Luvualu de Carvalho e Rafael Marques frente-a-frente em Washington

Luvualu de Carvalho e Rafael Marques

Diplomata americano saúda Angola pelos "progressos alcançados" mas diz que "há preocupações".

O activista e jornalista angolano Rafael Marques e o embaixador itinerante de Angola António Luvualu de Carvalho estiveram envolvidos nesta quinta-feira num aceso mas cordial debate em Washington sobre Transparência, Direitos Humanos e Sociedade Civil em Angola.

O debate foi organizado pela National Endowment for Democracy, que patrocina programas pró-democracia e direitos humanos, e contou também com a presença do vice-secretário de Estado Assistente para os Assuntos Africanos Todd Haskell e o embaixador Princeton Lyman, do Instituto para a Paz.

Rafael Marques (Foto João Santa Rita)

Rafael Marques abriu o debate lançando uma forte crítica ao que disse ser a corrupção e nepotismo em Angola.

Para Marques existe em Angola apenas “a transparência da pilhagem” e, na sua intervenção, fez notar os contratos recentes dados a companhias da filha do Presidente para a reconstrução da cidade de Luanda e restruturação da indústria petrolífera do país.

O activista criticou a administração do Fundo Soberano, chefiado por José Filomeno dos Santos, filho do Presidente, que acusou de lidar com o fundo com “se fosse um recreio de brincar”.

“O Governo angolano anda a brincar com a sorte”, continuou Marques, acrescentando não se saber o que o Executivo fez com os lucros do petróleo, pois foram usados apenas 10 por cento em projectos de reconstrução nacional.

Face à crise actual, apontou que o Governo entrou numa fase “ de teorias da conspiração” e repressão.

“As conspirações selvagens são simplesmente para consumo propagandístico e as acusações ridículas são para os tribunais justificarem as detenções dos activistas”, acusou.

Para Rafael Marques, o Executivo deve entrar num diálogo com as forças da sociedade pois há o perigo das “coisas se desmoronarem”

Luvualu acusa Marques de mentira do "tamanho dos Estados Unidos"

Ao intervir no debate, o embaixador itinerante para Questões Políticas António Luvualo de Carvalho criticou Rafael Marques por este ter afirmado que os activistas actualmente a serem julgados em Angola tinham sido detidos ”por estarem a ler um livro”.

Os activistas foram presos por estarem a preparar “actos de rebelião” e compete ao tribunal decidir sobre a sua culpabilidade ou não, reiterou o diplomata angolano

Luvualu de Carvalho (Foto João Santa Rita)

Luvualu de Carvalho acusou Marques de discutir a situação em Angola com base na emoção devido ao facto de no passado ter sido condenado a prisão.

“Estes assuntos não podem ser discutidos com emoção”, sublinhou.

O embaixador itinerante de Angola acusou ainda o activista de dizer “uma mentira do tamanho dos Estados Unidos, ao afirmar que apenas um hospital tinha sido construído em Angola nos últimos anos.

"Rafael, o Governo construiu novas cidades, construiu novas estradas, novos hospitais”, disse o embaixador, dirigindo-se ao activista que estava sentado ao seu lado.

“Não podemos dizer que o Governo fez nos últimos 13 anos foi nada pois fizeram-se esforços para que fossem garantidas condições de vida aos angolanos", sublinhou Luvualu de Carvalho .

“Eu nunca ouvi o Rafael falar dos sete milhões de estudantes com acesso ao sistema de ensino”, continuou, acrescentando também que "nunca ouvi o Rafael falar dos 10 milhões de angolanos que têm acesso à saúde, garantida pelo Governo".

O embaixador defendeu também a presença dos filhos do Presidente em posições económicas importantes, afirmando que os filhos do Presidente devem ter as mesmas oportunidades que todos.

“Não deve ter oportunidade só porque é filho do Presidente?”, interrogou.

Diplomata americano elogia Angola mas diz que há mais a fazer

No mesmo debate, o vice-secretário de Estado Assistente para os Assuntos Africanos Todd Haskell fez notar que Angola é um dos três países africanos com quem os Estados Unidos têm uma parceria estratégica (sendo os outros a Nigéria e África do Sul).

Vice secretário de estado assistente para assuntos africanosTodd Haskell

O diplomata americano saudou “a liderança de Angola na região” na procura da paz. Mas fez notar a necessidade de Angola respeitar os direitos humanos e o direitos dos seus cidadãos aos protestos de forma “construtiva”.

Haskell revelou que Governo americano tinha mantido discussões “abertas e francas” com o ministro angolano da Justiça Rui Mangueira quando visitou Washington recentemente.

O governante disse que deve haver uma “forte cooperação entre os dois países a nível governamental”, mas reiterou que essa cooperação também deve envolver “a sociedade civil e uma imprensa livre”.

“Nós aplaudimos os progressos feitos por Angola”, sublinhou, concluindo que Washignton continha “preocupada” com insuficiências na questão dos direitos humanos".