A organização Médicos Sem Fronteiras diz que em poucas semanas, no final de Janeiro, registou-se um novo pico de ataques e violência em Cabo Delgado, causando uma vaga de milhares de pessoas deslocadas, a maior registada nos últimos meses.
Analistas políticos advertem que se não for resolvida a componente da presença militar e se não forem alocados mais meios à força da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Cabo Delgado, vão se assistir a novos ataques jihadistas nos distritos donde tinham sido expulsos.
De acordo com os MSF, mais de 20 ataques a quatro aldeias danificaram 2.800 casas no distrito de Maluco e na zona sul do distrito de Macomia e provocaram a fuga de pelo menos 14 mil pessoas.
O jornalista e analista Fernando Lima diz que há um problema securitário em Cabo Delgado, que resulta da fraqueza das forças da SADC, o que significa que depois de uma primeira ofensiva das forças que combatem o terrorismo naquela província, os jihadistas estavam na defensiva.
Lima anota que "essa ofensiva já terminou e os jihadistas reorganizaram-se e estão a actuar com cada vez maior intensidade nas zonas, onde não é forte uma presença dos aliados militares de Moçambique, sobretudo da SADC, uma vez que não se registaram até agora incidentes nas zonas controladas pelo Ruanda".
O problema, no entender daquele analista político, é que a força da SADC tem menos de um terço dos homens que foram estimados pelo estudo preliminar feito antes da presença das tropas no terreno.
"Se esta componente de presença militar não for resolvida e também se mais meios não forem alocados à força da SADC, vamos assistir a mais ataques nas zonas que foram confinadas à força da SADC", alerta Lima.
Para o sociólogo Francisco Matsinhe, a solução passa também por a SADC aumentar o número de tropas em Cabo Delgado, porque, "estamos a falar de uma província enorme, e não se pode esperar muitos milagres de uma força de cerca de três mil homens".