Vagões sem produtos nacionais na linha ferroviária entre a província angolana de Benguela e a fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), de onde regressam com minérios, são vistos como um fator adverso a trocas comerciais no quadro do Corredor do Lobito, ainda sem efeitos práticos do investimento norte-americano.
Ao revelar uma média de cinco comboios por semana, o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, assinalou que esta dinâmica deve obrigar Angola a explorar já o seu próprio minério, enquanto observadores alertam para falta de competitividade num país com pretensão de avançar para o comércio livre.
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Após 1330 quilómetros de percurso, os vagões chegam ao Luau, no Moxico, de onde são levados para o território da RDC por locomotivas do país vizinho.
Feito o carregamento, o processo inverso coloca o manganês, sódio e outros minerais no terminal mineraleiro do Porto do Lobito, seguindo-se a transportação para Europa, Américas e Ásia.
A preocupação reside no vazio a partir de Benguela, província que outrora mandava produtos do mar, com o sal incluído, e bens agrícolas de grande valor comercial.
O economista e professor universitário Alfredo Sapi considera lamentável que Angola, vários anos após a reabilitação do Caminho-de-ferro de Benguela, não consiga mostrar a sua marca em países vizinhos.
“Já era esperada esta escassez em termos de exportação, o que faltou, no fundo, é o trabalho de casa, a tal produção por especialidades”, argumenta Sapi.
Aquela economista acrescenta que “a balança de pagamento pode trazer consigo um saldo negativo, vamos continuar a importar, adiando a produção em grande escala, o que impede de fornecer a países como a Zâmbia, RDC e a própria Namíbia”.
Fonte ligada ao concessionário dos serviços ferroviários e logística do Corredor do Lobito avançou que há empresas, nos ramos alimentar e construção civil, que efetuam estudos para que possam exportar, mormente em relação aos custos de transportação e encargos tributários.
Já o administrador da portuguesa Mota Engil, Francisco França, representante do concessionário, que engloba duas outras firmas europeias, volta a falar em oportunidades de negócios, mas pede tempo.
“É um projeto ferroviário que se desenvolve, vai demorar alguns anos até estar estabilizado, estamos na fase dos investimentos até à estabilização para o desenvolvimento da economia”, sustentou o administrador.
Quanto aos efeitos do anunciado investimento dos Estados Unidos, referiu que “está em desenvolvimento, é um processo”.
O que não pode esperar tanto, segundo o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, é o início da exploração de minérios em províncias bafejadas pelo Corredor do Lobito.
“Já começou o exercício experimental do transporte do minério da República Democrática do Congo e da Zâmbia, e isto está já a criar uma dinâmica, incluindo outros sectores, como o agronegócio, a indústria e da exploração mineira ao longo das províncias”, anuncia o governante.
Em resposta, o economista Filomeno Vieira Lopes, do Bloco Democrático, avisa que o fator custo/benefício deve colocar as comunidades a par de todo o processo
“Deve ter o consentimento das populações, por isso hoje temos problemas no Namibe. O custo/benefício não é uma calculatória só para quem investe, inclui os povos, analisar, no fim do dia, se haverá evolução na educação, saúde e infra-estruturas”, sublinha .Vieira Lopes.
No Corredor do Lobito, o concessionário, a operar há cinco meses, fala em investimentos na ordem dos 180 milhões de dólares
Também o Corredor Sul, que tem como destaque o Caminho-de-ferro de Moçâmedes, vai ser concessionado a uma entidade estrangeira.