Chapo deve manter tropas do Ruanda em Moçambique

Daniel Chapo, candidato da Frelimo à Presidência

A leitura é de analistas políticos depois do candidato da Frelimo ter sido "apresentado" por Filipe Nyusi a Paul Kagame

O candidato da Frelimo, partido no poder em Moçambique, deverá manter as tropas ruandesas e fundos europeus para proteger campos de gás em Cabo Delgado, que enfrenta uma insurgência terrorista desde outubro de 2017.

A leitura é de analistas políticos ouvidos pela Reuters, depois de Daniel Chapo se ter deslocado a Kigali para se encontrar com o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, acenando a continuidade dessa presença em Moçambique.

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Os demais candidatos ainda não se pronunciaram sobre o assunto, limitando-se a dizer que vão acabar com a insurgência.

"Os ruandeses são inegavelmente competentes", disse Tertius Jacobs, analista principal da consultoria de risco de Moçambique, Focus Group, para quem o país “tem pouca ou nenhuma alternativa melhor".

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Jacobs lembra que o Presidente cessante, Felipe Nyusi, “apresentou” Chapo a Kagame, em junho, o que para ele foi um aceno para a continuidade, em meio a relatos da sociedade civil de que as forças de segurança ruandesas poderiam construir um novo acampamento no distrito de Quissanga para proteger a região.

União Europeia mantém financiamento

O presidente e diretor executivo da consultora Pangea-Risk, Robert Besseling, também é de opinião que "Ruanda continuará a ser importante, tem milhares de tropas lá para proteger os locais de exploração de gás.

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Por seu lado, a União Europeia, que tem financiado a presença das tropas ruandesas em Cabo Delgado admite a chegada de mais reforços de Kigali para reprimitir a insurgência.

"A luta contra o terrorismo em Cabo Delgado é uma luta comum", disse um porta-voz do bloco europeu, cujo nome não foi citado pela Reuters.

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O contingente do Ruanda tem a tarefa de proteger o território ao redor de Afungi, onde se encontram os projetos de gás liquefeito das multinacionais TotalEnergies e ExxonMobil.

As forças ruandesas assumiram maiores responsabilidades depois da retirada de soldados da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), em julho.

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Um porta-voz daquela força não respondeu a um pedido de comentário por e-mail da agência Reuters.

TotalEnergies garante 80 por cento do financiamento

O presidente e diretor executivo da TotalEnergies afirmou na quarta-feira, 2, em Paris, que pretende ir a Moçambique no final deste mês para se reunir com o presidente que for eleito no dia 9 sobre os investimentos da empresa,

“O projeto continua rentável, continuamos empenhados”, assegurou Patrick Pouyanne numa conversa com investidores.

Pouyanne acrescentou que 70% a 80% de um pacote de financiamento de 14 mil milhões de dólares que sustenta o projeto foi reconfirmado pelos investidores.

"Estamos à espera de luz verde para o financiamento de três agências de crédito, algumas estão em países ocidentais onde as regras sobre o gás mudaram... assim que isto estiver em vigor, avançaremos", concluiu aquele executivo Pouyanne, quem, há algunas meses, afirmou que os trabalhos em Cabo Delgado podem ser retomados ainda neste ano se a segurança continuar a melhorar

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A ExxonMobil também está à espera de melhores dias para retomar os trabalhos, adiando assim os sonhosde Moçambique de se tornar um grande exportador de gás.

A companhia deve tomar uma decisão final sobre o investimento até o final de 2025.