Cooperação jurídica de Angola com outros países pode estar em perigo após decisão de tribunal suíço

palácio da Justiça em Luanda

Juristas angolanos admitem que a suspensão da cooperação com Angola decidida pela pela justiça suíça, no caso São Vicente, pode vir a ocorrer noutros países onde decorrem processos crime contra angolanos, no âmbito do combate à corrupção.

Mas há quem defenda que decisões tomadas por órgãos de justiça estrangeiros, como os da Suíça, não afetam Angola como Estado.

Numa decisão revelada ontem, 21 de setembro, o Supremo Tribunal da Suíça afirmou haver sérias dúvidas sobre a imparcialidade e independência das autoridades judiciais angolanas pelo que não pode haver cooperação com Angola no caso do empresário Carlos São Vicente.

O Supremo Tribunal suíço decidiu que autoridades suíças não podem cooperar com Angola antes de avaliarem a possibilidade e efectividade de obterem várias garantias diplomáticas do país, em particular no que diz respeito à independência e imparcialidade dos tribunais e o cumprimento dos direitos processuais de São Vicente.

O advogado Salvador Freire diz que a medida resulta “da falta de credibilidade da justiça angolana”.

“Alguma coisa terá de ser feita a nível interno para o país não cair no descrédito”, defende o causídico angolano, para quem, o risco de haver decisões do género ao nível de outros países “existe”.

A mesma opinião tem o advogado, Simão Afonso, que defende que o processo de suspensão despoletado na Suíça “pode abrir um precedente para actuações do género em processos futuros”.

“E faz todo o sentido, sim”, considera aquele jurista que acusa a justiça angolana do que qualificou de “falta de seriedade na aplicação dos princípios norteadores do Estado de Direito Democrático”.

Quem não acredita que a decisão da justiça suiça, de suspender a cooperação com Angola, venha verificar-se em relação a outros processos é o jurista, António Kangombe que defende que “cada caso é um caso”.

“Juridicamente não creio”, disse.

Ele considera legítima a decisão mas entende que ela não tem jurisdição em Angola “a menos que o condenado tenha também nacionalidade suíça e haja alguma conexão do crime entre Angola e Suiça”.

“Mas se há esta conexão a decisão o caminho juridicamente aceite não devia ser a suspensão da cooperação mas rever, através de cartas rogatórias, para ver o que de facto aconteceu”, defendeu.

Kangombe admite eventuais irregularidades que a justiça angolana possa ter cometido devido ao que chamou de "entusiasmo exacerbado” que se seguiu à abertura de vários processos de combate contra a corrupção no país .

“Sobretudo quando os operadores de justiça são também levados por motivações políticas há sempre o risco de se cometerem erros muito graves”, sublinhou.