O cargueiro americano Maersk Constellation saiu quinta-feira do porto do Lobito.
"O Maersk Constellation, com todos os seus tripulantes, saiu do porto de Lobito e prossegue a sua viagem. Toda a carga está a bordo e será entregue conforme estava inicialmente planeado", disse o porta-voz Kevin Speers. No Lobito, o facto foi confirmado pelo correspondente da VOA, António Capalandanda.
A partida do navio resolve um braço de ferro de duas semanas, em que Luanda, segundo analistas como Reginaldo Silva e José Gama, foi motivada pela irritação causada pelo encerramento das contas bancárias da sua embaixada em Washington, três vezes, por três bancos diferentes, em sete meses.
O navio esteve retido durante duas semanas, após terem sido encontrados a bordo quatro contentores com munições que, segundo as autoridades, não estavam declarados no manifesto de carga. A maior parte da carga era assistência alimentar dos Estados Unidos, para escolas de Benguela, que já tinha sido descarregada.
Durante estas duas semanas, Luanda alegou, primeiro que as munições se destinavam a Alassane Ouattará (adversário de Laurent Gbagbo, o amigo de José Eduardo dos Santos na Costa do Marfim), posteriormente que se destinavam à UNITA para alegadas acções subversivas ligadas às manifestaçooes de 7 de Março, a seguir que para além de munições havia armas a bordo, e finalmente que se destinavam a apoiar grupos rebeldes num país africano não especificado.
O armador, Maersk Line, insistiu sempre que a carga era legal, estava devidamente registada no manifesto e que toda a documentação fora apresentada às autoridades angolanas.
Segundo o armador e a embaixada dos Estados Unidos em Luanda, os contentores com munições para armas ligeiras destinavam-se às forças armadas do Quénia.
As autoridades angolanas, após terem alegado que a carga estava indocumentada, recusaram-se a aceitar a validade do manifesto apresentado pela tripulação assim como documentos apresentados, por duas vezes, pela embaixada americana ao Ministério das Relações Exteriores.
Ao rejeitar os documentos dos Estados Unidos, as autoridadas angolanas exigiram que o governo do Quénia confirmasse ser o proprietário das munições. Após uma declaração, nesse sentido, pelo porta-voz do governo de Raila Odinga, Luanda exigiu confirmação oficial e documental.
Depois de terem ameaçado descarregar todoas os contentores do Maersk Constellation, para procurarem armas, as autoridades decidiram autorizar a sua partida. Não se sabe se o Quénia envou a provas documebntais exigidas por Luanda.
A descarga total do navio demoraria várias semanas, devido à baixa capacidade do porto de Lobito e inviabilizaria a descarga de outros navios com mercadorias necessárias ao comércio normal na região centro e sul do país.
Reginaldo Silva, editor do blogue Morro da Maianga, pensa que a tensão que se vive na relação entre Luanda e Washington levou Angola a exageros nestas duas semanas e que a situação ultrapassou uma mera disputa aduaneira.
Silva disse à VOA este caso afecta o relacionamento político diplomático entre os dois países e constitui uma "espécie de retaliação" pelo encerramento das contas bancárias da embaixada de Angola em Washington. Disse ter sabido que as reuniões entre o encarregado de Negócios dos Estados Unidos e o ministério das Relações Exteriores, foram "tensas".
Também em declarações, à Voz da América, o activista cívico José Gama, concorda que a retenção do cargueiro foi uma represália por parte das autoridades angolanas, pelo encerramento das contas bancárias, sem no momento ter havido ainda algum desfecho favorável para Angola.
Fontes governamentais desdramatizam as afirmações, dizendo que as autoridades angolanas fizeram cumprir as leis aduaneiras, mas outras fontes disseram à Voz da América que, em diversas ocasiões, Luanda estava a tentar arranjar uma justificação legal para a retenção do navio que viaja sob pavilhão americano.
Ouça, clicando nas barras acima deste texto, a reportagem de António Capalandanda e a opinião de Reginaldo Silva.