Os terroristas que atuam em Cabo Delgado, norte de Moçambique, poderão expandir as suas incursões, enquanto as autoridades de defesa e segurança concentram a sua atenção na dispersão de manifestantes contra os resultados eleitorais, dizem especialistas.
Para responder às manifestações convocadas por Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado pelo partido PODEMOS, que reivindica vitória nas eleições de 9 de Outubro, Maputo reforçou a segurança com forças especiais.
Especialista em psicologia do terrorismo e contra-terrorismo, Ana Isabel Mota diz que os terroristas podem estar a aproveitar-se dessa dispersão para ocupar novas posições, realizar mais ataques e expandir a sua área de actuação.
Mota, que é coordenadora de Prevenção e Combate ao Extremismo Violento no Instituto de Psicologia da Paz de Moçambique, diz que está “bastante preocupada” com a forma “como estamos aqui a possibilitar uma janela de oportunidade aos terroristas”.
Para ela, “qualquer atenção dispersada neste momento é algo extremamente perigoso para Cabo Delgado e para Moçambique, no geral.”
Ana Isabel Mota receia que os ataques sejam mais intensos em distritos costeiros de Cabo Delgado, como Mocimboa da Praia, que chegou a estar ocupado por grupos terroristas durante largo tempo.
“Estas minas, estas explosões, cada vez mais frequentes, em Cabo Delgado, fazem parte daquilo que nós acreditamos ser a estratégia deles para fechar o território, que consideram ser do auto-proclamado Estado Islâmico de Moçambique,” diz Mota. “Eles estão a adoptar há uma ano a nova estratégia. Esta nova liderança veio para pôr ordem na casa, por assim dizer. E isso passa muito por consolidar posições,” acrescenta.
Enclave
O mesmo receio tem o sociólogo João Feijó, do Observatório do Meio Rural, que tem publicado muitos artigos sobre o conflito em Cabo Delgado.
Feijó vaticina que “isso vai significar um recrudescer dos ataques e vai significar uma intensificação daquele processo que já estava em curso de ‘ruandização’ da defesa em Cabo Delgado”.
Com os ruandeses a assegurar a estabilidade militar, diz Feijó, o exército moçambicano vai “ter um papel mais secundário, porque vai estar depois mais preocupado em garantir a segurança das capitais provinciais e enfrentar esta instabilidade dos corredores de transporte e por aí fora”.
Na sequência, acrescenta Feijó, “o que vai acontecer é que aquela região no norte vai-se tornar cada vez mais um enclave, cada vez mais uma zona administrada politicamente pelo governo de Moçambique, mas economicamente e securitariamente por interesses, por multinacionais e por um exército estrangeiro, e o governo de Moçambique terá um mero papel simbólico”.
O Bispo de Pemba, Dom António Juliasse Sandramo, está também muito preocupado. Afirma que os ataques, em Cabo Delgado, continuam, e que ainda há população deslocada e a sofrer, “e que o mundo também não se esqueça de oferecer ajudas de solidariedade para com esse povo que sofre já desde 2017 até agora”.
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