Em entrevista ao Fala África, a Dra. Fátima Sampaio Fernandes, psicóloga da saúde e psicanalista, abordou o impacto profundo e duradouro do transtorno de estresse pós-traumático (PTSD) nas famílias dos veteranos de guerra em Angola. Com uma experiência ampla na área, incluindo suas contribuições para a “Psicologia do Dinheiro” da Folha Tributária da AGT e para o Expansão, a Dra. Fátima compartilhou seus conhecimentos e experiências sobre as dinâmicas familiares afetadas pelo PTSD, destacando as dificuldades de diálogo, os efeitos na infância e as abordagens terapêuticas necessárias para enfrentar essa realidade.
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Efeitos do PTSD nas famílias
A Dra. Fátima ressaltou que o PTSD nos ex-militares causa impactos profundos na estrutura familiar, especialmente na relação entre pais e filhos.
"Encontro muitas pessoas que quase que começam assim: ‘Doutora, o meu pai é militar, ou foi militar,’” comenta a especialista, explicando como esses lares geralmente são marcados por uma educação rígida e autoritária. O ambiente familiar, baseado em uma “obediência cega” e na presença de estigmas culturais sobre respeito, sufoca a expressão de sentimentos e dificulta o desenvolvimento saudável das crianças.
Ela apontou que o comportamento autoritário de pais militares afeta o crescimento psicológico dos filhos, dificultando a criação de laços afetivos e gerando padrões de isolamento e desconfiança.
Muitos dos veteranos, segundo ela, trazem da guerra “o facto de ser mais facilmente irritável,” vivendo em constante estado de alerta e projetando esse comportamento dentro de casa. “Ninguém sai da guerra sem consequências,” explicou.
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Abordagens terapêuticas e mudar mentalidades
Para abordar essa questão, a Dra. Fátima defendeu uma transformação na mentalidade social como base para enfrentar os efeitos do PTSD. “A única solução, na minha opinião, ou a melhor solução… é tentar mudar mentalidades, escrever sobre isso, falar sobre isso,” diz ela.
Segundo a psicóloga, enquanto o estigma sobre saúde mental prevalecer, muitos dos afectados pelo PTSD e suas famílias não buscarão ajuda. Ela propôs que a conscientização sobre a educação positiva possa promover uma mudança duradoura na forma como os pais exercem sua autoridade, incentivando uma educação sem violência e baseada no respeito mútuo.
A especialista reforçou a importância do apoio psicológico tanto para os pais quanto para os filhos, embora reconheça as dificuldades financeiras envolvidas. “É verdade, fica muito caro, porque também é verdade que ninguém vai curar as crianças sem curar os pais,” afirmou.
A Dra. Fátima destacou a necessidade de tratamento psicológico conjunto para romper o ciclo de violência e abuso, propondo que a sociedade adote uma abordagem educativa e preventiva.
Mensagem aos veteranos
Ao final da entrevista, a Dra. Fátima deixou uma mensagem especial para os veteranos: “Eles próprios dizem que morreriam pelos filhos. Então, se querem morrer por eles, vivam por eles.”
A Dra. Fátima enfatizou que o amor não deve ser conquistado pelo medo ou pela obediência cega, mas sim pelo respeito e afeto. “Vamos procurar um psicólogo se for preciso,” encorajou a psicóloga, lembrando que o amor é o caminho para um relacionamento familiar saudável e uma sociedade mais acolhedora.