A situação dos angolanos que estudam no exterior com auxílio do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo, INAGBE, se agrava a cada dia, de acordo com a entrevista concedida à Voz da América por Desidério Nungulo, estudante do 3˚ ano de engenharia mecânica na Universidade Politécnica de Bucareste e Presidente da União dos Estudantes Angolanos na Roménia .
Há cinco meses os estudantes não recebem os subsídios que cobrem os custos com alimentação, material escolar, transporte e monografia.
Sem contar com a ajuda dos familiares, devido à crise económica e financeira em Angola, e com o atraso do pagamento dos subsídios, os estudantes enfrentam diversas dificuldades e constrangimentos.
Para não passar fome se endividam. Para não perder as aulas na universidade, não pagam os bilhetes de passagens nos autocarros, o que muitas vezes gera constrangimento, pois os fiscais querem saber porque os estudantes não pagam os bilhetes.
“O sentimento de um bolseiro é muito forte. É muito patriótico representar o teu país, mas quando estás a passar dificuldades financeiras, a frustração e a pressão que tem da escola são muito fortes. Isso tem que ser muito controlado e trabalhado psicologicamente".
A dura realidade de viver com constantes desafios não termina. Nungulo conta que desde que chegou em Bucareste em 2014 não tem seguro de saúde. Ele acrescenta que estudantes angolanos que chegaram antes dele também não tinham.
Se Nungulo ou algum dos seus colegas fica doente e precisa de um médico ou de ir a um hospital tem que contar com a boa vontade de amigos, associações e com a sorte.
"Muitos de nós somos religiosos. Temos amigos na igreja e eles nos dão alguma ajuda. Algumas associações de que fazemos parte também ajudam. Mas nem sempre estão disponíveis".
O Presidente da União dos Estudantes Angolanos na Roménia diz que já houve angolano que foi para o hospital e não foi atendido.
"Quando teve a tempestade de frio na Europa foi difícil. A maioria de nós ficou doente. Muitos pegaram gripe e foram parar no hospital. Foi complicado”.
Outra dificuldade que os bolseiros do INAGBE enfrentam no exterior é a falta de recebimento do subsídio de alojamento, que segundo Nungulo, foi cortado em 2015, antes da saída do então director do INAGBE, Moisés Kafala Neto.
"Trata-se de vidas humanas, jovens angolanos com um sonho de poder concretizar o seu objectivo, e depois tropeçar sempre com essas dificuldades".
Nungulo sublinha que já houve várias mudanças na chefia do instituto, mas que não há diálogo entre as equipas que entram e saem. E quem sofre as consequências são os bolseiros.
Ele afirma que já tentou se comunicar por e-mail com a diretoria do INAGBE inúmeras vezes, além de ir pessoalmente ao instituto quando esteve em Angola. No entanto, nunca conseguiu obter uma resposta para o problema do atraso do pagamento dos subsídios da bolsa de estudo.
“Quando estive em Angola o pensamento é um. Aqui nos sentimos honrados por ter esse privilégio, mas nos sentimos tristes porque o programa não é respeitado pela instituição".
A abordagem pública do atraso de cinco meses do pagamento dos subsídios é tratada com muita delicadeza e seriedade pelos estudantes, enfatiza Nungulo.
"Somos todos angolanos e trabalhamos para a mesma nação".
Confira a entrevista para ouvir a mensagem que Desidério Nungulo deixou para o Presidente João Lourenço, a ministra do Ensino Superior Maria Sambo e a directora do INAGBE Ana Paula Elias.