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Moçambique assinala 21 anos de paz


Paz atraiu muitos investimentos em Moçambique
Paz atraiu muitos investimentos em Moçambique

O analista político Lázaro Mabunda afirma que Moçambique teve a paz mas não a reconciliação e daí a tensão política que se vive no país.

Moçambique assinalou hoje 21 anos de paz numa altura em que analistas dizem que não são as querelas entre o governo e a Renamo, signatários do Acordo Geral de Paz, em 1992, que podem conduzir ao retorno á guerra, mas a pobreza, a exclusão social e outros aspectos socioeconómicos que não foram devidamente geridos.
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A Renamo não participou na cerimónia de Estado realizada na capital moçambicana, e diz estar a promover, á escala nacional, encontros de reflexão sobre a situação sociopolítica do país. Rahil Khan, quadro sénior da Renamo, disse á Voz da América que da reflexão feita, concluiu-se, por exemplo, que a justiça em Moçambique funciona para uns e não funciona para outros, e o medo está a instalar-se no país.

Para o reverendo Marcos Macamo, Secretário-Geral do Conselho Cristão de Moçambique tal reflexão deve ser alargada a todos os sectores da sociedade moçambicana, de modo a evitar o retorno à guerra, porque a dos 16 anos foi tao cruel, quanto sangrenta.


O director do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, António Gaspar, disse que nestes 21 anos de paz, o país registou avanços significativos.
“Do ponto de vista politico, penso que 21 anos de paz criaram uma plataforma para o diálogo e entendimento entre os moçambicanos. A reconstrução do país em tempo de paz foi muito rápida”, afirmou aquele académico.

Na sua opinião, do ponto de vista social e económico, há números que dizem, claramente, que Moçambique é um dos países onde o crescimento rápido se faz notar, e isso criou apetite para qualquer investidor.
Gaspar afirmou ainda “temos hoje muitas empresas estrangeiras, com enormes investimentos, e isso tem efeitos sociais, cria postos de trabalho para as pessoas, e esse crescimento de sete por cento é exemplo disso”.

A uma pergunta se a perturbação registada este ano no centro de Moçambique não constitui uma ameaça á paz, aquele académico respondeu que “ao longo dos 21 anos, uma das coisas que aconteceram, quando se chega próximo às eleições, são as ameaças com retorno á guerra por parte da Renamo, só que desta vez chegou-se a um ponto extremo que ninguém acreditava”.

“Penso que o bom senso prevaleceu, e é por isso que o diálogo está aí, ainda que seja a passos de camaleão. Aquele tipo de perturbação que tivemos é próprio da vida humana; repare que mesmo um casal tem tido brigas e na vida política é o mesmo, sobretudo quando é um Governo e uma parte que tem armas”, explicou.
Afirmou acreditar que um dia esta situação seja eliminada, “porque a guerra não interessa seja a quem for, e o povo já disse: não á guerra, e esperemos que o diálogo possa produzir algum consenso que elimine, uma vez por todas, aquela situação de Muxúngoé”.

Para o professor universitário Calton Cadeado, os 21 anos de paz que Moçambique assinala hoje representam um ganho histórico para África, porque são poucos os países africanos que tiveram o fim de um conflito armado e conseguiram manter a paz durante muito tempo, sobretudo pela magnitude que teve o conflito moçambicano.
“No meio dessa turbulência, chegou-se á conclusão de que é preciso fazer muitas coisas para a preservação da paz, e quanto a mim, ela tem mais a ver com os benefícios que as pessoas têm do que propriamente com os benefícios nos quais os políticos insistem”, realçou.

Cadeado afirmou acreditar que que a actual aposta de Moçambique seja a de usar o caminho do desenvolvimento económico para consolidar a paz, quando antes se capitalizava o aspecto politico.
Para o académico, a perturbação política que se tem registado no país pode por em causa a paz, mas esclarece que ela tem sido posta em causa desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, “só que este ano, a tensão política assumiu uma magnitude que nós nunca tivemos antes”.
Na sua opinião, as ameaças sempre existiram, ”inclusive a pobreza, a marginalização, a exclusão intencional ou não, sendo por isso que eu digo que não há fim para fazer acções tendentes a manter a paz, que ajudem a manter a coesão sociopolítica e que garantam que não haja uma fragilidade na nossa unidade nacional”.

Segundo Calton Cadeado, a turbulência política registada este ano em Moçambique “foi um momento particular, porque, quanto a mim, não é este o aspecto principal que vai por em causa a paz; se houver uma ameaça séria que nos leve ao retorno á guerra, esta tensão política, vai servir apenas como uma gota de água no oceano”.
“O que mais conta para mim não são estas pequenas querelas entre a Renamo e o Governo; são outros aspectos socioeconómicos que nos podem conduzir a situações mais complicadas”, frisou.

Lázaro Mabunda, politólogo, diz que nestes 21 anos, Moçambique teve paz mas não a reconciliação, e daí a tensão política que se vive no país.
Na cerimónia realizada esta sexta-feira, em Maputo, o presidente moçambicano, Armando Guebuza, reafirmou o compromisso do Governo de continuar a dialogar com a Renamo e outras forças vivas da sociedade, para a preservação da paz.

Ramos Miguel, VOA-Maputo
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