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Um ano após assinatura de contratos, falta dinheiro para casas de famílias vítimas de cheias em Benguela


Tendas nos Cabrais, Benguela, Angola
Tendas nos Cabrais, Benguela, Angola

Relatos de morte, doenças e ausência de serviços básicos num projecto de urbanização sem condições para receber chuvas

Limitações financeiras condicionam a conclusão das casas para as mais de 300 famílias vítimas das cheias de 2015 na província angolana de Benguela, um ano após a aprovação do projecto, o que está a gerar revolta numa região ainda à espera de água, electricidade, mercados e outros serviços sociais, soube a VOA.

Agastados, moradores dos Cabrais, no município da Catumbela, pedem contas ao empreiteiro, escolhido mediante um ajuste directo assinado pelo Presidente João Lourenço, salientando que as chuvas deste mês podem agudizar a situação.

A conclusão das casas, orçada em 1,5 mil milhões de Kwanzas, quase 3,5 milhões de dólares norte-americanos, volta a ser solicitada numa altura em que dezenas de famílias abandonaram o local, por falta de condições, e regressaram para as mesmas zonas da tragédia de Março de 2015.

Não há uma única moradia concluída, embora existam já movimentações do empreiteiro, conforme conta Cecília António, ao descrever o ambiente naquele projecto de urbanização.

“As construções não estão a andar devidamente, quando as pessoas notam que chegou o senhor Pederneira [empreiteiro] … cada família quer que a sua casa seja a primeira, há uma guerra, o povo está a se bater no chão”, relata a munícipe, acrescentando que “com a chuva de Março , vamos sofrer mais, as casas são improvisadas, falta rebocar, água e luz”.

Cecília, uma cidadã que diz ter perdido as bases do negócio que efectuava, assinala que a fome e as doenças são uma realidade nos Cabrais.

“Aqui ainda vai sair guerra, é catana que vai sair, porque todo o mundo está a sofrer, dia 11 de Março vamos fazer oito anos aqui. Mortes, fome, as crianças não estão bem, o paludismo está 24/24, sem medicamento no posto de saúde, assim não dá”, aponta.

José Maria, que tem tido contacto com as autoridades, revela que há uma exigência do governador provincial, Luís Nunes, dirigida à construtora.

“Obrigaram-lhe a acabar estas casas porque ele, na documentação administrativa, disse que já tinha acabado as casas, mas não. Na visita disseram que tens de acabar, podes ter problemas. Estão a falar em 25 casas numa primeira fase, depois … parece que vai receber mais verbas para dar sequência”, refere o morador.

Foi justamente o que confirmou à VOA uma fonte da Administração Municipal da Catumbela, salientando que as limitações financeiras atrasam o processo.

De acordo com a mesma fonte, as casas abandonadas pelas famílias serão as últimas.

A VOA voltou a contactar o empresário Beto Pederneira, o empreiteiro, após garantias de um pronunciamento, mas sem sucesso.

Ao aprovar este projecto de conclusão, em Fevereiro de 2022, o Presidente da República assinou igualmente contratos para casas evolutivas para famílias em zonas de risco, no Lobito e Catumbela, num valor de 1,5 mil milhões de kwanzas.

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