O assassinato do líder do Hamas, Yahya Sinwar, acendeu o debate sobre quem poderia governar a Gaza devastada pela guerra, numa altura em que Israel prossegue a sua guerra no território palestiniano, prometendo eliminar os militantes.
Os palestinianos insistem que o futuro de Gaza deve ser decidido por eles, rejeitando qualquer intervenção estrangeira.
Mas muitos membros da comunidade internacional estão a dar sinais de que estão dispostos a moldar o futuro do território no pós-guerra, mesmo que o cessar-fogo continue a ser difícil.
Qual é o plano de Israel?
As autoridades israelitas afirmaram que não tencionam governar Gaza, mas opõem-se firmemente ao regresso do Hamas ao poder no território que governa desde 2007.
Alguns israelitas de extrema-direita, incluindo membros da coligação do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, lançaram a ideia de restabelecer os colonatos israelitas em Gaza, dos quais Israel se retirou em 2005.
Para já, os militares israelitas tencionam permanecer “o tempo que for necessário” para estabelecer um “acordo de segurança”, disse uma fonte de segurança à AFP, acrescentando que “o nosso objetivo agora não é controlar Gaza”.
Os meios de comunicação social israelitas noticiaram o possível envio de uma força internacional, com potenciais participantes, incluindo o Egito e os Emirados Árabes Unidos.
As condições específicas para esse envolvimento ainda não são claras.
Que papel para os palestinianos?
A Autoridade Palestiniana (AP), que governa partes da Cisjordânia ocupada, tem vindo a trabalhar para assegurar uma posição em Gaza através de estruturas municipais onde os seus funcionários continuam ativos.
Um responsável do Hamas disse à AFP que o grupo apoiaria um governo tecnocrático em Gaza sem participação direta, solicitando ao mesmo tempo que o Hamas fosse consultado sobre a nomeação desse governo.
As fações políticas palestinianas estão a explorar uma liderança unificada, abordando a divisão que surgiu em 2007 quando a Fatah, o partido do presidente palestiniano Mahmud Abbas, foi expulso de Gaza.
Na cimeira dos BRICS, realizada esta semana, Abbas afirmou que Gaza é uma “parte integrante do Estado da Palestina” sob a sua administração.
Abbas disse que “a Palestina rejeita quaisquer medidas que levem à separação de Gaza do Estado da Palestina”.
“A Autoridade não poderá funcionar na Faixa de Gaza sem o Hamas”, afirmou Muhammad Shehada, do Conselho Europeu para as Relações Externas, salientando o apoio duradouro que o Hamas mantém entre alguns habitantes de Gaza e o número considerável de funcionários públicos em funções desde 2007.
As discussões sobre a reabertura da passagem de Rafa entre Gaza e o Egito - atualmente sob controlo militar israelita - incluíram parceiros estrangeiros, como a União Europeia, que anteriormente assegurava o pessoal do terminal.
A presença da AP em Rafa poderia permitir o acesso à cidade de Gaza, evitando a dependência das forças israelitas.
Quais são os obstáculos?
“Estamos apenas a começar as difíceis discussões sobre o início do fim”, disse um diplomata europeu em Israel.
“Os israelitas manifestam o desejo de ver emergir líderes palestinianos, mas procuram fazê-lo fora dos canais políticos palestinianos existentes.”
Fontes diplomáticas afirmam que alguns países estrangeiros ou empresas privadas, como a Constellis (antiga Blackwater), poderiam manter a segurança em Gaza, mas a ideia permanece especulativa.
Os Estados árabes, cautelosos com a imagem das suas forças a confrontar a resistência palestiniana, mantêm-se prudentes.
“Ninguém quer ser o eixo de uma reconstrução complexa, que envolve numerosas questões políticas e de segurança, nem quer servir de apoio financeiro aos israelitas”, disse Xavier Guignard, investigador e especialista em questões palestinianas no NORIA Research.
Acrescentou ainda que a criação de um governo para Gaza pode ser prematura enquanto o exército israelita permanecer na região.
“Não há forma de saber quanto tempo durará uma ocupação militar”, afirmou.
Sondagens recentes em Israel indicam que a oposição pública à criação de um Estado palestiniano é muito elevada.
Os especialistas sugerem que é pouco provável que os israelitas apoiem o regresso da AP a Gaza.
“Ter uma Autoridade Palestiniana reforçada em Gaza seria uma resposta natural, mas continua a ser uma linha vermelha”, disse Guignard.
“Esta abordagem pode parecer uma solução política que facilite a reunificação de Gaza e da Cisjordânia.”
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