Vítimas das cheias de 2015 na província angolana de Benguela, ainda sem habitações, perderam para uma empresa de construção civil a única fonte de sobrevivência, um espaço onde exploravam árvores para a transformação em carvão, vedado para a instalação de placas solares, soube a VOA.
Na localidade dos Cabrais, pertencente ao município da Catumbela, vários cidadãos dizem que a ocupação dos terrenos, há alguns meses, agudizou a situação das 350 famílias que vinham já enfrentando a fome e falta de água e medicamentos.
A inserção de membros da comunidade dos Cabrais nas obras que culminarão com a produção de energia solar para Benguela, a partir do terceiro projecto do género, foi a solução encontrada para acabar com o conflito de terrenos.
José Maria, morador da zona, ao falar de dificuldades como a alimentação, assistência medicamentosa e falta de água, disse que a empresa MCA, parceira do Governo, não está a cumprir.
"Eles, depois da terraplanagem, já estão a empregar, colocaram 60 (pessoas) do Biópio, nós... nada. O soba teve de levar três pessoas , só assim eles receberam, mas entre sessenta só temos três", lamenta o munícipe.
Ele indica que "as pessoas não têm nada para sobreviver, tudo está escasso” e que“o centro de saúde existe mas não há medicamentos, e os escorpiões, cobras e lacraus estão sempre a ferrar as pessoas".
Das autoridades locais, continuam a chegar promessas.
"Dia 11 de Maio, mandámos vir o senhor governador para ver o nosso sofrimento. Ele prometeu ajudar a construir as casas, vamos ver", diz José Maria.
A jovem Celita, na descrição do dia-a-dia, realça que muitos populares começam a abandonar os Cabrais, a 30/35 quilómetros das cidades do Lobito e Catumbela, regressando às chamadas zonas de risco.
"A população continua mesmo no sofrimento, com falta de água e comida, por isso algumas famíliascomeçam a descaír lá para baixo, nas zonas de risco", salienta a moradora, acrescentando que "há roubo de blocos nas obras, a área está abandonada".
O administrador municipal da Catumbela, Fernando Belo, explica, sem gravar entrevista, que o incumprimento relativo aos postos de trabalho vai ser motivo, daqui a uma semana, de um encontro com a operadora em causa, cuja direcção se encontra ausente do país.