A recente escalada de ataques de grupos armados ligado ao Estado Islâmico fez ressurgir uma vaga de deslocados da região norte para o sul de Cabo Delgado,que há muito não se via.
A esta escalada, junta-se a passagem do ciclone “Chido”, reacendendo o difícil drama humanitário. na província afetada pela insurgência desde outubro de 2017.
Deslocados do conflito e organizações humanitárias descreveram à Voz da América nesta quarta-feira, 18, um “caos humanitário”.
Salimo Abdul, de 43 anos, fugiu do mais recente ataque na aldeia de Miangaleua, no distrito de Muidumbe a 11 de dezembro e chegou à vila de Chiure no sábado 14, um dia antes do ciclone “Chido” se abater sobre a área e deitar abaixo a única palhota para seu abrigo.
“A situação não está nada bem, este ciclone criou mais danos, mais prejuízos, piorando a situação”, numa altura em que os insurgentes continuam a atacar, disse Salimo Abdul, anotando que não existe quem possa estender a mão ao outro neste momento.
Sumila Zubaida, outra deslocada baseada em Mecufe, a zona mais atingida pelo ciclone, explicou que se permaneceu ao relento com os filhos debaixo da chuva, depois que o teto da sua casa foi arrancado pelo vento.
Drama humanitário
Entretanto, Manuel Nota, coordenador da Caritas em Pemba, descreveu a situação de grave, e realçou que 592 casas construídas para albergar deslocados de guerra foram deitadas abaixo e outros 2.795 num centro de reassentamento igualmente foram totalmente destruídas, desalojando os deslocados.
“Temos muita gente passando por dificuldades, esta a chorar”, precisou o ativista humanitário, que lançou vigorosos apelos para se reativar a assistência humanitária em Cabo Delgado.
“Estamos a precisar de apoios, são poucos atores humanitários com fundos aqui em Cabo Delgado. A situação de emergência e aquela que tende a desaparecer, já não há fundos para emergência, mas agora temos muitos necessitados precisando de apoio”, vincou Manuel Nota.
Novos ataques
Grupos armados atacaram a 11 e 12 de dezembro o posto administrativo de Chitunda (Muidumbe), onde centenas de pessoas permaneciam e resistiam a insurgência, decapitando pessoas e incendiando residências e barracas, forçando o abandono das aldeias.
O Estado Islâmico, através dos seus canais de propaganda, reivindicou ter morto duas pessoas nesse ataque e incendiado dezena de casas e barracas em Miangaleua, uma aldeia que fica entre duas posições militares, sendo uma das forcas governamentais e outro das Forcas de Defesa do Ruanda.
O resumo bissemanal do Cabo Ligado – de 25 de novembro a 8 de dezembro – que acompanha o conflito no norte de Mocambique, escreve que o Estado Islâmico de Moçambique (EIM) manteve-se ativo em sete distritos durante a última quinzena, embora de forma dispersa e se concentrado na pilhagem de bens.
O grupo de combatentes que marchou para o sul até a província de Nampula há duas semanas regressou ao norte, após atacar as aldeias no sul de Chiure, enquanto outros realizaram ataques em pequena escala nos distritos de Metuge, Mocímboa da Praia, Macomia, Meluco e Muidumbe, refere a publicação.
A 7 de Dezembro, os insurgentes atacaram as aldeias de Muaguide e Mairire no distrito de Meluco.
Em Muaguide, os insurgentes queimaram a esquadra da polícia e várias casas, e em Mairire o Estado Islâmico disse que queimou duas casas, de acordo com a mesma publicação, situação que forcou novas deslocações da população.
Eles realizaram outros ataques no dia 4 de dezembro em Macomia, a 6 de Dezembro queimaram sete casas na aldeia de Mungue, em Muidumbe, e no dia 7 de Dezembro numa aldeia a sul de Mocímboa da Praia.
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