O Presidente do Quénia, William Ruto, anunciou na quinta-feira, 11, a demissão de quase todo o seu gabinete e a realização de "consultas alargadas" para formar um "governo de base alargada", na sequência de protestos generalizados contra o governo.
O país da África Oriental ficou abalado depois de, no mês passado, manifestações pacíficas contra o aumento dos impostos se terem transformado em violência mortal, com a polícia a disparar contra a multidão que invadiu o parlamento, deixando-o parcialmente em chamas.
Liderados em grande parte por jovens quenianos da Geração Z, os protestos mergulharam a administração de Ruto na mais grave crise da sua presidência, obrigando-o a abandonar os aumentos de impostos e a esforçar-se por conter os danos.
Na mais recente medida para acalmar as tensões, Ruto afirmou que a sua decisão se estenderia a todos os ministros, incluindo o Procurador-Geral, mas excluiu o Primeiro Secretário do Governo e Ministro dos Negócios Estrangeiros, Musalia Mudavadi, e o Vice-Presidente, Rigathi Gachagua.
Ruto disse que tomou a decisão de demitir os ministros "após reflexão, ouvindo atentamente o que o povo do Quénia tem dito e depois de uma avaliação holística do desempenho do meu gabinete e das suas realizações e desafios".
Hanifa Adan, um proeminente manifestante da Geração Z, congratulou-se com o anúncio, escrevendo na rede social X: "O presidente do Quénia dissolveu o gabiente!!! O poder está sempre nas mãos do povo!!!".
As manifestações, em grande parte pacíficas, transformaram-se numa campanha mais alargada contra Ruto e o seu governo, com algumas manifestações a degenerarem em violência que causou dezenas de mortos.
Na semana passada, o líder queniano anunciou cortes drásticos nas despesas do governo, em resposta à crescente indignação com os orçamentos de viagens e de renovação do seu gabinete, enquanto os cidadãos lutam para fazer face a uma crise do custo de vida.
O governo terá também de aumentar o seu endividamento para pagar alguns serviços, quando se debate já com uma enorme dívida externa que ascende a 70% do PIB.
A crise levou a agência norte-americana Moody's a baixar ainda mais a notação da dívida do Quénia para a categoria de "lixo", alertando para uma perspetiva negativa, o que tornará os empréstimos ainda mais caros para o governo sem dinheiro.
A agência de notação disse que estava a cortar a notação da dívida pública queniana para Caa1 - considerada como tendo "um risco de crédito muito elevado" - reflectindo a "capacidade significativamente diminuída" de Ruto para aumentar os impostos e reduzir a dívida.
Programas radicais
O empresário que se tornou político, ganhando as eleições em 2022 com a promessa de melhorar a sorte do homem comum, foi apanhado de surpresa pela profunda raiva do público em relação aos aumentos de impostos propostos, que se seguiram a uma ronda anterior de aumentos no ano passado.
O novo governo irá ajudá-lo a desenvolver "programas radicais" para lidar com o enorme peso da dívida do país, aumentar as oportunidades de emprego, eliminar o desperdício do governo e "matar o dragão da corrupção".
Para além de ter rejeitado o projeto de lei anual das finanças que incluía o aumento dos impostos, Ruto também procurou dialogar com alguns dos manifestantes, organizando um evento no X com jovens quenianos, na semana passada.
Mas isto não conseguiu apaziguar alguns manifestantes, que continuaram a pedir a sua demissão, utilizando a hashtag #RutoMustGo e organizando pequenos comícios em cidades quenianas.
A dívida pública ascende a cerca de 10 triliões de xelins (78 mil milhões de dólares), cerca de 70% do PIB do Quénia.
A decisão do governo de contrair mais empréstimos resultará num aumento do défice fiscal de 3,3% para 4,6%, de acordo com Ruto.
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