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Expansão de negócios do Ruanda em Moçambique é uma "questão de soberania"


Paul Kagame, Presidente do Ruanda, e Felipe Nyusi, Presidente de Moçambique, em Cabo Delgado.
Paul Kagame, Presidente do Ruanda, e Felipe Nyusi, Presidente de Moçambique, em Cabo Delgado.

Em causa está a presença de empresas ligadas ao partido de Paul Kagame em setores importantes em Moçambique.

O Governo do Ruanda tem estado a reforçar a sua presença em Moçambique, sobretudo em termos militares, o que, na opinião dos analstas políticos ouvidos pela Voz da América, resulta das fragilidades do Estado e da incapacidade do Executivo de Maputo de prover segurança no norte do país, para que grandes projetos como o da TotalEnergie, em Cabo Delgado, se possam implementar de forma segura.

A recente contratação de uma empresa próxima do partido do Presidente ruandês, Paul Kagame, para garantir a segurança dos investimentos da multinacional francesa em solo moçambicano leva os observadores a alertar que a forte dependência de Maputo relativamente a Kigali, capital do Ruanda, pode ter consequências bastante negativas para os moçambicanos.

O analista político João Feijó diz que a falta de segurança obrigou à contratação de um exército estrangeiro, que substuiu o Estado moçambicano, e que juntamente com a TotalEnergies, definiram o melhor plano contra a insurgência, num raio de 50 quilómetros de Afungi até Mocimboa da Praia, onde as populações já se movimentam e desenvolvem livremente as suas atividades.

Feijó refere que ‘’isto levanta uma questão de soberania, no sentido de que o Estado não consegue assegurar os alvos económicos e coloca desafios para o reforço das Forças de Defesa e Segurança, por um lado, e, por outro lado, levanta questões sobre os custos destas operações, que não são transparentes, não se sabe quem paga e nem se conhecem quais são as contrapartidas’’.

"A verdade é que o Governo ruandês aproveita a presença das suas forças armadas em Moçambique para depois expandir os seus interesses económicos, o seu capital e as suas empresas muito próximas dos partidos no poder’’, destaca o investigador.

Feijó avançou que isto frustra as expetativas de algum empresariado moçambicano de participar nos negócios ligados ao petróleo e gás, porque “há muitos antigos combatentes que têm interesses nas empresas de segurança que gostariam de estar a garantir a segurança à volta d Afungi, e, aparentemente, quem conseguiu este grande negócio é uma empresa ruandesa’’.

O também analista político, Rui Mate, considera, por sua vez, que Moçambique está a abrir-se em demasia ao Ruanda e realça que a primeira vez que se ouviu falar de relações entre os dois países foi quando Paul Kagame enviou tropas para combater o terrorismo em Cabo Delgado, ‘’e depois o Ruanda começou a entrar em outras áreas como construção e segurança, todas elas ligadas aos grandes projetos’’.

Mate anota que ‘’o Ruanda está a preencher lugares estratégicos que poderiam ser ocupados por empresas moçambicanas, e isso acontece, porque há fragilidades em Moçambique, e os ruandeses estão a saber muito bem aproveitar a abertura que lhes está a ser dada’’.

‘’Não é uma situação normal ter-se homens estrangeiros, ligados a um Presidente e a um partido político, a combaterem massivamente num outro país, isto dá uma imagem bastante negativa para Moçambique’’, destaca o analista político Moises Mabunda, avançando que o normal ‘’era termos os nossos homens a defender a nossa soberania e termos uma ajuda, mas não nos quantitativos a que estamos hoje, sobretudo porque não é fácil controlar os militares que estão nas matas’’.

Mabunda estranha o facto de a União Europeia e a TotalEnergies financiarem o contingente ruandês em Cabo Delgado, considerando isso um mau precedente, porque os outros investidores também poderão exigir que os seus projetos tenham igualmente uma proteção privilegiada.

Para o porta-voz da Renamo, José Manteigas, a forte presença ruandesa em Moçambique emite sinais bastante perigosos, no sentido de que podem representar perda de soberania.

Manteigas considera que "isso é muito preocupante porque quando dentro de um Estado democrático como o nosso, onde há instituições que funcionam e existe um Governo que faz a gestão do Estado, assistimos forças militares estrangeiras a construírem e inaugurarem infraestruturas, com a tendência de criarem uma região autônoma, visto que se está a fazer um esforço para persuadir as populações no sentido de as ter sob os seus pés’’.

Entretanto, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi diz-se preocupado com o facto de os críticos à presença ruandesa em Cabo Delgado serem maioritariamente moçambicanos e realça que, com o apoio fundamental do Ruanda, os insurgentes foram expulsos de todas as sedes distritais.

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