Para muitos académicos a forma como o Brasil tem avançado em África reproduz parte do imperialismo visto no continente em séculos passados.
Académicos do Brasil e de países africanos, reunidos em Belo Horizonte, defendem a necessidade urgente de mudança na postura dos brasileiros no continente, sob pena de o país reforçar uma imagem neocolonialista.
O assunto foi discutido na quarta-feira quando foi inaugurado, no Brasil, o Centro de Estudos Africanos, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (MG).
O encontro de pesquisadores dos países de língua portuguesa, com destaque para os africanos, foi tomado por críticas aos projetos de empresas brasileiras desenvolvidos na África, sem vínculos com as necessidades e a população locais.
Um dos exemplos citados pelos pesquisadores é o comportamento da mineradora Vale, atuante em Moçambique. A empresa, a exemplo de outras, é acusada de ignorar a cultura local, impondo modos de vida, da comida à moradia, aos seus trabalhadores africanos.
Para estudiosos, a forma como o Brasil tem avançado na África reproduz parte do imperialismo visto no continente em séculos passados.
Ana Piedade Monteiro, representante do Centro de Estudos Africanos de Moçambique, acredita que os brasileiros que foram para a África não conheciam o continente e nem tiveram a preocupação de estudar melhor a riqueza humana local.
“A importância desses estudos prévios, quando nós queremos fazer uma intervenção, é para podermos nos capacitar para a correção de problemas que podem surgir. E, nesse caso da Vale e de outras empresas que estão em Moçambique, eu acho que não teve seriedade nisso”, afirma.
“Para mim o erro está exatamente aí. Não sei foi um erro ou se foi a emoção de saber que havia um país da África com tanta riqueza”, explica a professora que não descarta a boa vontade dos brasileiros. Para ela, pode até ter havido a intenção de ajudar no desenvolvimento do país, mas a forma como as coisas foram feitas foi muito equivocada, “o caminho seguido foi errado”.
A pesquisadora moçambicana avalia que, apesar dos erros cometidos, o Brasil pode mudar a imagem negativa que vem desenvolvendo na África. Nesse caso, o papel de pesquisadores, organizados em centros de estudos como o lançado na UFMG, são importantes. “Vamos agora corrigir isso através da cooperação dos centros de estudos. Não será só o nosso Centro de Estudos de Moçambique a chamar a atenção, mas também o Centro de Estudos Africanos do Brasil. Quando somos nós de lá e os outros de cá, a pessoa percebe que alguma coisa está errada”.
Mas, é claro que, para as mudanças ocorrem, é preciso contar com a vontade das empresas. “Se as empresas não estão preparadas para ouvir e tomar seriamente aquilo que são as sugestões dos Centros vamos cair em água morta.”
A pesquisadora brasileira Vanicléia Silva Santos, do recém-lançado Centro de Estudos Africanos da UFMG, lembra que o problema é que as empresas brasileiras não têm o costume de buscar a universidade para conhecer melhor a realidade de onde ela vai desenvolver projetos.
“Muitas vezes, elas querem o conhecimento técnico, nem sempre buscam a área de humanidades. Mas, a gente espera que nesse momento, que temos o governo federal articulado com as universidades federais, as universidades articuladas com os seus professores, isso se reverta em um projeto. Que o conhecimento não fique só dentro da Universidade, mas que possa ser utilizado pela sociedade. Incluem-se aí as empresas que estão no que a gente chama hoje de uma nova corrida para a África, que é uma corrida cujo foco é o comércio, são negócios”, afirma.
Your browser doesn’t support HTML5
O encontro de pesquisadores dos países de língua portuguesa, com destaque para os africanos, foi tomado por críticas aos projetos de empresas brasileiras desenvolvidos na África, sem vínculos com as necessidades e a população locais.
Um dos exemplos citados pelos pesquisadores é o comportamento da mineradora Vale, atuante em Moçambique. A empresa, a exemplo de outras, é acusada de ignorar a cultura local, impondo modos de vida, da comida à moradia, aos seus trabalhadores africanos.
Para estudiosos, a forma como o Brasil tem avançado na África reproduz parte do imperialismo visto no continente em séculos passados.
Ana Piedade Monteiro, representante do Centro de Estudos Africanos de Moçambique, acredita que os brasileiros que foram para a África não conheciam o continente e nem tiveram a preocupação de estudar melhor a riqueza humana local.
“A importância desses estudos prévios, quando nós queremos fazer uma intervenção, é para podermos nos capacitar para a correção de problemas que podem surgir. E, nesse caso da Vale e de outras empresas que estão em Moçambique, eu acho que não teve seriedade nisso”, afirma.
“Para mim o erro está exatamente aí. Não sei foi um erro ou se foi a emoção de saber que havia um país da África com tanta riqueza”, explica a professora que não descarta a boa vontade dos brasileiros. Para ela, pode até ter havido a intenção de ajudar no desenvolvimento do país, mas a forma como as coisas foram feitas foi muito equivocada, “o caminho seguido foi errado”.
A pesquisadora moçambicana avalia que, apesar dos erros cometidos, o Brasil pode mudar a imagem negativa que vem desenvolvendo na África. Nesse caso, o papel de pesquisadores, organizados em centros de estudos como o lançado na UFMG, são importantes. “Vamos agora corrigir isso através da cooperação dos centros de estudos. Não será só o nosso Centro de Estudos de Moçambique a chamar a atenção, mas também o Centro de Estudos Africanos do Brasil. Quando somos nós de lá e os outros de cá, a pessoa percebe que alguma coisa está errada”.
Mas, é claro que, para as mudanças ocorrem, é preciso contar com a vontade das empresas. “Se as empresas não estão preparadas para ouvir e tomar seriamente aquilo que são as sugestões dos Centros vamos cair em água morta.”
A pesquisadora brasileira Vanicléia Silva Santos, do recém-lançado Centro de Estudos Africanos da UFMG, lembra que o problema é que as empresas brasileiras não têm o costume de buscar a universidade para conhecer melhor a realidade de onde ela vai desenvolver projetos.
“Muitas vezes, elas querem o conhecimento técnico, nem sempre buscam a área de humanidades. Mas, a gente espera que nesse momento, que temos o governo federal articulado com as universidades federais, as universidades articuladas com os seus professores, isso se reverta em um projeto. Que o conhecimento não fique só dentro da Universidade, mas que possa ser utilizado pela sociedade. Incluem-se aí as empresas que estão no que a gente chama hoje de uma nova corrida para a África, que é uma corrida cujo foco é o comércio, são negócios”, afirma.