Cerca de um mês depois do golpe de estado na Guiné-Bissau o país continua mergulhado numa crise sem fim à vista.
Muitos guineenses confidenciaram entretanto à VOA que querem que os líderes militares responsáveis pelo golpe sejam levados à justiça.
Desde a tomada do poder em meados do mês passado que o edifício do ministério guineense da justiça se encontra praticamente vazio. O ministro da justiça fugiu, os funcionários não saem de casa e os processos legais aguardam nas prateleiras.
No momento em que a comunidade internacional debate o futuro da Guiné-Bissau e a possibilidade do envio para o país de uma força internacional de manutenção da paz, muitos guineenses são da opinião de que um sistema judicial inadequado esteve na origem do último golpe.
A União Europeia impôs sanções a seis dirigentes militares incluindo o chefe do estado-maior, general António Indjai.
O cidadão comum acha contudo que os líderes militares são corruptos e operam à margem do frágil sistema judicial do país.
Suspeita-se também de que os líderes golpistas continuam a ter acesso a fundos substanciais derivados do tráfico de drogas apesar das sanções económicas.
O governo americano acusou no passado dirigentes militares guineenses de envolvimento no tráfico de cocaína, actividade que segundo a ONU constitui uma das principais fontes de instabilidade na Guiné-Bissau.
Maimouna Bacar Sande é uma estudante do terceiro ano de direito. Ela afirma que no seu país os líderes militares e políticos raramente respondem pelas suas acções.
Maimouna Sande acrescentou que a crise no seu país é muito profunda. Segundo ela, depois dos vários golpes desde o fim da guerra civil, a única solução seria fortalecer o sistema judicial.
Essa opinião é partilhada pelo padre católico americano Michael Daniels, actualmente a trabalhar na catedral de Bissau.
Para além das suas actividades na igreja, o padre Daniels lidera uma iniciativa para a paz, a justiça e os direitos humanos.
Segundo ele não é feita justiça quando se fala dos dirigentes militares e políticos implicados no tráfico de drogas e nas violações de direitos humanos.
Enquanto isso as prisões do país estão cheias de pessoas acusadas de pequenos delitos e cujos casos ficam pendentes por tempo indeterminado no ministério da justiça. Segundo Daniels, “ as instituições do estado não funcionam e o próprio ministério da justiça acabou de encerrar as portas.”
Na sequência do golpe, os líderes militares chegaram a considerar a hipótese de libertar os detidos nas duas principais prisões do país simplesmente porque não tinham comida suficiente para eles.
Ultimamente o padre Daniels tem vindo ele própria a entregar alimentos aos presos. “ Compro eu próprio a comida, peço a uma senhora para cozinhá-los e depois distribuo-a a 30, 40 presos”, disse-nos ele.
Junto ao ministério da justiça encontramos o estudante de direito Justino Nhaga que fez o seguinte desabafo à reportagem da VOA: “a crise política só será ultrapassada quando for restabelecido um sistema judicial digno de crédito e quando os golpistas forem julgados”.
Cerca de um mês depois do golpe de estado na Guiné-Bissau o país continua mergulhado numa crise sem fim à vista.