No Iémen a al-Qaeda está a aproveitar o vácuo no poder (devido ao ataque contra o presidente Ali Abdullah Saleh e a sua ida para a Arábia Saudita) para controlar parte do país onde poderá instalar bases e empreender ataques ainda mais agressivos contra os Estados Unidos e outros interesses internacionais.
De acordo com uma reportagem publicada no jornal The Washington Post, isso é possível devido ao colapso virtual do regime do presidente Saleh, demasiadamente preocupado com a sua sobrevivência para ser eficaz na luta contra o terrorismo.
A sociedade iemenita está altamente fragmentada e a possível queda do regime abriu uma luta pelo poder entre os que ainda são leais a Saleh, os jovens activistas, a oposição política tradicional, os líderes tribais mais poderosos e os generais que abandonara, o regime.
Enquanto o governo combatia estas facções nas ruas da capital, a al-Qaeda na Península Arábica tomava cidades pela força. As mais importantes são Jaar, na província de Anyan e Zinjibar, capital dessa província.
Situada junto à costa, Zinjibar não fica longe do Mar Vermelho e dá acesso a importantes rotas marítimas vitais para o comércio de petróleo. Tudo parece indicar que a al-Qaeda tenciona ocupar uma parte do país, receando-se que tente criar uma espécie de estado autónomo, como base para operações terroristas.
Um jornalista local diz que os islamitas se apresentam como Ansar al-Sharia (ou os Defensores da Sharia) e pretendem criar um emirado islâmico na região. Isso preocupa os Estados Unidos, que reconheceram, na semana passada, estarem a atacar alvos da al-Qaeda no Iémen.
Os aliados iemenitas de Bin Laden, são chefiados por um americano, Anwar el-Aulaqi. O seu grupo é responsável por um ataque contra Fort Hood, no Texas, em que foram mortas 13 pessoas e pela tentativa de atentado bombista contra um avião americano a caminho de Detroit, no Natal de 2009.
Foi também este grupo que procedeu à expedição aérea de encomendas com bombas, detectadas antes de explodirem a bordo de aviões que se dirigiam para os Estados Unidos.
Alguns analistas dizem que esta expansão da al-Qaeda no Iémen é o resultado da estratégia do presidente Saleh, o qual teria deixado que os islamitas tomassem partes do país para convencer os Estados Unidos de que precisavam dele para combater o terrorismo. Mas com o aparente colapso do regime isso parece ter sido um mau plano.
A oposição contesta, há meses, o regime de Saleh. Este fez três acordos com a oposição para abandonar o poder e renegou-os todos. Recentemente foi gravemente ferido num ataque dos rebeldes contra o seu palácio, foi para a Arábia Saudita receber tratamento médico, mas continua a recusar-se a abandonar o poder. A teimosia de Saleh, e o consequente enfraquecimento não só do regime como do estado iemenita parece ter aberto mais uma porta ao terrorismo.