Sobreviventes e familiares de pessoas desaparecidas após o 27 de Maio de 1977 relataram à Voz da América os horrores por que passaram e a angústia que ainda vivem por não saberem o que aconteceu aos seus pais e irmãos presos e “desaparecidos”.
Eles disseram que é preciso haver um “mea culpa” dos responsáveis e que a comissão de reconciliação deve estar activa em todas as províncias do país.
As estimativas das mortes ocorridas após os confrontos em Luanda no 27 de Maio de 1977 variam entre as 30.000 e 100.000 pessoas.
Civis, militares, músicos, foram apanhados na onda de repressão que se seguiu com pessoas torturadas e massacradas em redor do país por alegada associação com “fraccionistas”.
Osvaldo Urbano de Castro "Urbanito" de 48 anos de idade é filho do músico Urbano de Castro, que segundo "Urbanito" foi preso em casa e desapareceu: “Nesse dia sei que Urbano de Castro não refilou e foi livremente e desapareceu até hoje”.
“Mataram o meu pai, e hoje gostávamos de saber qual é a razão que os levou a matar o meu pai”, disse.
Já Nelito Ramalhete antigo preso político e sobrevivente dos massacres do 27 de maio diz ter perdido dois irmãos.
Ele fazia parte da Nona Brigada que se envolveu em tiroteios com a Guarda Presidencial, mas Nelito Ramalhete responsabiliza a Guarda Presidencial: “Fomos para cobrir uma manifestação e ninguém me contou isto, eu estive lá”.
“O nosso grupo, ninguém fez nenhum tiro, eles é que atiraram primeiro contra o povo”, acrescentou.
Para Moisés António da Silva “Marçal” de 63 anos de idade, na referida data houve uma manifestação popular em que milhares de pessoas dirigiam-se ao palácio onde muitos foram presos e depois torturados e mortos.
“Ainda tenho sequelas não consigo ficar 30 minutos de pé, foi horrível”, disse recordando as agressões a que os presos foram submetidos quando foram levados para outra província.
João Sebastião disse que o seu irmão, o músico Artur Nunes foi preso e nunca mais foi visto: “Eu sei que ele foi morto a sangue frio”, disse.
Francisco Rasgado perdeu três irmãos e disse que “a chacina levou entre 50 a 100 mil pessoas”.
“Por favor, tenham coragem de analisar as coisas com olhos de ver!’’, pede o jornalista.
Para Rasgado a comissão de reconciliação formada no ano passado pelo Presidente João Lourenço devia operar em todas as províncias.
Para ele é preciso “estar no terreno com consultas a todas as vítimas”.
O activista cívico Louro Dias, filho de um ex-preso político e sobrinho do comissário de Benguela à data dos factos, Ngungu Arão, diz que esteve detido durante algumas horas e confessa que chegou a temer pelo pior.
‘’Foi nesse dia, há 43 anos, que a ‘porca devorou os seus próprios filhotes’, mais de cem mil mortos, atirados para o mar, abatidos à queima-roupa”, disse Dias para quem os presos estiveram em campos “semelhantes ao de Hitler, na Europa”.
“Foi terrível, não dá para esquecer’’, acrescentou.