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Argélia mantém-se imune às revoluções vizinhas


Polícia detém manifestante, esta semana, em Argel.
Polícia detém manifestante, esta semana, em Argel.

Regime promete reformas, reprime manifestações e evita os tumultos da Líbia, da Tunísia e do Egipto

A Argélia está fervendo com a mesma mistura tóxica de descontentamento político e econômico que explodiu em revoluções pelo Mundo Árabe. Mas não neste país do norte da África, onde os esforços para aumentar os protestos populares fracassaram.

Mais um esforço fracassado de organizar um protesto anti-governo na Argélia. Desta vez, em frente à principal agência dos correios, no centro da capital Argel. Foi anunciado na rede social virtual Facebook como uma marcha jovem, que levaria milhares às ruas. Mas, apenas algumas dezenas compareceram e foram rapidamente dispersados pela polícia. O ódio popular derrubou os presidentes nos vizinhos Tunísia e Egipto, este ano. Protestos públicos sacudiram ainda outros países árabes, como Bahrein, Iémen, Jordânia, Síria e Líbia, e ainda o Marrocos, forçando alguns regimes a prometer reformas e outros a reagir com repressões brutais. Há insatisfação também na Argélia, que levaram Tariq, de 30 anos, a participar da manifestação anti-governo.

“Nós simbolizamos o fim da corrupção, da opressão e do roubo do Estado. Queremos uma melhor distribuição da riqueza e queremos programas mais estruturados para a juventude e não o dispêndio dos fundos públicos, como se tem assistido.”

Protestos contra o alto preço dos alimentos mataram cinco e deixaram cerca de 800 feridos em Argel, em janeiro. Desde então, tiveram início manifestações em diversas partes do país, mas a oposição não conseguiu se unir num único movimento por mudanças e poucas pessoas participam dos eventos organizados semanalmente. Said Saadi, líder do partido de oposição, acredita que os protestos ainda ganharão corpo.

“Dois cenários. Seja um movimento de rua durável que acabará por obrigar o poder a compreender que houve um fim do ciclo histórico e que dará início a uma nova perspectiva e uma nova visão. Ou o poder se fechará por medo e penso que a Argélia poderá explodir.”

Mas para a jornalista Ghania Lassal, que trabalha no jornal independente El Watan, muitos ainda têm medo da violência que os protestos podem gerar.

“Eles querem democracia e mudanças, mas infelizmente não estão ainda prontos para investir seu tempo e energia, e sangue se necessário, para lutar por essas mudanças.”

O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, prometeu reformas. Em fevereiro, ele suspendeu um estado de emergência que já durava por 19 anos. Mas a opressão aos protestos na capital permanece. Apesar das críticas feitas pelo vice-presidente do Parlamento argeliano, de que o governo estaria falhando em melhorar a vida do cidadão comum, o ministro das Comunicações, Nacer Mahel, declarou:

“Sim. Nem tudo vai muito bem na Argélia. É necessário fazer mais esforços. É importante ouvir as demandas da população jovem. Posso citar centenas de casos. Mas a Argélia já desfruta de algumas liberdades, incluindo uma imprensa vibrante.”

Se a população irá se conformar com a situação, somente o futuro poderá mostrar.

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