Angola só teve democracia a sério durante as eleições de 1992 – defende o ex-secretário de Estado adjunto Herman Cohen. O embaixador Cohen foi o principal responsável pela política africana dos Estados Unidos, entre 1989 e 1993, e falou com a VOA a propósito dos nove anos da morte de Jonas Savimbi.
Herman Cohen defende que a democracia em Angola não vingou porque Jonas Savimbi não aceitou os resultados das eleições de 1992 e porque, posteriormente, derrotada militarmente a UNITA, o MPLA preferiu abusar do poder praticamente absoluto que as circunstâncias lhe deram.
Na direcção da política africana do Departamento de Estado nessa altura, Cohen afirma que Angola só teve democracia digna do nome, no período posterior aos acordos de paz de Bicesse.
"A única democracia real que eles tiveram foi nas eleições livres e justas de 1992. Desde então tem sido uma coisa tipicamente africana, em que o partido forte não admite perder um acto eleitoral e elimina a concorrência", disse o diplomata aposentado.
O que se está a passar em Angola, com um Estado assertivo a controlar, de novo, a comunicação social (incluindo a privada), as ONGs e até muitas igrejas, é sinal – para Herman Cohen – de que o MPLA regressou às suas origens.
"A supressão do sector privado e da sociedade civil é típica do ponto de vista marxista-leninista de Governo. E o MPLA vem dessa tradição marxista-leninista e portanto não é uma surpresa", adiantou Cohen.
O diplomata americano não crê que Angola regresse, a curto prazo, a uma democracia real, até porque não é esse, neste momento, o fenómeno prevalecente em África. E explica que a "democracia quer dizer que as pessoas que estão no poder aceitam o risco de perder uma eleição."
E, neste momento, "não há virtualmente nenhum país em África em que as pessoas no poder aceitem o risco de perde as eleições. Podemos falar do Benin e do Gana, mas não vejo mais nenhum país africano, incluindo a África do Sul e o Botswana, onde quem está no poder aceite esse risco".
Sobre o papel da União Africana na promoção da democracia, Herman Cohen disse que a "a União Africana é um clube de presidentes e eles apoiam-se uns aos outros."