A ala militar da Renamo ameaça acionar o seu último plano para impor transparência e diálogo no partido, dois dias depois de submeter ao Tribunal Judicial da cidade de Maputo, uma providência cautelar contra o presidente do Partido, Ossufo Momade
Os ex-guerrilheiros do que até agora maior partido da oposição em Moçambique, dizem que a Renamo se está a desmoronar, como consequência de ausência de diálogo interno em sete anos de gestão de Ossufo Momade.
Eles exigem uma reunião urgente do Conselho Nacional alargado aos desmobilizados, transparência das contas do partido e a destituição do líder.
“Quando há falta de transparência da liderança, os membros e o povo optam pela desconfiança. O grupo dos combatentes quer a realização do Conselho Nacional alargado aos combatentes para uma reflexão total da casa, porque a casa está a se destruir”, precisou João Machava em declarações à Voz da América justificando a providência cautelar contra o líder.
Machava acusou o líder de participar em encontros secretos para negociar as eleições e de desmandos, além de violação sistemática dos estatutos do partido.
O também ex-fundador da desaparecida auto-denominada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo, morto em 2021 na Gorongosa, afiançou sem dar detalhes que “quando a justiça não funcionar vamos ativar um outro plano e este não vai falhar”.
O antigo comandante da ex-guerrilha, que participou das três “invasões” à sede nacional da Renamo nos últimos dois meses, acrescentou que várias tentativas para forçar uma linha de diálogo fracassaram, mesmo depois de se criar uma comissão dos ex-guerrilheiros, a pedido da direção do partido, e se nomear um intermediário.
“Eu digo francamente que fracassou, que até ontem (sábado 04) não tinha informação sobre o diálogo, mas só porque submetemos a providência cautelar no Tribunal na sexta-feira, 3, hoje (domingo 5), um intermediário do partido é que diz que as pessoas do diálogo estão a se preparar, para nos contactar”, acrescentou.
Ponderar reivindicações
Por sua vez, Josefo de Sousa, o general da Renamo tido como aliado de Ossufo Momade, apesar de discordar de recursos judiciais para tratar assuntos internos da Renamo, insiste que os ex-guerrilheiros são renegados ao último plano, o que degenerou na atual insatisfação.
“Se não dá ouvidos aos desmobilizados, considerando-os de analfabetos, enganam-se, e cada vez mais esta organização vai abaixo”, vincou Josefo de Sousa em declarações por telefone à Voz da América, realçando que “esse partido que tanto sacrificamos, essa democracia que está a se gritar em Moçambique foi graças a estes que estão sendo desprezados hoje”.
O general que foi dado como morto em 2019, supostamente após ser mantido numa base da Renamo por Ossufo Momade, enfatiza que não se alia ao grupo contestatário, mas apoia a causa para salvar a organização, que deve se reorganizar nas condições em que foi penalizada nas eleições gerais de outubro.
“Sacrifiquei a minha vida não é para assistir essas brincadeiras aí. Sacrifiquei a minha vida também não é para não ser ouvido, porque a pessoa não pode ser medida à palma da mão, quando você mede o homem igual à palma da mão, acaba gerando conflito e (é) isso que estamos a assistir”, asseverou.
Renamo diz não ter conhecido da providência cautelar
Sousa apelou à união da Renamo e à ponderação da “direção do partido (que) devia agora tentar analisar pelos resultados penosos que tivemos e vamos ter mais se agente não nos unir”.
Entretanto, citado pela estatal Rádio Moçambique, o chefe-adjunto nacional de Mobilização, Domingos Gundana, diz que o Partido desconhece o assunto da providência cautelar.
A Renamo foi o partido mais penalizado com os resultados das últimas eleições gerais, e perdeu o estatuto de maior partido da oposição para o Podemos, que se estreou nas eleições gerais de 2019, segundo os dados do Conselho Constitucional.
A Voz da América tem tentado contactar a Renamo para uma reação, mas ainda não foi possível.
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