8 Jan 2011 - O dia Nacional da Cultura é festejado, oficialmente, no Dundo, Lunda-Norte, com diversas actividades culturais. No entanto, a alegria e o ânimo gerados com as festividades não se reflectem no debate quando se discute o que é a cultura angolana, unidade cultural ou até mesmo a identidade cultural angolana.
As controvérsias acontecem porque Angola é um país dividido, separado e diferente nas suas linhas culturais. E essas assimetrias expressam a sua multiplicidade étnica, racial e linguística.
São cerca de 16 milhões de habitantes que se comunicam em português (como língua nacional), e regionalmente em sete línguas diferentes, mais de 20 dialectos, e sete grupos etnolinguísticos. Todos eles diferentes nos hábitos e costumes, mas unidos pela história, pelo território e pelo pais que a todos se liga.
O padre Muanamossi Matumona é um jornalista e sociólogo que muitas vezes escreveu sobre cultura angolana. Um dos mais controversos que publicou foi sobre Unidade Cultural Angolana no ano de 1993. Um ano difícil para o país que continuava a lutar de armas na mão, depois de eleições problematicas. Uma guerra que para muitos era fruto até da intolerância cultural que se atribuía a umbundus (representados pela UNITA) e quimbundus ( do lado governamental, principalmente o MPLA.
Mas o filósofo Almerindo Jaka Jamba chama atenção a ideia que se tenta transmitir com o slogan “um povo e uma só nação”. O estudioso e professor universitário vai mais longe dizendo mesmo que apesar da independência politica e económica, o angolano precisa ainda de se encontrar como africano e a isso, diz o académico, corresponde uma dimensão estratégica.
O Padre Muanamossi Matumona insiste em ser reconhecida ao povo angolano a existência da cultura Angolana.
África tem sido, à exemplo dos outros continentes muito afectada pela globalização e por essa razão tem visto, na opinião de Jaka Jamba, anulados muitos dos seus valores e traços culturais, dai ser precisa uma solução
E a protecção dos valores culturais nacionais da cultura do mundo é também uma ideia defendida pelo padre Muanamossi Matumona.
O território angolano já foi habitado pelos povos pré-Bantos Khoisan, Cuepes e Cuíssis e os povos Bantos que num movimento migratório que durou mais de seis séculos vieram estabelecer-se no actual território de Angola, que inclui os povos Bakongo, Ambundo, Lunda-Quioco, Ovimbundo, Nganguela, Nhaneca-Humbe, Ambó, Herero e Xindonga, bem como o grupo híbrido dos Quimbares na região de Namibe (Moçamedes) que resultou da misceginação de indivíduos oriundos de grupos étnicos diferentes que foram atraídos para trabalhar na indústria da pesca.
35 anos depois da independência, o debate sobre a identidade cultural voltou a actualidade. Sobre ele Jaka Jamba preferiu colocar o seu acento Tónico nas línguas nacionais.
Jaka Jamba diz ainda que se nota a falta de um projecto que conduza a oficialização das línguas regionais como nacionais, introduzindo-as como disciplinas escolares.
Mas nem tudo está perdido. Pelo menos literatura sobre alguns línguas nacionais não tem faltado nos últimos meses.E Mbanza Congo pegou. O processo para que a cidade seja inscrita como património Mundial já começou. Uma comissão foi criada para levar mais dados sobre a cidade a UNESCO.
Mas para além da língua, vozes se tem levantado a reclamar do que consideram ser a excessiva promoção das províncias do litoral em detrimento doutras regiões do país. No campo musical nota-se ainda uma guerra cultural sobre o Semba, um ritmo urbano produzido principalmente em Luanda, que muitas vezes é apresentado como sendo um ritmo nacional o que tem levantado contestações no sul.
O padre Matumona entende que possa haver um sentimento de discriminação e exclusão mas que há um certo equilíbrio cultural.
E é curiosa a resposta do padre Muanomossi Matumona, ele um filho da província do Uige, do grupo étnico bakongo, cujo cordão umbilical tem pouca ligação com o semba mas que hoje o ouvido já se acostumou e aceita.
Mas o quadro não é preto quando se pinta muitas vezes. Jaka Jamba reconhece que algum trabalho está a ser feito no entanto critica desta vez a dotação orçamental que é atribuída a investigação cultural.