A decisão do governo do Quénia de enviar tropas para a fronteira com a Somália para perseguir militantes da al-Shabab constitui uma mudança significativa na política externa de Nairobi e poderá alterar radicalmente as relações entre os dois países.
Durante vários anos o Quénia assumiu uma posição passiva em relação ao seu anárquico vizinho. Décadas de guerra na Somália traduziram-se pela chegada de centenas de milhar de pessoas a campos de refugiados situados junto à fronteira erodindo os recursos e alterando o meio ambiente.
O Quénia manteve-se durante muito tempo à margem do conflito no país vizinho, mas desempenhou um papel fundamental na formação do governo federal de transição albergando mesmo em Nairobi aquele organismo até 2005.
Contudo, nos últimos meses, uma série de raptos no Quénia, levados supostamente a cabo por militantes somalis, aumentaram bastante a tensão ameaçando mesmo o rentável sector do turismo queniano.
O rapto de dois médicos do campo de refugiados de Dadaab no Quénia foi a última gota de água motivando os militares quenianos a intervirem no passado fim-de-semana.
Egara Kabaji, ex-porta-voz do ministério queniano dos negócios estrangeiros, não se mostrou surpreendido com a decisão: “ é sabido que o Quénia defende a boa vizinhança. Mas trata-se de uma autêntica provocação e temos que responder a essa provocação.”
Persiste contudo a confusão acerca destas operações. O ministério queniano dos negócios estrangeiros disse à imprensa que o exército nacional tinha entrado na Somália. Contudo outras entidades oficiais quenianas negaram que a incursão se tivesse verificado.
O porta-voz do governo somali negou também uma intervenção militar queniana: “posso confirmar que eles não estão lá. Trata-se de forças somalis que estavam a ser treinadas no Quénia que efectuaram as operações para confrontar a al Shabab, um inimigo comum do Quénia e da Somália.”
Contudo uma testemunha ocular afirmou à VOA que viu aviões caça da força aérea queniana entrando várias vezes no espaço aéreo somali nos últimos dias.
Quanto à al Shabab desmente ter estado envolvida nos últimos raptos e ameaçou exercer represálias contra o Quénia. No ano passado o grupo reivindicou um atentado na capital ugandesa, Kampala, que causou a morte de 74 pessoas.
O rapto de dois médicos do campo de refugiados de Dadaab no Quénia foi a última gota de água.