Quem conhece Cabo Verde sabe que o arquipélago é um país de emigração devido à escassez de recursos naturais e a falta de desenvolvimento económico. Há mais cabo-verdianos espalhados pelo mundo do que habitando as dez ilhas do arquipélago localizado na região central do Oceano Atlântico. Sua população é estimada em mais de 500 mil habitantes, e o ativista social Mário Carvalho realçou que “mais do que o dobro da população está espalhada pelo mundo”.
Na diáspora há várias comunidades que se destacam, entre elas a de Amadora, em Portugal. Segundo Carvalho, Amadora é considerada a 11ª ilha de Cabo Verde e a maior comunidade cabo-verdiana da Europa.
“Temos uma relação fantástica de diáspora com o nosso país de origem”.
Durante a entrevista à Voz da América, o ativista dividiu o percurso da imigração cabo-verdiana em três fases: integração social, económica e política.
Carvalho contou que a integração social, ou seja, “trabalhar para ter e o futuro para ser” tem sido um exemplo nos países de acolhimento.
Ele disse que isso foi conseguido na plenitude graças a homens e mulheres corajosos que estiveram na defesa intransigente dessa integração, e que foram autênticos embaixadores e embaixatrizes de Cabo Verde.
Carvalho acredita que agora é o momento da afirmação económica.
“A nossa luta se trava na comunidade cabo-verdiana em Portugal numa base de ativismo social, de dar esse passo significativo na sociedade civil com projetos no sentido de construirmos um mercado da lusofonia”.
Ele sublinhou que há centenas de microempresas em Amadora e o que se precisa para ter sucesso é uma estratégia a fim de que essas microempresas funcionem em rede.
Os ganhos com essa conquista serviriam num futuro próximo para que os cidadãos residentes nessa cidade possam reinvestir em Cabo Verde, bem como melhorar a qualidade de vida na comunidade e projetá-la para outros patamares de integração, como a afirmação política.
O ativista apontou que há um grande número de cabo-verdianos residentes e descendentes em Portugal, mas que isso ainda não se traduz em força ou representação política no Parlamento. Por exemplo, não há deputados cabo-verdianos na Assembleia da República, ou desempenhando papéis como presidente de câmara e presidente de junta.
“Não temos cabo-verdianos nas estruturas intermédias do poder. Onde realmente está o poder, não temos poder.”
Carvalho acredita que é preciso haver uma mudança de estratégia com um novo foco e modelo de integração económica.
“Através da integração económica é que podemos realmente dar o passo seguinte", a representação política.
O ativista descreveu que os cabo-verdianos na diáspora tem uma relação excelente com Cabo Verde, especialmente com a preservação da língua.
“Os descendentes cabo-verdianos que nasceram cá em Portugal - sem conhecer Cabo Verde, sem ter uma ligação afetiva com Cabo Verde - falam crioulo. Estão no batuque, estão no funaná. Escrevem poesia em crioulo. Isso é um símbolo claro de que o nosso enraizamento é forte.”
Carvalho disse que os cabo-verdianos na diáspora têm sonhos, deveres e os mesmos direitos de quem ficou na terra e defendeu a caboverdianidade.
“Todos nós alvoramos por um Cabo Verde melhor e todos estamos a lutar pelo mesmo objetivo.”
Ele terminou a entrevista enfatizando a importância da integração, da organização e da criação de uma nova estratégia.
“A diáspora precisa se afirmar nos vários países de acolhimento. Só essa afirmação, além de fazer o nome de Cabo Verde, permite realmente de darmos o contributo ao mais alto nível para a consolidação dessa diáspora, e essa segunda fase de integração dos cabo-verdianos tem que ser obrigatoriamente a fase económica”.
Confira a entrevista!
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