Mulher de Ambrósio de Lemos recebeu pagamentos na Suíça, diz Swissinfo

Em causa a venda de material à polícia angolana pela empresa espanhola Defex

A esposa do antigo comandante-geral da Polícia Nacional (PN) de Angola, Ambrósio de Lemos, possuía uma conta no banco suíço Julius Bar, alegadamente usada para branqueamento de capitais no caso da venda de material à PN pela companhia espanhola Defex e na qual foram depositados milhares de euros.

A informação foi revelada pelo portal suíço Swissinfo, que diz que as investigações das autoridades espanholas indicam que a Suíça “jogou um papel chave no sistema de branqueamento, permitindo encaminhar subornos da empresa pública espanhola de armamento às autoridades angolanas”.

A VOA tem vindo a acompanhar as investigações sobre a venda de material à polícia angolana pela companhia espanhola Defex e que levaram o Ministério Público de Madrid a pedir elevadas penas de prisão a funcionários dessa companhia envolvidos na operação.

O negócio

O contrato envolvia a venda de material à polícia angolana no valor de 152,9 milhões de euros, mas dessa quantia pouco mais de 59 milhões foram verdadeiramente usados para a compra do material.

O restante, diz a acusação, pouco menos de 93,8 milhões, foram usados para beneficio das empresas envolvidas e para pagar subornos e comissões a entidades espanholas e angolanas.

A Swissinfo diz que a acta de acusação da procuradoria espanhola “consagra uma boa parte das suas 258 páginas aos intermediários suíços”.

“Julius Bar acolhia notavelmente uma conta em nome da esposa de Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, o comandante geral da Policia Nacional de Angola”, diz a Swissinfo.

“Foi com esse homem que a Defex assinou uma operação de mais de 152 milhões de euros para fornecer equipamento aos seus agentes. A conta da sua mulher, aberta em 2008, recebeu até 280 mil euros de subornos”, acrescenta o portal.

Apartamento em Lisboa

Antes, havia sido tinha sido revelado em Madrid que a mulher do antigo dirigente da PN comprou um apartamento em Lisboa, Portugal, com fundos provenientes de uma companhia que mediou o contrato da venda de material policial a Angola.

Os fundos de 275 mil euros para a compra do apartamento terão sido fornecidos pela companhia Kyandra Ventures LLC, controlada pelo luso-angolano Taveira Pinto, que é alvo de um mandato de captura internacional e que se pensa residir em Luanda.

Não há qualquer informação se esses fundos, depositados na conta na Julius Bar, foram usados para a compra do apartamento ou se se trata de fundos diferentes.

O portal suíço acrescenta que Kyandra Ventures era uma das companhias com uma conta no Millenium Banque Privée BCP, usada para o pagamento de subornos e branqueamento de capital.

As autoridades espanholas consideram Taveira Pinto “uma peça chave” neste caso de corrupção, afirmando que a sua alegada actividade criminosa “era sistémica e projectada em todos os âmbitos da sua actividade com as empresas espanholas”.

Outras companhias alegadamente envolvidas no branqueamento de capitais com contas nesse banco são a JCB Consultancy, Jtl Financial e Newell International.

No passado, tinha também sido revelado que entre os angolanos que receberam subornos estão o general Armando da Cruz Neto, então embaixador angolano em Madrid, e o antigo vice-ministro da defesa Demóstenes Chilingutila.

O jornal El Espanol noticiou recentemente que a Procuradoria Geral de Angola arquivou o processo de investigação contra vários dos acusados espanhóis, bem como o luso-angolano Taveira Pinto.

“Em concreto, não foi possível provar de modo suficiente a existência de pagamentos, entrega de presentes a nenhum funcionário público que possa constituir delito à luz das leis angolanas”, concluiu a procuradoria angolana, citada pelo jornal El Espanol.

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