Cabo Delgado: Apreensão de drogas reabre debate sobre tráfico e insurgência

Droga apreendida em Nacala

Analistas políticos consideram que as drogas são apenas uma pequena franja no financiamento do terrorismo em Cabo Delgado, mas a fragilidade securitária gerada pelo conflito e a corrupção da elite politica tem facilitado os barrões da droga.

O Serviço de Investigação Criminal de Moçambique (Sernic) apreendeu 80 quilogramas de drogas e deteve um nacional, numa operação que reacendeu o debate sobre o narcotráfico e uma eventual ligação à insurgência e em Cabo Delgado.

Segundo a corporação, a apreensão de 42 quilogramas de cocaína, 34 de anfetamina e quatro quilograma de heroína (totalizando 80 quilograma) de drogas resulta de uma investigação de três meses sobre as transações da droga em Mecufi.

“Diligencias estão em curso para neutralizar outros integrantes”, disse Noémia João, porta-voz do Sernic em Cabo Delgado, assegurando que a droga provinha das Ilhas Comores e tinha como destino a província de Nampula.

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“Para o conflito de Cabo Delgado a droga esta lá e os barrões de droga estão lá”, vincou o analista político Tobias Zacarias, quem lembra que Moçambique já foi denunciado pelos governos da África do Sul e dos Estados Unidos como um dos maiores polos de tráfico da droga para o continente e mundo.

Ele observa que o Estado não se impõe em todos os lugares do país, não tendo por isso a capacidade de controlo das suas fronteiras, daí as facilidades para as transações da droga ocorrer na costa de Cabo Delgado, incluindo em Nampula e Zambézia.

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Já o também analista político Wilker Dias, entende que Moçambique é o país mais apetecível e fragilizado para o tráfico de drogas no continente, aliado ao alto nível de corrupção da elite politica, que tem facilitado transações das drogas nos portos do norte do país.

“A fragilidade securitária em Cabo Delgado cria maior mobilidade dos traficantes de droga”, aponta Dias, salientando que esta fragilidade “não está apenas sendo criada pelo terrorismo”, mas pela “influência, abusos de poder e a corrupção nos sistemas portuários”, geridos pela elite politica moçambicana.

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Aquele observador anota que o cenário de tráfico de drogas persiste e está longe de ser controlado em Moçambique, igualmente devido a fragilidades no patrulhamento por interceptores na costa de Cabo Delgado, apesar de uma ligeira melhoria após doação de novas embarcações.

Em Outubro de 2021, as autoridades moçambicanas incineraram em Pemba 250 quilos de droga que tinha sido apreendida em alguns dos locais afectados pela violência armada que eclodiu em 2017.

Estudos de várias organizações internacionais já haviam relacionado o narcotráfico e a insurgência em Cabo Delgado, destacando que os insurgentes do Estado Islâmico estarem envolvidos também no narcotráfico no norte de Moçambique e na Tanzânia.