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"Troika" da SADC leva Moçambique a mudar de estratégia no combate à insurgência em Cabo Delgado


Emmerson Mnangagwa (esq) e Filipe Nyusi (dir) em Manica
Emmerson Mnangagwa (esq) e Filipe Nyusi (dir) em Manica

Analistas moçambicanos consideram que o uso de grupos privados para o combate à insurgência em Cabo Delgado coloca Maputo numa situação desconfortável, devido à evolução do fenómeno, que exige agora uma estratégia regional robusta para dominar a revolta islâmica.

"Troika" da SADC leva Moçambique a mudar de estratégia no combate à insurgência em Cabo Delgado
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O jornalista e analista Fernando Lima afirma que Moçambique podia ter refreado a insurgência sem a ajuda regional e da União Africana, mas o agravamento do conflito no terreno e o reconhecimento por parte de Maputo de estar perante uma “agressão externa” em Cabo Delgado, coloca o país dependente do apoio regional para conter a violência.

“Há forças externas a combater a violência, que são grupos privados de mercenários, o que coloca Moçambique numa situação desconfortável”, explica Lima à VOA, para quem “depois de Maputo ter declarado o conflito como ameaça externa faz sentido que a troika para assuntos de segurança se reúna e discuta o problema”.

Ele vê uma uma mudança na estratégia de Maputo.

A troika para a áreas de Política, Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) está reunida nesta terça-feira, 19, em Harare, a capital de Zimbabwe, para analisar o estágio atual da situação política e de segurança regional, aparentemente para deliberar o apoio a Moçambique.

A reunião em que participam os chefes de Estado do Zimbabwe, Botswana e Zâmbia tem a presença do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, que ocupa a vice-presidência da SADC.

Um comunicado oficial do Governo do Zimbabwe avança que a reunião realiza-se a pedido de Maputo.

“A reunião da troika torna o pedido de auxílio mais abrangente, com outro tipo de auxílio dos países, como a África do Sul que tem a presidência do órgão ou outros países que tem exércitos poderosos”, acrescenta Fernando Lima.

Por sua vez, Sansão Nhancale considera que a estratégia de Moçambique de uso de grupos privados deve ser de curto prazo, sendo por isso necessário o apoio dos países da região para combater a revolta islâmica em Cabo Delgado.

“Os mercenários devem ser usados a curto prazo porque a longo prazo é desvantajoso, já não têm compromisso com o Estado sob ponto de vista patriótico”, afirma Nhancale, para quem, por isso “essa mudança de estratégia na busca de apoios da região”.

Entretanto, Fernando Lima repara que havendo, por hipótese, um problema de natureza bilateral entre Moçambique e a Tanzânia, devido ao silêncio deste último sobre a insurgência em Cabo Delgado, o envolvimento da troika pode desanuviar o cenário.

“Pode deliberar para estabelecimento de um cordão de segurança ao longo da extensa linha de fronteira entre os dois países, sabendo que uma das partes da violência utiliza a fronteira da Tanzânia para atacar Moçambique”, concluiu Lima.

Observadores dizem que a reunião entre o Presidente moçambicano Filipe Nyusi e o seu homólogo do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, a 30 de abril em Chimoio, na província de Manica, terá sido decisiva para a convocação da troika.

Moçambique enfrenta uma insurgência islâmica há dois anos e meio e, em meados de abril, o Governo de Maputo reconheceu que estava a sofrer uma “agressão externa perpetrada por grupos de terroristas” em Cabo Delgado, que já provocou pelo menos 1.100 mortos e mais de 200 mil deslocados.

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