ocidental e na Guiné-Bissau, tal como em países na América Latina, com o propósito de controlar o tráfico de droga. E alguns analistas pensam que as receitas do tráfico acabam nas mãos do Hezbollah, no Líbano, para financiar as suas actividades terroristas”.
O Hezbollah tem negado o seu envolvimento no narcotráfico.
Outra preocupação, diz Virginia Comolli, é uma alegada ligação entre os traficantes de droga e o grupo terrorista da Al-Qaeda no Magreb Islâmico, ou AQIM.
“A AQIM tem controlado as rotas do tráfico no Sahel, que têm sido usadas durante séculos para traficar pessoas, armas, cigarros ou drogas pelo deserto”, diz Comolli. “Portanto, penso que é razoável assumir que os traficantes tenham de pagar aos membros da Al-Qaeda para poder utilizar as rotas e passar a droga para o Norte de África e daí para a Europa”.
Se os rumores forem verdade, continua Virginia Comolli, os países na região poderão enfrentar mais instabilidade, ao nível político, económico e social.
De acordo com a investigadora, é preciso que os países industrializados tenham mais vontade de resolver o problema: “Não se coloca muito foco na redução do consumo. É preciso que os países que são consumidores lancem sérias campanhas de sensibilização para reduzir o uso ilícito de droga e assumam maior responsabilidade nos países em desenvolvimento que são mais afectados pelo tráfico de narcóticos”.
Segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Droga e a Criminalidade, a América do Norte e a Europa representam, em conjunto, mais de 80% do valor total do mercado mundial de cocaína.